Vou directo ao assunto: por muito que não nutra a minha empatia ou simpatia por ti, tenho a certeza que não mereces estar a passar por aquilo que todos os Sportinguistas estão a passar há sete meses, mais coisa menos coisa. Isto magoa, rouba sonos, tira anos de vida, torna-nos mais amargos, leva-nos a pensamentos de merda carregados de ódio. Não devia ser assim, pois que não devia, mas quando se gosta e quando se sente algo de forma tão genuína como sentimos o Sporting a distância entre o racional e o irracional é demasiado fina.

Não é fácil atravessar desertos de títulos na modalidade maior. Não é fácil festejá-los em modalidades que merecem igual ou maior respeito, num país que as olha com desdém sempre que se celebram com as nossas cores.

Não é fácil assistir ao desmoronar de um projecto em que tanto acreditámos e que acabou gravemente ferido numa guerra fratricida. Não é fácil tentar estancar-lhe o sangue, acreditando em novos rostos para não deixar morrer algo que continua a fazer todo o sentido e que revitalizou o clube.

Não é fácil lidar com o constante achincalhar e menorizar do nosso clube, alvo de orquestrados ataques na comunicação social. E ainda custa mais quando essas pontas de lança envenenadas são partilhadas, vezes sem conta, em redes sociais onde se amontoam perfis falsos e páginas criadas para perseguir e atacar outros Sportinguistas.

Não é fácil ver um bando de criminosos, vestidos com as tuas cores, entrar-te casa a dentro e bater-te. Sim, foi a ti, foi a mim, foi a nós que bateram naquela maldita tarde e como se isto já não bastasse, logo a seguir dizem-te que tens que aceitar continuar a ver “o teu grande amor” sujeito aos caprichos de gente do apoio bem remunerado.

Não é fácil teres que levar com o regresso de quem achavas que jamais deveria volta a vestir a camisola listada. Não é fácil veres partir quem se chegou à frente para defendê-la e que sai como se isso fosse esse um acto indesculpável (e ainda levas com o gozo de vê-los transformados em estrelas de promoções de quem com eles ficou, nas redes sociais).

Não é fácil assistires ao aplaudir publicamente de um treinador que foi um dos principais obreiros do estado em que estamos. E, de seguida, levares com um treinador que te obriga a ir a pé buscar a fé tresloucada de adepto como arma maior de motivação.

Não é fácil veres uma época preparada aos trambolhões, de forma quase amadora. Não é fácil perceberes o planeamento de jogos, não é fácil perceberes que o trabalho de quatro semanas mude de estratégia no último jogo de preparação, não é fácil entenderes a continuidade de certas mediocridades no plantel, não é fácil entenderes a gestão financeira de transferências e de aquisições, entre vendas por valores de saldo, falhanço na contratação de jogadores por pormenores ou contratação de reforços que só o serão daqui por dois meses.

Mas se ainda aqui estás, por algum motivo é. Certo?
Mais na pobreza do que na riqueza. Mais na doença do que na saúde.
Sempre assim foi. Sempre assim será. Não por mim, não por eles. É pelo Teu Sporting!