Parece-me incrível como Jorge Jesus conseguiu passar entre os pingos da chuva, chuva grossa, que ensopa de tristeza quem sofre pelo Sporting Clube de Portugal. Mais, parece-me incrível como se chegou ao ponto de dizer e escrever que era JJ o gajo que, quando a tempestade começou, segurava o barco.

Chamo a quem o escreveu ou disse, “doentes”. Doentes porque nessa sua doença que se torna cegueira, nunca quiserem ver o que estava à vista. As pedras prontas com que brindavam quem criticava o treinador, a fantástica frase feita “tens curso de treinador? Então deixa o homem trabalhar!” e, pior, o dedo acusador e recriminatório, acompanhando olhos esbugalhados e um assomo de raiva enquanto lançavam um “estás a atacar Jesus, estás a atacar e a enfraquecer o presidente do Sporting!”.

Era precisamente o contrário, caríssimos (leiam isto como se fosse o Bruno a usar a expressão, para se acalmarem). Mas em o próprio Bruno de Carvalho viu que esta espécie de gémeos sem Arnold e sem Danny, tinha tudo para parir uma desgraça. Ou ajudar a pari-la.

Sim, é verdade que no primeiro ano nos roubaram o campeonato, mas até nisto Jorge Jesus está refém: experimentou na pele as cicatrizes às quais já perdemos conta. Limpinho, limpinho.

Mas para lá da vertente desportiva, permitem-me dizer-vos que, nestes três anos, Jorge Jesus teve carta branca para diminuir o nossos clube as vezes que quisesse, para dizer-se maior que um Sporting centenário, para vender-nos a banha da cobra de que sem ele estaríamos condenados. Uma autêntica vergonha, um atropelo de valores e diminuição da história de um clube, com a complacência de quem tinha que puxar-lhe as orelhas e de tantos que compravam o que Jesus dizia.

Depois, a gestão humana. Sim, Jesus é muito bom na componente treino, mas é uma besta nas relações humanas. E, ao contrário do que ainda tentou passar-se, há muito, muito tempo que tinha perdido o balneário, mais precisamente desde aquelas declarações (mais umas) ordinárias após o jogo com o Real, em Madrid. E valeu-lhe ter dois gajos, Adrien e Patrício, hoje rotulados de cabrões premium, a segurarem as pontas e a meterem no lugar uma mão cheia de gajos com sotaque castelhano.

Mas Jesus é, também, “macaco velho”, e sabe perfeitamente medir o pulso às situações. Veja-se o que aconteceu com Wendel, o puto que custou 9 milhões no mercado de inverno e que Jesus se apressou a dizer que só contava para a época seguinte. Quando é que Wendel teve oportunidade de jogar? Quando Jesus estava a ser fortemente contestado. Jogou de início, entrou duas vezes, o ruído acalmou e Wendel voltou a ficar na prateleira.

O mesmo havia acontecido no ano anterior, o pior ano dos três com JJ, onde a inversão completa da política desportiva redundou num descalabro e acabámos a despachar entulho e a ir buscar todos os putos de valor que tínhamos emprestado. O que fez JJ? Garantiu que se estava a preparar a época seguinte e que aqueles miúdos seriam forte aposta. Depois? Despachou-os todos, uns mais depressa do que outros, e novamente com a complacência do presidente e de todos aqueles que mostravam os caninos quando se criticava o treinador porque criticar o treinador era criticar o presidente, pediu mais três ou quatro dezenas de milhões de euros para uma nova cirurgia plástica.

E, com isso, deram margem a que este senhor que, por exemplo, fez com que Tomaz Morais não integrasse a nossa estrutura porque não gosta de ter a seu lado quem possa saber mais e ser mais válido do que ele, fosse ganhando cada vez mais espaço no clube.

Hoje, acredito que muito boa gente torça a orelha. Aliás, acredito que, mesmo sem terem curso de treinador, já critiquem este verdadeiro ai Jesus, entretanto cruxificado por se ter percebido que andava a passar mensagens ao amigo Octávio Machado e que é um treinador que, mais do que de um curriculum sem mácula, vive de colinho, de sorrisinhos e da belíssima imprensa que tem em Portugal.

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Não esquecerei o que fizeste ao meu Sporting – Cap 1: Os Jogadores»

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Não esquecerei o que fizeste ao meu Sporting – Cap 3: Claques e Criminosos

Não esquecerei o que fizeste ao meu Sporting – Cap 4: Bandidos engravatados e soldados da paz apardalados

a seguir:
«Não esquecerei o que fizeste ao meu Sporting – Cap 6: A Comunicação Social e a nossa comunicação»
«Não esquecerei o que fizeste ao meu Sporting – Cap 7: Tanto que podia ter sido diferente, Bruno»