Bas Dost regressou, hoje, aos treinos e para lá da divisão de opiniões motivadas pela rescisão e recente anúncio da continuidade, há uma vertente puramente futebolística relacionada com o holandês que também provoca discordâncias: Dost torna, ou não, o futebol do Sporting mais previsível?

A minha resposta é “não”!. Ou, se preferirem, não foi Dost que tornou o futebol do Sporting previsível; foi o modelo escolhido e petrificado que levou a que isso acontecesse.

Creio não haver uma única equipa que se queixe de ter um gajo que marca 70 golos em duas épocas. Mais, um gajo que marca 70 golos em duas épocas numa equipa a jogar muitas vezes a passo, sem rasgo e com partidas onde não existia um único cruzamento, alto ou baixo, que permitisse aproveitar as características do holandês. Pior ainda, numa equipa refém de um único esquema táctico e sem vontade de alterá-lo, embatendo de forma parva e repetitiva nos muros defensivos adversários.

Dost é um goleador nato e um dos pontas-de-lança mais inteligentes que passaram pelo Sporting. É verdade que, por vezes, essa inteligência se torna enervante quando ele procura servir companheiros em vez de rematar à baliza, mas só quem estiver de má fá poderá questionar o quão bons são, na sua maioria, os movimentos que o 28 faz ao longo de uma partida. Atente-se na quantidade de vezes que Dost recua para servir de pivot; atente-se na quantidade de duelos aéreos que Dost conquista colocando a bola jogável nos companheiros.

Sim, é verdade que não estamos a falar de um ponta-de-lança pressionante como Liedson ou Slimani, mas também não me recordo de nos queixarmos do facto de Jardel não mexer o cu a não ser para atacar as bolas e metê-las lá dentro. A pressão e a construção ficavam a cargo dos colegas e de uma táctica pensada para tirar o maior proveito possível de uma máquina de fazer golos.

Dost poderá não ser Jardel (ainda não marcou com o cu, por exemplo), mas é, também ele, uma máquina de fazer golos. Mas como todas as máquinas, também ele vive de um conjunto de peças que tornem a mecânica num sucesso. E, em meu entender, jogadores como Nani, Matheus, Chico, Raphinha ou Bruno Fernandes, têm mais do que capacidade para serem essas peças que desbaratam as defensivas adversárias e deixam o goleador preocupado com a sua principal tarefa: marcar, marcar, marcar!