Há 3 questões fundamentais neste momento e rodeando o futuro do Sporting. A primeira e talvez a mais importante é a governabilidade do próprio clube. A segunda, as rescisões possíveis no plantel e a terceira, o ressurgimento de facções de oposição externa. Vamos a isto.

1/ Estes Órgãos Sociais têm condições para finalizar, como estão agora, o seu mandato?
A resposta é não. Um rotundo não. Depois de demissões em barda um pouco por todas as mesas e especialmente depois do zigue-zague da MAG e CFeD, há no mínimo que entender que a representatividade das mesas foi profundamente abalada. O mapa do OS que restam e os que ficaram apenas para tudo caia assim que possível, recomenda a que no mínimo se realize uma eleição para as mesas que se apresentaram como demissionárias. No máximo, teremos de regressar a eleições.

Não tendo conhecimentos jurídicos, remeto-me à minha ignorância para passar julgamentos. Mas expresso aqui a minha opinião que têm de ser levantados processos internos para atestar várias culpas, entre as quais destaco: qual a responsabilidade do CD nas agressões da Academia e qual a culpabilidade do clube nos casos das denúncias de corrupção no andebol e futebol. Pergunto-me como é que alguém será capaz de pedir a demissão do CD antes de existirem estas aferições? É o CM e a CMTV que julgam os nossos dirigentes? Iremos para eleições porque o Octavio Ribeiro e o Octávio Machado nos dizem para ir?

Lamento desiludir quem tem opinião contrária, mas nenhum presidente leonino merece em caso algum ser julgado por canais de televisão e jornais. Nem sobre Godinho Lopes permitiria tal coisa. É para mim questão de honra que são os que elegem que demitem, não quem ganha dinheiro com as polémicas no nosso clube (tantas vezes até inventadas por eles). Se o permitirmos, será difícil que alguma presidência se sustente no futuro, sabendo que é escrava da opinião pública e dos seus julgamentos mediáticos.

Lamento ainda mais que tantas pessoas se tenham demitido das funções que foram eleitas sem que tenham dado uma satisfação aos sócios. “Não me revejo na atual direcção” ou “Factos graves levam a esta decisão” são sinceramente razões incompletas, faltando relatar os factos que originaram a demissão. Quando se é eleito para o Sporting, não é para “rever” nada, nem para silenciar “factos graves”. É se eleito para trabalhar em prol do clube e não para passear vaidades pessoais. Se havia matéria grave, onde está? Porque não dão satisfações a quem os elegeu?

2/ As rescisões dos jogadores são possíveis? A justa causa pode ser encontrada?
Tal como tinha dito antes, não posso dar mais do que a minha opinião, usando do máximo de bom senso. Sim, a rescisão é possível. Mas não é desejável por nenhuma das partes. Tanto SAD como jogadores, tenho a certeza, tudo farão para que não se chegue a esse fim. Porque era o fim. Era o fim de muitas coisas no Sporting e nos seus adeptos. Tragicamente seria o zénite mais trágico de um discurso de “zero ídolos” que sempre encarei como a negação do melhor que há no futebol, mas que teria de dar o braço a torcer quanto à sua veracidade.

Porquê? Porque haverá uma correspondência directa entre quem rescinde e quem tem muito mercado para sair do Sporting para melhores condições. Porque provavelmente daria até uma ínfima parte de razão a quem tem sustentado que neste plantel havia mais vontade de sair do que dar o máximo pelo clube. Porque pagarão os justos pelos que os jogadores (e entourage de empresários e advogados) consideram culpados. Porque convenhamos, não serão os membros da Juve Leo que agrediram jogadores que apanharam os cacos deixados pelas rescisões.

Todos teremos de ter muita calma a apreciar este caso e faltará sempre o dado mais importante na sua equação. É o Sporting, como entidade empregadora, culpado pelas agressões? Se sim, há matéria para justa causa. Se não for provado, não há. Vejo muitas pessoas a referirem a “autoria moral” do CD. Quanto a mim, são coisas completamente diferentes. Posso culpar BdC por uma gestão demasiado ingerente no balneário, posso até culpá-lo de exposições públicas contraproducentes na motivação da equipa, mas até isso ser matéria de incriminação ou responsabilização por um acto daquela gravidade em Alcochete, vai um passo que, até prova em contrário não devo conscientemente dar. Tal mudaria substancialmente se existirem factos e provas que defendam essa “autoria factual”. Aí não só seria encontrada justa causa para os jogadores, mas também para a demissão imediata de quem quer que tenha ordenado aqueles actos absurdos da semana passada.

Ainda assim, não devemos ser inocentes nem ingénuos. Muitos jogadores forçarão a venda do seu passe. Em certa medida até acho justo cedê-la. Tanto como acho obrigatório que saiam por valores aceitáveis e passíveis de possibilitar a reconstrução de um novo plantel, com as mesmas ambições do anterior.

3/ Este é o tempo da Oposição?
Devo dizer que todos são livres de reunir, pensar, debater o Sporting em qualquer caso ou ocasião. Todos têm direito à sua interpretação do que é o clube e qual o seu melhor caminho. Aliás é bom que o façamos, sempre. Desde Rogério Alves, a PPC, passando por Godinho Lopes ou qualquer outro como eu e tu, o Sporting será sempre tão grande como a quantidade de pessoas que se preocupa com ele, que o questiona, que o observa, que luta por ele.

É também óbvio que existem muitas movimentações de facções contrárias a quem lidera atualmente o clube. Ainda bem. Ficaria deprimido se nos pontos de maior fragilidade, alguns sportinguistas (principalmente quem sempre se opôs a BdC) não tentassem aproveitar o momento e as circunstâncias. É a natureza do ser humano e é o verdadeiro jogo de poder a que tudo obedece em todos os cantos do mundo. Os fortes prevalecem, os fracos desaparecem. É algo que não devemos estranhar, mesmo que por vezes a palavra “oportunismo” nos ronde a memória.

Só peço uma coisa e aqui é onde se traça a linha entre o “natural” e o “contra-natura”: façam oposição sem políticas de “terra-queimada”. Ou seja combatam cirurgicamente as medidas, as ideias e os fundamentos, não os homens e o clube em si. Num jogo de xadrez, partir o tabuleiro ou roubar as peças não é bem o que considero vencer.

Uma última reflexão antes de acabar. Não sei se e como Bruno de Carvalho irá escapar a mais um provável tirocínio leonino, mas sei que se não for capaz de entender alguns erros estratégicos na gestão do clube e das suas equipas, a sua ideia da “exigência” e do “compromisso” (que é boa) pode ser muito bem ter originado o fim prematuro da sua 2ª presidência. O ponto fundamental para ele será descobrir até onde deve e até onde pode “exigir”, sabendo que são coisas bastantes diferentes e que afectam, de forma bastante diferente também, cada grupo de jogadores.

As cadeias hierárquicas dentro de uma organização são importantes e este Presidente terá de, pelo menos, exigir as coisas certas às pessoas certas, não temendo a perda de controle e influência, mas sim reforçando-a, dando autoridade e responsabilidade ao treinador e ao director da modalidade para fazerem e exigirem o que tem de ser exigido. A escolha de Inácio para Director Geral do futebol profissional e a decisão de acompanhar os jogos da tribuna, são para já bons sinais.

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca