Durante estes dias, enquanto acompanho os jogos do Mundial, dei por mim a pensar na estranheza que será para um adepto do Sporting este processo de trocar de guardião principal. Ao longo dos anos vimos rivais fazerem isso inúmeras vezes, com relativo sucesso, mas no Sporting aquela foi uma posição estanque por mais de uma década, e antes disso carregada de nomes fortes e bem seguros.

Não nos lembramos do que é isso de ter um José Sá ou um Varela (jogadores que não está em causa o valor mas sim o prazo de validade tão definido no clube). Não sabemos muito bem o que é isso de nos adaptarmos a outro nome com o número 1 estampado, como será a incerteza nos primeiros jogos em torno da sua real qualidade, nem sabemos muito bem o que vamos gritar quando ele fizer defesas. Mas Rui Patrício já é jogador do Wolves e ao Sporting chegará certamente um novo guardião, que jamais fará esquecer o seu antecessor mas a quem desejaremos sempre todo o sucesso do mundo.

Viviano parece ser o escolhido e em breve deverá ser confirmado como reforço. E o nome suporta em si tantos trocadilhos, que consigo desde já imaginar as capas de jornais assim que arrancar grandes exibições. Mas, o que vale o jogador?

Começou a sua carreira na Fiorentina, onde fez a sua formação. Passou depois pelo Brescia, clube onde esteve mais tempo, Bolonha, Palermo, Fiorentina, um empréstimo sem sucesso ao Arsenal e finalmente a Sampdoria. Na Samp assumiu-se como titular, cumpriu mais de 100 jogos ao longo de quatro temporadas e decidiu, aos 32 anos, abandonar finalmente Itália para experimentar outro futebol.

A primeira coisa que reparamos em Vivano é a sua altura. Quase dois metros que se notam bem à baliza e que fazem diferença naquela que é a sua maior força. É seguro entre os postes, demonstra alguns problemas nas saídas (aquela que será a maior dificuldade de todos os guarda-redes) e perde claramente para Rui Patrício na mancha (RP é um dos melhores do mundo nessa acção). Corajoso, destemido e meio louco, como devem também ser os bons guardiões, Vivano tem também a jogar a seu favor a experiência e o confronto com alguns dos melhores avançados do mundo, numa equipa que tem apresentado excelente futebol ao longo das últimas temporadas. Na comparação com o nosso anterior capitão, não podemos também deixar de referir que o italiano não é tão eficaz a travar penalties, mas esse é mais um dos grandes atributos de Patrício.

Será sempre estranho para todos nós ver outro guarda redes com as nossas cores, não tanto pela sua qualidade mas pela situação que acabou por proporcionar a sua vinda. Na teoria, teria sempre optado por um jogador mais jovem, capaz de crescer na nossa baliza ao longo de vários anos, mas a vinda do italiano permite-nos também olhar para o futuro das nossas redes, a médio prazo, pensando na formação.

Compreendo que o novo treinador queira alguém da sua confiança, também pelo pouco tempo e recursos que terá de para montar um plantel à sua medida, mas Viviano terá pela primeira vez na sua carreira o desafio que prova quem são afinal os grandes guarda redes: jogar sempre para ganhar, aparecer poucas vezes, mas ser extremamente eficaz quando chamado.

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa