Grande jogo de hóquei, grande vitória, grande ambiente num João Rocha frenético e repleto de adeptos de todas as idades a precisar de uma stickada de Sportinguismo que lhes amenizasse as feridas. 30 anos depois, o Sporting volta a ser campeão nacional de Hóquei em Patins!

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Posso dizer-vos que foi incrível. Tão incrível que é, provavelmente, o momento mais marcante da época. Não que aquela negra épica, no voleibol, não o tenha sido. Não que não o tenha sido aquele jogo com aqueles dois minutos de Ruesga em que o amparámos na lesão para agarrar novamente o dérbi que nos deu o título. Mas o que se viveu ontem, no João Rocha, com tanta gente incapaz de suster as lágrimas, foi como um rugido bem alto de leões e leoas sufocados por semanas a fio de sofrimento e de ataques a um clube que, para eles, é um amor como ele deve ser sempre: sem interesses.

Sabia-se que ia ser complicado. Nos três confrontos anteriores, três derrotas frente ao fcPorto – Campeonato (2-1, a única derrota que tivemos desde o início de campeonato), oitavos da Taça de Portugal (5-5, 0-3 nas grandes penalidades) e meia-final da Liga Europeia (5-2) –, sinal claro de que seria necessário uma equipa ao mais alto nível (como havia estado na Luz, há uma semana, vencendo por 4-7) para conseguir não deixar fugir a oportunidade de conquistar um título que fugia há 30 anos.

E a equipa leonina poderá ter começado a ganhar a partida com a surpreendente aposta inicial em Toni Pérez e Font para os lugares de João Pinto e de Pedro Gil. Não só baralhou as contas ao adversário, como deu o mote para aquela que foi a base desta época: uma equipa onde todos contam! E, por isso, com essa solidariedade e esse espírito de ser valia na defesa do Rampante, os primeiros cinco magníficos entraram a dominar e, aos cinco minutos de jogo, fizeram aquilo que o fcPorto tanto gosta de fazer: um golo em transição rápida. Grande recuperação de bola de Caio, que foi por ali fora, espetou uma finta de corpo e não tremeu no capacete no redes! Explosão de alegria no João Rocha e uma crença a aumentar à medida que o tempo passava e que se percebia que só em remates de longa e média distância o Porto conseguia criar perigo.

A melhor defesa do campeonato levava a melhor sobre o melhor ataque e dava verdadeira lição em ataque organizado, com três oportunidades claras de golo a serem desperdiçadas na última stickada e com a equipa de arbitragem, que fez um jogo verdadeiramente ordinário onde tentou, sempre, inclinar a partida a favor dos azuis e brancos, a irritar cada vez mais os adeptos leoninos. E, do nada, num lance que parece precedido de falta, o fcp aproveita uma bola perdida em frente à baliza para fazer o 1-1 com que se chegou ao intervalo.

Mas o melhor estava guardado para os 15 minutos finais. Depois de um início de segunda parte muito equilibrado e com várias quedas de jogadores leoninos por assinalar, Toni Pérez vê o cartão azul por falta sobre Jorge Silva. Hélder Nunes avança para o livre directo, mas nem via a baliza, tão grande era Girão. Havia dois minutos para aguentar com um a menos, nós cá fora queríamos ser o que faltava lá dentro, o coração batia a mil naquele cerco à nossa área em power play… Pedro Gil entra, diz a Girão que já pode respirar, arranca pela direita, flecte para o meio e toma lá uma stickada ao ângulo! Ah, caralho, que o golo se grita cá de dentro, afoga-te os olhos e quando olhas para o lado tens a tua filha em lágrimas por também ela estar num pico de nervos que te tira anos de vida e te dá memórias para uma vida toda!

Das lágrimas aos sorrisos, quando a sete minutos do final Ferrant Font aproveita a décima falta adversária para ser craque e transformar o livre directo no 3-1. Mas sete minutos no hóquei são uma eternidade, mesmo que um Pavilhão em pé tente acelerar o passar dos segundos. Vem o raio da meia distância e o Gonçalo Alves reduz para 3-2. Vem aquele momento em que parecemos perder o controlo e onde tudo se decide: remate à trave da baliza de Girão, bola recuperada por nós, olha o Pedro Gil a arrancar, já a leva colada ao stick e agora pára de respirar enquanto ele não rematar. Golo! “Já está”, penso eu, só para mim, que se há coisa que um gajo não deve deixar de ser, além de criança, é supersticioso quando a verde e branco está em campo.

Ainda vem mais um livre directo falhado por eles e outro falhado por nós; ainda vem 4-3 a 50 segundos do final, quando os azuis já jogavam sem guarda-redes, mas depois tanto esforço, dedicação, e devoção, de tão grande subida a pulso desde as divisões anteriores, sempre com a casa às costas, esta glória tinha que ser nossa. Ou, como diria um senhor de lágrimas nos olhos, “eu vi-os ganhar há 30 anos…”. Nessa altura, brilhavam Campelo, Vítor Fortunato, Paulo Almeida, Trindade ou Pedro Alves. Eu tinha 11 anos. Ontem, entre as lágrimas da minha filha e as lágrimas deste Leão mais maduro sobraram as minhas, dizendo, orgulhoso, o Campeão voltou!

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