Não nasci do Sporting! Como ninguém nasce de clube nenhum! Tive equipamentos de outros clubes, porque sim, porque me ofereceram e porque enquanto não te transmitem ou ensinam o que é ser, és do que te dizem para ser. Não me fiz do Sporting por os meus amigos o serem.

Se houve coisas boas que o meu avô fez, foi ensinar-me a ser do Sporting Clube de Portugal. Não me ensinou que o mais importante era a vitória a qualquer custo, mas sim os momentos de glória alcançados por quem trabalhou para lá chegar, como por exemplo do Agostinho ao Chagas. Marco, que fez questão de me apresentar, assim como o Carlos Lopes, já campeão olímpico, quando eu ainda era petiz, enquanto relatava os seus feitos e me deixava cheio de orgulho e olhos arregalados e a si também orgulhoso por me estar a ensinar a ser verde e branco. Levou-me a Alvalade e carimbou a minha formação sportinguista. O meu avô não pediu para eu ser do Sporting. O meu avô fez-me do Sporting!

Esforço, Dedicação, Devoção e Glória – Foi isto que o meu avô me ensinou! (a Glória não é a vitória a qualquer custo – é o prazer eterno da superação própria, da elevação das capacidades de qualquer um e o reconhecimento externo do Esforço, Dedicação e Devoção). Ensinou-me e mostrou-me que éramos diferentes, respeitadores e elevados! Levou-me ao Jamor no dia fatídico do very light, mas nunca se deixou toldar pela anormalidade ali passada, e com a sua calma, reforçou isso mesmo, que somos diferentes e que aquilo não tinha sido um ato de um clube, mas sim de um anormal.

Quem me conhece sabe o quanto sofro pelo Sporting, o quão doente eu fico quando perdemos, mas sabe também qual é a minha postura perante isso. Fiz-me sócio quando tive condições para isso. E fiz o meu filho sócio quando tive as mesmas condições para o fazer e depois de começar a ensinar o que a meu ver é ser do Sporting Clube de Portugal! Quis e continuo a querer fazer o meu filho do Sporting Clube de Portugal, quis e continuo a querer ensinar-lhe o nosso lema, que tanta falta faz às gerações vindouras que têm os olhos colocados na Glória, esquecendo-se do caminho necessário para lá chegar… o Esfoço, a Dedicação e a Devoção.

Quis e quero continuar a levar o meu filho a Alvalade, naqueles fins de tarde dourados com cheiro a castanhas, a cerveja e couratos, para ver os rapazes de verde e branco a jogar, enquanto come um Magnum de amêndoa ou uma pipocas! Quero continuar-lhe a mostrar que devemos e queremos todos ganhar e que devemos de exaltar de alegria quando isso acontece, mas que por vezes nem tudo corre bem e que outros se superiorizam. Quero continuar a ensinar-lhe que não devemos colocar as culpas nos outros para os nossos falhanços. Quero ensinar-lhe que devemos apoiar quando estamos a lutar para ser campeões, ou quando simplesmente estamos a tentar não cair na zona de despromoção. Que todos os jogos são para dar o máximo e que o resultado final de um jogo ou de uma época, não depende só de nós. E senti um orgulho enorme, quando me pediu que lhe comprasse uma bandeira do Sporting! Aquela que aqui orgulhosamente agita, num dia dourado, de apoio à verde e branca!

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Hoje estou profundamente envergonhado com o que 50 pessoas e outros omnipresentes fizeram ao meu clube, ao futebol e ao desporto nacional num par de horas, sem filtro algum, sem racionalidade. Estas 50 pessoas não são do Sporting, não são amantes do futebol e tão pouco do desporto. Servem-se destes mercenariamente para promover e distribuir violência gratuita.
Hoje estou profundamente angustiado porque tive de explicar ao meu filho de 6 anos, que o Sporting e historicamente os sportinguistas não são isto. Que estas 50 pessoas e os seres omnipresentes fizeram um mal tremendo ao Sporting em nome da Glória gratuita, fácil e sem adversidades, que não chegou como esperariam.

Tive de explicar ao meu filho que independentemente de tudo, para o ano lá estaremos a apoiar, sempre que possível o nosso clube e ajudá-lo a superar desportivamente as adversidades e a lutar pelos seus objetivos. Seja, ser campeão, não descer de divisão ou até reerguer o Sporting da última divisão distrital se tiver de ser. Porque o clube, o símbolo e o seu lema valem muito mais do que a atividade criminosa deste grupo de cobardes.

O seu ídolo é o Rui Patricio, aquele que nos defende há 13 anos, por quem gritamos: Ruuuiiiii! Aquele que, estes e outros ignorantes, nas redes sociais responsabilizam por não sermos campeões. Tive de lhe explicar, que o Rui, falha como todos, com a diferença que falha muito menos e que nunca poderá ser o culpado. O Rui, representa bem o Esforço, a Dedicação, a Devoção e consequente Glória. O Rui teve de superar tudo no Sporting e é isso que eu quero que o meu filho aprenda!

Sinto-me desonrado! Traído! Abandonado e Roubado! Sinto-me triste, muito triste, pelo meu clube, pelo futebol, pelo desporto e ainda mais pela cultura desportiva, ou falta dela, da sociedade portuguesa atual e não consigo definir até que ponto não me sinto igualmente triste pela própria sociedade de uma forma global.

O principal culpado de tudo isto chama-se Bruno de Carvalho, que começou bem o seu mandato, que fez muita coisa boa pelo Sporting, mas que a ânsia da Glória, não lhe toldou o discernimento dia após dia e o fez, exponencialmente, se ir esquecendo das três outras palavras do nosso lema. A sede de ganhar, fê-lo se esquecer do que o levou ao Sporting, e do que é ser do Sporting! Bruno de Carvalho, tinha tudo para ser um excelente presidente, teve a grande maioria de nós com ele, mas não soube lidar com isso e foi perdendo apoiantes ao longo dos seus desvaneios… e ontem perdeu a grande maioria dos restantes e deve sair antes que o estrago para o clube seja ainda maior. Pois a sua cegueira de glória, não lhe permitiu enxergar a dimensão do rombo emocional, reputacional e acima de tudo financeiro que o clube sofrerá nos próximos tempos, à custa dos seus atos declarados ou omnipresentes. A mim tinha perdido o resquício da confiança que ainda depositava em Madrid! Não aprendeu e não aproveitou a lição de sportinguismo que Jorge Jesus e os jogadores lhe deram, assim como o balão de oxigénio para se reencontrar.

Mas estou triste, porque a culpa desta cereja estragada e bem amarga, em cima de bolo bafiento, não é só dele. É de todos! O que aconteceu na academia, esteve perto de acontecer no ano passado no Olival, e não fora os da Luz serem tetracampeões e estaria igualmente perto de acontecer… tudo porque as cúpulas querem ganhar a qualquer custo, esquecem-se que são 18 equipas a lutar por um lugar no campeonato em que não podem todas ganhar, ou descer, ou ir à Liga dos Campeões. Porque estimulam o ódio através dos seus gabinetes de comunicação, de dirigentes e de infiltrados diariamente na comunicação social. Comunicação social que se alimenta tal como um abutre desta carne que apodrece, e que estimula a morte para mais carne comer e mais dar a comer a um conjunto de desempregados que mais não sabem do que opinar.
Aqueles que hoje dizem orgulhosamente, eu avisei, ou eu sabia… esquecem-se de olhar para dentro e não se aperceberam que a fogueira estava acesa e que era uma questão de tempo para saltar uma fagulha e deflagrar num fogo imenso em qualquer uma das casas. Que as vitórias têm tido o dom de pôr água na fervura. E que sabe-se lá à conta de que água têm vivido essas mesmas vitórias.

Estou ainda mais triste porque nos facebooks das internets não se brinca com o futebol. Destila-se ódio entre conhecidos, entre amigos e até entre familiares. Porque se levanta o dedo de uma mão a dizer que só os maiores e o dedo da outra mão se aponta aos restantes em maldoso desdém. Basta ler meia dúzia de posts partilhados e replicados vezes sem fim e os comentários ali colocados. Ou ler os comentários nas notícias dos jornais online.

É triste ver pessoas que considero inteligentes, algumas com cargos públicos e políticos, fazerem parte desse conjunto de pessoas que apenas partilha a acusação gratuita, a ofensa, as suspeitas, a desgraça dos demais. É triste ver a falta de cultura desportiva desta nossa sociedade, propagada por tantos ex-desportistas, mais ou menos profissionais e seus dirigentes. É triste e faz-me ter ainda mais receio, do que aquele que tenho diariamente, no futuro da nossa sociedade desportiva e acima de tudo nos valores que os mais jovens trazem e esperam do desporto.

Querer ganhar é bom e essencial ao espírito desportivo! Saber o que custa ganhar, que perder faz parte do processo e que muitos perdem muito mais do que ganham, é ótimo! Ter a determinação e a perseverança para lá chegar é excelente! Compreender que a glória só depende da superação de si mesmo, ou das capacidades das equipas, isso então é uma raridade cada vez menos encontrada!

Que sejam todos punidos severamente! Os agressores, os mandatários, os facilitadores, os coniventes. Que sejam punidos os corruptos que compram vitórias. Que sejam investigadas em sede própria todas as suspeitas levantadas: do Andebol, das Toupeiras, da Fruta. Mas que sejam mesmo. Que seja reestabelecida a fé no desporto e no futebol! Não vale a pena querer que o clube adversário seja punido e assobiar para o lado quando a suspeita é dentro de nossa casa. Faça-se justiça, sem medo!
A todos os que leram até aqui… Obrigado! Se quiserem comentar, estão à vontade, mas agradeço que não deixem piadas. Pois é tudo demasiado grave para se brincar com isto tudo.

Acabo como comecei: Estes merdas não são do Sporting, aliás não são de nada.
Se pudesse, estaria no domingo no Jamor, para apoiar a verde e branca e quem quer a tenha vestida. Não posso, e até vou estar a competir contra o sporting noutra secção, onde ainda somos todos amigos, mas vou estar a sofrer e muito. Vou presar por continuar a tentar transmitir ao meu filho o significado do Esforço, Dedicação, Devoção e Glória! Vou continuar a apoiar, nem que o Sporting tenha de renascer da última divisão da Associação de Futebol de Lisboa.

ESTE POST É DA AUTORIA DE… Fernando Gaspar, pai do Simão, o orgulhoso ostentador desta camisola e da sua bandeira do Sporting Clube de Portugal

*às quartas, a cozinha da Tasca abre-se a todos os que a frequentam. Para te candidatares a servir estes Leões, basta estares preparado para as palmas ou para as cuspidelas. E enviares um e-mail com o teu texto para [email protected]