Após um dia de fatigante rotina, cheguei a casa exausto e melancólico, algo nostálgico e pessimista, triste a algo desiludido por vários motivos o dia até nem me tinha corrido mal, não sei a sensação que sentia, jantei e vi um pouco de Tv, o mesmo do costume as notícias diárias e muito usuais.

Nesse dia deitei-me um pouco mais tarde, embora cansado ainda deu para espreitar vários canais onde proliferam alguns filmes já passados na minha retina. Deitei-me finalmente, finalmente adormeci num sono profundo. E começei a sonhar, um sonho igual a tantos outros mas tão diferente dos demais, de certo a imaginação e a realidade por vezes dão de mãos dadas que não percebemos ou entendemos.

Algures no início do século XX, pelos lados do Campo Grande, passeava pela cosmopolita capital do nosso reino, várias charretes configuravam a existência de uma monarquia ainda muito real e saudada por diversos admiradores. Existia, liberdade, respeito, dignidade, bom uso de costumes entre mais e menos abastados, de repente parei e junto a um pequeno café, tipo mercearia, reparei num grupo de rapazes joviais e simpáticos reunidos dizendo uns para os outros, isto não pode ser, não estou de acordo com o caminho da vertente social que o clube está a levar, eu também não dizia um dos amigos.

Um deles de seu nome José, sim porque José foi o nome que ouvi chamar de um dos seus comparsas, José parecia entusiasmado retratava no seu semblante algo carismático, desconhecido e imperceptível. José dizia deixai estar vou falar com o meu avô e pedir uma moeda, para podermos em conjunto fundarmos um verdadeiro clube, que seja tão maior quanto outros. De acordo diziam os seus amigos, expressivamente felícissimos por tão agradável e surpreendente proposta do seu amigo José. Reparei e fiquei pensativo, olhei em meu redor e pensei, sim existe pouco de entretenimento aos dias de hoje, a prática de exercício é algo quase inexistente, estes rapazes estão a pensar para um bom caminho.

Continuei a dormir profundamente, com a convicção de que o meu sonho me poderia levar a algo surpreendente, sempre na expectativa, aliás eu não, eu estava sonhando no recanto do meu leito, sim a sonhar, o sonho é que aguardava para mim talvez expectativas.

Os anos foram passando nunca mais tinha ouvido falar naquela rapaz de nome José e dos seus amigos, do seu caminho e percurso, naturalmente a vida e a sociedade tinha mudado, a monarquia talvez tivesse desaparecido tal como os seus apaniguados, os sistemas políticos teriam naturalmente transformado a sociedade ao longo de anos e décadas.

Foi quando o meu coração começou a bater um pouco mais forte, vi uma pequena multidão num estádio aplaudindo e gritando pelos seus ídolos, e pelo nome do seu clube SPORTING, SPORTING, não ouvindo falar em nomes dos seus ídolos e referências, eles apenas mostravam a felicidade e afectividade de estar desportivamente a ver uma interessante peleja, os seus tinham ganho, reparei que talvez fosse um dos jogadores mais importantes a erguer o troféu, teria sido sem dúvida e talvez o primeiro de muitos mais. Mais vitórias e vitórias, foram passando como flashes de fotografias, ou como imagens muito lentas e a preto e branco que fui gravando como se fossem memórias vivas dos dias que jamais vivi.

Foram quase como pequenos orgasmos, como se tratasse de uma longa noite de sexo, com a mais bela das donzelas. Os jovens e menos jovens continuavam entusiasmados e delirantes, pareciam que queriam mais e mais sentir-se iam gratos e felizes por aqueles dias, gritavam imenso, e rejubilavam SPORTING, SPORTING, SPORTING. De vitórias e derrotas o clube de uma multidão, foi subsistindo e glorificando, do seu esforço de muitos, da sua dedicação, do seu amor, sentiriam que mais tarde a glória fosse efectivamente alcançada.

Continuava dormindo profundamente anos e anos já tinham passado, o clube tinha-se transformado não só numa grande multidão, como um dos grandes da europa e do mundo, decidi eu mesmo fazer parte ou pertencer as estes ideais, convicto que na vitória e na derrota é apenas um jogo na qual se deve respeitar os adversários e rivais como adversários, respeitando-os para que eles nos respeitem a nós também. Continuei a vislumbrar toques de magia, seria sem dúvida de alguns génios dos estádios, reparei que o estádio já seria mais grandioso, enfim que a sociedade e o tempo desde aquele reparo de José e dos seus amigos à muito tinha ficado na história, e na minha memória.

Reparei que o clube foi crescendo, crescendo, conquistando imensos títulos e muitos sports tinham-se interiorizado no clube como flechas de uma tradição inolvidável e inesquecível. Passado muito tempo o clube foi perdendo aquela sumptuosidade de conquistas, era também o valor dos nossos adversários a funcionar, reparei que entretanto existiam chamados, ilustres e notáveis e já nem todos eram tratados como um todo, o meu sonho ficou turbulento e reparei num grande grupo de rapazes que já não levavam o desporto como um entretém, tinha chegado o denominado desporto e futebol de negócio e de milhões, que tinha transformado tudo, em mentes menos sãs e salutares, na qual a verdadeira essência se tinha perdido.

Esses jovens embora entusiasticamente cantarolando e gritando, já mostravam algo de mais nocivo, uma procura da sua própria afirmação, perdendo valores e respeito até mesmo pelos seus próprios amigos, enquanto os rivais eram vistos como inimigos, como se fossem lutar numa guerra de morte num campo de batalha. Fiquei pensativo, e algo triste, murmurei, o que é isto!!!???

O tempo foi passando e o grande clube foi continuando, lutando pelo melhor, as vitórias, mas muito descaracterizado, sem mística, união, respeito, valores, dignidade, honra e democracia de respeitar pensamentos diferentes de uns e outros.
Insultos, Calúnias, Insinuações, Ofensas, Agressões, algo se passava de muito mau, o meu sonho estava agora no auge da turbulência tinham-me vindo as lágrimas aos olhos, embora nada tivesse a ver com tudo isto, fiquei triste.

Adormecido ainda, voltei a caminhar pela cidade, cosmopolita e bela como nunca, tão diferente de outrora dos seus costumes, da sua vida pataca e pitoresca que já pouco se mantinha. Os tempos eram diferentes, são diferentes, continuei no meu caminho de uma noite perdida, quando decidi passar pelo mesmo local, de repente avistei um senhor vestido de preto, enrugado e gasto pela sua existência, com um chapéu numa passada lenta mas ainda com alguma energia, que num murmúrio algo timido balbucionava TÃO GRANDES COMO OS MAIORES DA EUROPA. Era o jovem José, dos seus amigos não reparei que naquela noite tivessem passado por aquele local, o agora muito velho José, sim era ele entrou naquele café, agora uma tasca. Ainda tive para meter conversa com ele, para lhe dizer o quão muito a sua existẽncia tinha levado milhares a vibrarem com as vitórias e as conquistas do clube ao qual o seu avô ajudou a fundar. Decidi, não falar com o senhor muito velhote José, decidi esquecer que o tinha visto a passar por aquele local, à qual o tinha visto muitos anos antes com os seus amigos.

Decidi manter a esperança de que o clube fundado por ele e pelos seus amigos se mantenha forte e que possa honrar a sua história, os seus ideais, o seu presente e possa projectar o futuro com vitórias e conquistas de títulos, não não falei com o senhor José, o sonho não o terá permitido infelizmente, eu próprio também não me abeirei dele, fiquei apenas muito admirado de o encontrar.

Acordei, fiquei pensativo, era bom que assim fosse que o grande clube, possa no futuro manter viva a fé da conquista e dos títulos. Fiquei com esperança, uma esperança que poderá ser compartilhada pelo meu sonho, para aqueles que desejam o mesmo as conquistas e as vitórias, num ideal de desportivismo, tal como o velhote José. Não reparei se ele saiu do café, não, da tasca. Tinha acordado, estava novamente na realidade dos dias de hoje. VIVA O SPORTING CLUBE DE PORTUGAL.

ESTE POST É DA AUTORIA DE… Rui Caeiro
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