Em entrevista ao DN, Miguel Maia desmente a tese daqueles que defendem que o orçamento do Sporting era muito superior ao do rival Benfica.

Que significado tem para si ter sido campeão nacional no Sporting há 23 anos e agora voltar a festejar?
Todos os títulos que conquistei são importantes, pois têm por trás muito trabalho. Já tinha sido campeão no Sporting e é maravilhoso. Mas, ao fim de tanto tempo, no regresso da modalidade, ser campeão logo no primeiro ano é algo indescritível. Ainda por cima fomos os primeiros campeões do Pavilhão João Rocha, que esteve completamente cheio. Foi memorável e vai ficar para a história. Sinto-me um felizardo, ainda para mais quando, diz o povo, nunca se deve regressar a uma casa onde já se foi feliz.

Ganhou títulos no Sporting, na Académica de Espinho e no Sporting de Espinho. Este pela forma como foi e aos 47 anos foi o mais especial para si?
Como já disse, todos os títulos são importantes, mas estaria a mentir se dissesse que este é mais um. Não é, por tudo o que acarretou este regresso à modalidade. Foi no meu clube, 23 anos depois, o primeiro título no nosso pavilhão completamente cheio a vibrar. Nunca vamos esquecer este momento!

Quando foi desafiado para este projeto o objetivo era o título nacional ou foram além das expectativas traçadas?
Este projeto foi construído para termos a modalidade ao mais alto nível e obviamente para alcançar títulos, é esse o ADN do Sporting. Trabalhando como trabalhamos, estamos sempre mais perto de alcançar o sucesso, e foi isso o que aconteceu: muito trabalho, muita dedicação, atitude e compromisso para com o clube.

Já referiu que este foi o primeiro título celebrado pelo Sporting no Pavilhão João Rocha. Fica feliz por ter sido o voleibol a registar essa marca?
Estou muito feliz por tudo o que isso representa. Mas tenho a certeza de que muitos mais serão festejados pelas nossas modalidades.

A final com o Benfica foi muito renhida e intensa. No último set, mesmo quando o Benfica chegou aos 14-13, sentiu sempre que iam ser campeões?
Estive sempre com a vitória no pensamento. Acreditei sempre, mesmo quando o resultado era desfavorável. Tem de ser este o espírito de quem representa o Sporting: acreditar até ao fim, lutar nos limites e ganhar!

Esperou alguma vez ter quase três mil pessoas num Pavilhão em Portugal a assistir a um jogo de voleibol?
No Sporting tudo é possível. Os adeptos são apaixonados pelo clube. Gostam e apoiam todas as modalidades. Eles foram mais um dentro de campo, deram-nos força quando parecia que ela não existia. Por isso é que o Sporting é um clube diferente.

Ficou na retina o grande abraço que deu ao presidente do Sporting após o ponto de campeonato. Que relação existe entre si e o presidente e qual foi a importância de Bruno de Carvalho durante a época?
É uma relação de amizade, de respeito mútuo e de acreditarmos muito um no outro. Além disso, somos os dois sportinguistas e damos tudo pelo nosso clube. O presidente esteve sempre ao nosso lado durante toda a época, deu-nos todo o apoio. Já tive oportunidade de dizer que, na véspera do jogo, esteve mais de uma hora a conversar connosco, dando-nos conselhos. Disse tudo o que precisávamos de ouvir. Só temos de agradecer a esta direção o facto de ter feito o voleibol regressar ao clube e de nos ter dado todo o apoio.

Bruno de Carvalho tem sido um presidente que não olha só ao futebol. É importante ter o líder a assistir aos jogos das modalidades e a investir fortemente sem ser só no futebol?
É um presidente único e que veio demonstrar que ama o Sporting. Ele não é o presidente do futebol, é o presidente do clube e prova-o todos os dias. Tem de olhar para todo o mundo Sporting e é o que faz. Olhar só para o futebol é de alguém que apenas quer aparecer e de alguém que se quer aproveitar do clube e não de alguém que ama o clube. Quantos presidentes estão permanentemente com todas as modalidades, sabem o que se passa, conhecem todos os atletas, resolvem problemas ou incentivam? Eu não conheço outro. Deve ser caso único no mundo.

Diz-se que o treinador Hugo Silva vai sair. Podemos ter Miguel Maia como treinador ou vai continuar a jogar aos 47 anos? Já tomou essa decisão?
O treinador vai sair?! Não me parece, porque é o melhor e os melhores têm de estar no Sporting. Eu tenho curso de treinador, mas sou atleta e quero continuar a sê-lo.

Sente que é um exemplo para os mais novos? Que relação tem com eles no dia-a-dia?
Sei que sou um exemplo e vou continuar a ser. A minha relação com os jovens é excelente, próxima, de incentivo à prática do desporto e do voleibol em particular.

Ainda sobre o campeonato, diz-se que o Sporting ganhou porque tem um orçamento muito maior do que o dos rivais. Que comentário lhe merece?
Em primeiro lugar, é mentira. Chegou a hora de as pessoas saberem que o orçamento do Benfica para o voleibol era o dobro do nosso. Ganhámos porque treinámos muito mais do que todos os outros. Meus amigos, entendam de uma vez por todas que o treino e a dedicação, a atitude e o compromisso é que levam ao sucesso. Esqueçam o orçamento, ajuda mas não é tudo.

Na próxima época quais serão os objetivos do Sporting? O bicampeonato ou tentar algo nas competições europeias?
Os objetivos serão ganhar títulos em Portugal e chegar às provas europeias. Continuar a dar tudo para dignificar o símbolo que temos ao peito.

Como desportista, certamente gosta também de futebol. Quem foi o jogador do Sporting que mais o marcou e qual aquele de que mais gosta atualmente?
Sim, sou um apaixonado por futebol. Existem muitos que me marcaram no Sporting. Douglas, Silas, André Cruz, Balakov, Jardel, Liedson, Acosta, Jordão, Manuel Fernandes, Futre, Figo, Peixe, Paulo Sousa, Damas e muitos outros. Deste plantel, destaco Bruno Fernandes, William Carvalho, Rui Patrício, Mathieu e Acuña.

Já agora… gostava de ver Ricardinho na equipa de futsal do Sporting na próxima época?
Tenho ouvido e lido muita coisa na comunicação social. Não sei o que é verdade ou mentira, portanto esse é um assunto sobre o qual não me devo pronunciar.