Em primeiro lugar, deixar bem claro que esta conclusão nunca teve nada de premonitório. Não vi esse problema chegar, e é só perante os factos mais que consumados que constato, retrospectivamente, esta falácia. O Presidente-adepto, no futebol profissional de alto nível, não funciona. E sinto-me hoje bastante ingénuo por alguma vez ter pensado que poderia funcionar.

E não funciona por uma razão muito simples: digamos, a título de um exemplo que todos perceberão, que sou médico, e até sou competente, e pertenço a uma rede de hospitais em concorrência com outras, em que o utente escolhe onde quer ir quando fica doente. E que chega um Presidente que se diz ser um « Presidente-utente », do lado dos doentes, no sentido de tornar a minha rede hospitalar mais competitiva no cenário nacional.

Até aí tudo bem, os utentes apreciam o conceito. Só que as outras redes hospitalares que concorrem com a minha têm melhores condições de trabalho, mais equipamentos, mais médicos, melhores instalações. Mas o meu novo Presidente até é muito competente a prover meios que nunca tivemos antes, honra lhe seja feita, os salários são pagos a tempo e horas, e a instituição está-se a desenvolver como nunca antes acontecera.

Quando começa o problema então, com o Presidente-utente? Começa, enquanto profissional da instituição, quando se espera do meu Presidente uma visão estratégica e sentido de Justiça. Ora, se um dia um doente morre, não espero que o meu Presidente-utente desate a desancar cegamente naqueles que, fazendo o seu trabalho com competência, o melhor que podem, podem nem ter tido culpa nenhuma no cartório.

Claro que, na perspectiva do utente, quer lá ele saber, e a sua família, que tudo foi feito correctamente, e que o melhor tratamento possível foi administrado, a tempo e horas, e que o resultado final foi uma morte ou uma incapacidade inevitável. A única coisa que lhes interessa é que, no final das contas, o trabalho efectuado não surtiu num bom resultado final.

Só que não se admite semelhante comportamento, de avaliação básica do resultado final, por parte de quem gere os profissionais da dita Instituição. Numa profissão de risco nos resultados (vale no futebol, e também na Medicina), o que espero do meu Presidente-utente é que ele avalie se tudo foi feito como deve ser. Se o foi, que assuma a minha/nossa defesa intransigentemente, por mais que o desfecho tenha sido mau. Se não foi, que identifique claramente as lacunas, e que as corrija. Se há alguém que não soube fazer o seu trabalho, pois que seja identificado e despedido. Se há condições que faltam, pois que se assuma e corrija. Mas que não se misture e confunda a beira da estrada com a estrada da Beira!

Enquanto profissional, seria inadmissível uma equipa maioritariamente competente, de bons profissionais, submeterem-se a um julgamento na praça pública como se de todos fosse a culpa, isso partindo-se do princípio que haveria sequer culpa. Isso tolera-se num doente lesado ou em familiares frustrados, não se lhes pode pedir discernimento perante a perda. Mas é inconcebível naquele que é o gestor da Instituição, pois o trabalho dele é potenciar o que há de bom, enaltecendo-o, melhorando o que deve ser melhorado, ao mesmo tempo que serve de tampão com as frustrações dos utentes.

Não há instituição que cresça com um comportamento desses, pois quebra-se o essencial elo de confiança entre gestor e subordinados. Perde-se o respeito pelo líder, que veste uma camisola que não é a dos liderados, remetidos desta forma no papel de presos por ter cão ou por não ter.

Agora, é só substituir utente por adepto….

O Presidente do Sporting não pode pois vestir a camisola daqueles que serve (os sportinguistas), demitindo-se do seu papel na gestão do Clube, e condenando indiscriminadamente os seus profissionais! Não funciona, nem nunca poderá funcionar nestes moldes. E não há bom profissional que se submeta a esse tipo de situação, por mais amor que tenha à Instituição…

ESTE POST É DA AUTORIA DE… Placebo
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