Olá, Bruno. Dia de merda este, certo? E a pergunta que me parece mais importante fazer-te é: tens noção do que podias ter feito diferente?

Não vou repetir frases feitas. Não vou repetir acusações ou elogios. E digo-te desde já que me meteu nojo o verdadeiro linchamento de que foste alvo ao longo do último mês.

Mas se isso me meteu nojo, tenho que dizer-te que incomoda chegar a este dia e ter sérias dúvidas sobre se te sentes de alguma forma responsável por muito do que nos conduziu a esta verdadeira guerra civil. Sentes, Bruno?

Será que percebes, Bruno, que tudo o que rodeou e resultou do bárbaro ataque à Academia tem como base um aproveitamento ao milímetro da guerra aberta, ainda por cima pública, que resolveste declarar ao plantel profissional de futebol?

Tens noção que essa guerra aberta foi pedra de toque para as rescisões? Para as investidas dos notáveis engravatados? Para o chafurdar no nome Sporting a cada novo dia?

Tens noção que erraste e falhaste como gestor, não percebendo que esta guerra conduzia a um colocar em causa dos nossos principais activos?

Tens noção que o alimentar, constante, do comigo ou contra mim serviu para alimentar uma impressionante clivagem entre Sportinguistas? Que tinhas nas mãos a possibilidade de unir a nação verde e branca em teu redor e preferiste dividir-nos em bons e maus, mesmo se os maus apenas tivessem desacordos mínimos em relação ao que tu dizias?

Já paraste para pensar no porquê das pessoas que escolheste te terem virado as costas? E que tantas delas não têm algum interesse maquiavélico? Que tantas delas não são, como tu lhes chamas agora, “ratos” ou “cobardes”?

Será que percebes que também tu estás a ser vítima desta guerra entre iguais que optaste por alimentar, na qual te desgastaste e nos temos desgastado todos aqueles que sofrem desinteressadamente pelo Sporting?

Será que percebes que continuas a rodear-te de pessoas que facilmente diminuem o Sportinguismo dos que ousam pensar de forma diferente?

Será que te sentes minimamente culpado por correres o risco de, hoje, ser o dia em que deitas janela fora cinco anos de trabalho?

A decisão está nas mãos dos sócios. Cansados. Envergonhados. Divididos. Mas, ainda assim, capazes de dizerem o que querem para o seu grande amor.

Acredito que a maioria, não esmagadora, vai votar pela tua continuidade. Mas tenho a certeza que vai fazê-lo não como forma de reconhecimento ou gratidão. Essa prova foi-te dada há pouco tempo, naquela AG a saber a chantagem.

O voto pela tua continuidade resulta, acima de tudo, como uma forma de deixar claro que a maioria não está disposta a voltar a abrir as portas aos banqueiros e companhia. Há muita gente, Bruno, que votará a tua continuidade como um mal menor. Como uma necessidade momentânea rumo a um crescente desejo de eleições.

Será que consegues perceber isso, Bruno?