Jorge Jesus prometeu aos sportinguistas que, com ele, o Sporting iria lutar por títulos e não mais o Benfica e o Porto iriam disputar sozinhos as competições internas em Portugal. Em três épocas, lutamos verdadeiramente até ao fim do campeonato apenas na sua primeira temporada. A seguir vieram dois terceiros lugares, acompanhados por um investimento sem paralelo em jogadores que habitualmente o Sporting nunca disputou.

Muito honestamente, creio que era possível ao ex-treinador do Sporting ter feito melhor. A gestão de esforço e desgaste que fez, especialmente nas duas últimas temporadas, deixou bem vincado em alguns atletas uma sobrecarga que simplesmente os diminuiu em várias fases da época, com quebras acentuadas no jogo colectivo. A equipa nunca se desfez, nunca pareceu perdida, mas faltou sempre alguma frescura física e mental para não quebrar em jogos onde era obrigatório conquistar a vitória.

Desconto nesta avaliação, uma boa percentagem do insucesso, que também atribuo aos mandos e desmandos da “estrutura” com que o Benfica viciou os dados das últimas competições. Em 15/16 foi completamente notório que a melhor equipa não ganhou e ficaremos todos sem saber o que poderia ter sido a carreira deste técnico se a verdade desportiva tivesse tido alguma palavra a dizer no final dessa época.

Sobrou uma Supertaça e uma Taça da Liga. Muito pouco para 30 milhões de investimento numa equipa técnica que ajudou o departamento a dar um salto qualitativo, mas que fica muito aquém de justificar as somas que auferiu em títulos, que é verdadeiramente o objectivo e a materialização do sucesso. Caberá a outro treinador e a uma nova equipa técnica ajudar a dar outros tantos saltos, pois há muito a fazer até começar a nova temporada.

Espero que o Sporting escolha bem o seu futuro. Espero que escolha muito bem o perfil que liderará o próximo plantel. Idealmente e porque haverá uma grande mudança de quadros na equipa, deveria ser alguém com a capacidade de construir uma equipa de fio a pavio, recuperar alguns atletas perdidos por empréstimos, ajudar a relançar alguns jogadores que nunca conseguiram obter a confiança de Jorge Jesus.

Outra coisa pelo qual também anseio é que, neste imenso virar de página da nossa equipa de futebol, todos os que fazem parte da reconstrução necessária também entendam que não será só preciso mudar o treinador e os jogadores. Há muitos comportamentos e papéis a incorporar, sobretudo numa versão mais organizada, estável e positiva do que deverá ser um departamento de futebol profissional. Oxalá se invista em coaching motivacional, observação minuciosa dos adversários, reporting qualitativo e regular da evolução nos treinos e sobretudo uma noção de que a equipa de futebol não é um organismo à parte do clube, uma célula que não comunica com os adeptos, os funcionários e a comunidade leonina.

Há um imenso trabalho relacional a fazer e agora que o “cérebro” de uma identidade fechada e hermética do “mundo da bola” saiu, é hora de abrir as portas a um novo conceito de “equipa”. De promover o convívio e a comunicação entre jogador, adepto e técnicos, rentabilizando a identificação entre todos.

Há também que dar total confiança ao próximo treinador para que seja ele o único e verdadeiro líder da sua equipa, sendo que caberá a Inácio ser o líder de toda a estrutura e BdC o líder de todas as estruturas de todas as modalidades. Cada um no seu papel, cada um com os seus deveres e responsabilidades, sem saltos nem atropelos à hierarquia e à competência de cada um. O presidente pede resultados ao director, o director pede empenho ao treinador e este exige performance e compromisso à equipa. É assim que deve ser, é assim que se mantém uma estrutura funcional e optimizada.

jose-alvalade

*às quartas, o Zero Seis passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca