E à sétima (ainda dizem que as bruxas não existem), o Sporting deixou fugir o Troféu Cinco Violinos. Por culpa própria, diga-se, seja pela quantidade de oportunidades desperdiçadas, seja pela incapacidade de congelar o jogo, seja pela displicência com que se marcaram alguns penaltis, nomeadamente aquele rematado por Matheus, com a camisola 7 (olha…).

A propósito de Matheus Pereira, foi surpreendente que tanto ele como Raphinha não fossem aposta. Ao invés, José Peseiro lançou Nani e Acuña nas alas, preferindo a experiência à irreverência, a contemporização à explosão. Também surpreendente foi a titularidade de Misic, a formar duplo pivot com Battaglia. O croata acabaria por marcar um golaço, que colocou o Sporting em vantagem, mas a sensação que fica é que o facto de ser um jogador com cultura táctica não é suficiente para actuar naquela posição: tem que procurar muito mais bola, tem que dar muito mais linhas de passe.

A verdade é que foi com este modelo mais conservador, chamemos-lhe assim, que o Sporting criou mais situações de golo. Uma, duas, três, seis, algumas delas a partir de lances de bola parada, ponto positivo a realçar. Dost falhou o que não costuma falhar (por duas vezes), Nani falhou duas quando pelo menos uma costuma acertar e Bruno Fernandes alternou as bombas entre o poste e um defesa adversário que deve ter ficado tatuado para os próximos dias. Ainda houve um cabeceamento de Battaglia para uma defesa incrível do redes adversário, ou uma diagonal de pé contrário de Raphinha que merecia mais qualidade na finalização.

Ou seja, mesmo sem a velocidade e irreverência de Matheus e de Raphinha, fcou claro que, ofensivamente, existem boas ideias, quase sempre através do jogo exterior onde os laterais e os extremos/alas mostraram uma dinâmica interessante. No fundo, Peseiro a ser Peseiro e a prometer que se a pontaria estiver afinada não faltarão jogos para celebrar o golo mais do que uma sofrida vez.

Mas Peseiro também foi Peseiro no resto, nomeadamente na dificuldade em travar as transições rápidas do adversário e as bolas metidas nas costas da defesa, pese o grande jogo de Mathieu, provavelmente o melhor em campo. Depois, e aí volta a ser incrível como não se esticou a bolsa para trazer Badelj, existe um claro problema de construção. Battaglia tem quatro pulmões, mas os pés têm a forma de duas mesas de cabeceira; Misic, como escrevi acima, esconde-se demasiado e está demasiadas vezes ausente.

Cabe a José Peseiro resolver estes problemas e decidir o que quer para a equipa. Neste momento, dificilmente qualquer adepto arriscará apontar o 11 que subirá ao relvado de Moreira de Cónegos. E se isso pode ser interessante se olhado da perspectiva de termos qualidade a dobrar em mais do que uma posição, é igualmente preocupante quando sabemos que as rotinas de jogo são importantes e, nesta espécie de novo ano zero, terão que ser ganhas em competição. E se já foi mau perder este troféu, será bem pior não entrar bem no campeonato.