Não fomos nós.
Não foi nenhum dos que assobia a meio do jogo, que perde a paciência na bancada, que odeia o vosso futebol, que reclama depois de mais um péssimo resultado.
Não foram os românticos, nem os sempre descontentes, nem os que não dormem antes de um jogo, nem os que se deixam ficar à chuva para comprar bilhetes.
Não foi nenhum dos que grita o vosso nome depois de um golo, nem o que sai mais cedo para não apanhar trânsito.
Não foram os das teorias das conspirações, nem os demasiado politicamente correctos, nem os que escolhem a Curva Sul, muito menos os da Curva Norte.
Não foram os que levam os seus filhos à bola.
Não foram os que percorreram milhares de quilómetros para celebrar convosco, não são os que no fim vos deixam sair do estádio mais bonito do mundo entre aplausos.
Não foram os adeptos que não celebram um título de campeão há 16 anos. Nem os que já contam os trocos para vos apoiar na final da Taça, nem os que foram até Braga ver o William marcar o golo que nos daria o primeiro título em muito tempo.
Foram outros. Porque os sportinguistas gostam de desporto, gostam de ganhar e frustam-se na derrota mas têm no Sporting a fonte de toda a dedicação do mundo.

Por muito sofrida que a mesma possa parecer em tempos, somos uma família. Uma família disfuncional, cheia de problemas e com demasiadas interrogações para o futuro. Mas ainda assim, uma família que sobrevive pelo amor. Nenhum sportinguista (nenhum mesmo) se revê em nada do que aconteceu nas últimas horas. Precisamos que todos vocês saibam isto. Deste lado, a sofrer na ignorância e sem saber até que ponto não nos devemos culpar, estão milhões de almas tristes, envergonhadas e com vontade de vos dizer que não fomos nós.

Qual foi o momento em que tudo isto se extrapolou? Quando é que deixámos que os valores do nosso clube fossem sobrepostos pela incessante vontade de vencer a todo o custo? Quando permitimos que gente desta se pudesse relacionar sequer com o nome Sporting Clube de Portugal?

Quero apenas que saibam que depositam nos vossos pés os sonhos de muitos leões. Que sabemos a frustração, a raiva e a vontade de abandonar este barco de loucos que agora têm uma nova face, até aqui desconhecida. Tiveram o nosso apoio sempre, mesmo no dia em que nos tivemos de nos atirar ao homem que elegemos para vos liderar. Olhamos para o nosso clube com espírito crítico mas sabemos que ao fim do dia vocês são os nossos ídolos, as nossas referências, aqueles que vale a pena torcer.

Por favor saibam: não fomos nós. E fiquem por todos aqueles leões que terão esta vergonha na história do clube que vão apoiar a vida toda. Para vocês é momentâneo. Para nós até morrer!

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa