Sim. Estou ao lado de quem foi agredido. Não sou, nem nunca fui partidário de violência, seja ela qual for. A pouca lucidez que me resta impele-me a colocar-me ao lado de quem se torna, seja porque razão for, vítima de algum tipo de agressão.

Vou vos contar uma história, quando tinha uns 9 ou 10 anos, jogava num clube da periferia de Lisboa, fazia parte de uma pequena elite que calçava chuteiras, vestia aos fins de semana equipamento oficial, viajava de carrinha e tinha cartão de federado. Não era um predestinado, mas era esforçado e melhorava com os erros. Não era “material” de Sporting e sabia-o, o que não me impedia minimamente de sonhar com isso, apesar dos enxovalhos do mister. Por ser “jogador” e contrariamente às instruções do mister, jogava que me fartava na escola e fora dela. Por ser “jogador” do clube da terra era apontado nos recreios e baldios como um dos “bons” que cada um queria ter na equipa. Era vaidoso e mostrava perante os que não faziam parte do “clube” a minha superioridade em algumas áreas.

Um belo dia, numa tarde de Verão, fui convidado por um grupo de miúdos mais velhos a entrar num jogo. Hesitei, pois eram matulões de 13 ou 14 anos, mas perante os elogios “ah…mas tu és jogador, vais ajudar-nos a ganhar a estes palermas” lá fui convencido. Vou saltar detalhes para chegar ao fim da história. A coisa acabou mal. Perdemos o jogo e sem que soubesse havia uma aposta a saldar e todos deviam dar 25 escudos (o que seria hoje uns bons 3 ou 4 euros) à equipa vencedora. Como fui convidado e por ainda ter sido dos que mais correu, marcou e levou pau, achei injusto. Não paguei. Fui corrido à pancada e durante umas semanas tive evitar umas quantas ruas na minha terra.

Coisas de miúdos. É, não é? Pois digam-me o que aconteceu em Alcochete? Aquilo foi coisa de adultos? Aquela gente pensou no que ia fazer? Pensou nas consequências? Iam instruídos para dar uns empurrões e umas bofetadas, fizeram-no por conta própria? Foram retaliações por alguns insultos anteriores? Quanto mais penso nisto, mais perplexo fico. Desde quando ativos do clube, que custaram milhões de euros, ganham milhões de euros e podem valer muitos mais milhões de euros se tornaram num grupo de garotos a quem se aplicam correctivos? Está tudo louco?

As consequências do sucedido serão vastas e quem julga que o pior foram as mazelas nos jogadores, que pense melhor. Contratos, patrocínios, contratações de jogadores (dos 7 aos 30 anos), treinadores, o clube português da claque que agride jogadores ecoará bem para lá dos tempos imediatos e correrá o mundo desportivo. O Sporting sofrerá pesadamente com esta pequena façanha de alguém que se achou a autoridade competente para “colocar os jogadores no seu lugar”.

Terão ao menos noção do que fizeram? Alguma vez terão? Terá o CD a noção do que aconteceu? Do que deveria não ter feito para que chegássemos a este ponto? Conseguirá explicar como vamos justificar as possíveis rescisões de ativos da SAD, contabilizados em centenas de milhões de euros? Quem irá pagar a fatura? O que implicará no futuro e viabilidade da SAD? O que achará o CD como matéria da sua responsabilidade? O que achará ser responsabilidade da claque? Como vamos olhar no futuro para a Juve Leo? Tenho estas e mais umas 400 outras perguntas por fazer.

A entrevista de BdC era urgente, mas a resposta ficou aquém do que se esperava. Era preciso mais pulso, mais firmeza e mesmo sem ter posse de informação mais precisa, o que se sabia daria largamente para se ter colocado mais ao lado das vítimas e menos preocupado com o que é dito ou desdito na imprensa. Os sócios querem também saber o que irá ser o futuro e o que o CD está capaz de garantir. Só assim poderemos medir as condições actuais destes Orgãos Sociais, só assim poderemos ficar pacificados.

Termino como comecei. É preciso que a voz de cada Sportinguista se faça ouvir. As redes sociais são um bom veículo e usem-no até ao limite. Partilhem mensagens com os jogadores através dos seus perfis de Instagram, Twitter e Facebook, façam por mostrar que o Sporting não são aqueles 50. Que vocês não são aqueles 50. Que estamos ao lado deles nesta hora. Que estamos #AoVossoLado!

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca