Contrariando a Lei de Murphy, o Sporting entrou a ganhar no campeonato, vencendo por 3-1 o Moreirense, uma lesão no aquecimento, a lei da rolha do árbitro, um golo sofrido aos seis minutos e vários equívocos tácticos

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Se Peseiro tem fama de ser pé frio, o que os adeptos sentiram foi um verdadeiro cubo de gelo a rolar-se costas abaixo e a alojar-se onde não devia alojar-se quando, aos seis minutos, o Moreirense se adiantou no marcador. Foi como se estivesses a dormir um sono profundo e levasses com aqueles despertadores dos anos 90 que te enganavam com os dígitos iluminados para te pregarem com um alarme de quartel de bombeiro à hora de te levantares. Isto depois de já teres feito snooze, claro, que no aquecimento o Viviano tinha-se lesionado e assim que o jogo começou o estiloso do apito, Tiago Martins, espetou um amarelo ao Nani e depois veio outro ao Bruno Fernandes acompanhado de um “queres ir para a rua?”.

Na rua estávamos nós. Na da amargura, diga-se, porque além de estares a perder vias aquele rapaz com a camisola 25 que já pertenceu ao Duscher e hoje pertence ao Petrovic, numa falta de respeito pelas boas memórias de adepto que o teu cérebro acaba a ver as mensagens que o Matheus Petreira vai escrevendo na bancada (este que vos escreve promete um post para este assunto) ou a lembrar-se de um Palhinha a servir cocktails em Braga ou de um Wendel que ficou em Lisboa a aparar o bigode para permitir a Peseiro testar o pior duplo pivot que podia ter experimentado, pois se o tal do Petro tem uns pés que parecem duas mesas de cabeceira, o Battaglia melhora um bocadinho, mas fica algures nas lagartas rotativas de um carro de assalto.

Sim, José Peseiro fez uma valente cagada na escolha do 11, desde logo porque aqueles dois rapazes citados não podem ser um duplo pivot, a não ser que queiramos passar a jogar em pontapé para a frente, para o Dost amortecer para as entradas rápidas do… ah, espera, o Peseiro também deixou os extremos rápidos e repentistas todos de fora, preferindo a completa falta de forma do Acuña (mete o gajo a defesa esquerdo, foda-se, ou mete-o no meio a fazer de Battaglia e deixa o Battaglia fazer de Petrovic) e a capacidade única que Nani tem de contemporizar e ler o jogo, mas já sem o rasgo de outros tempos (pelo menos enquanto as pernas pesarem).

Portanto, num clube feito em cacos, Peseiro resolveu escavacar o resto da louça e, de um momento para o outro, tinha mais seguidores do que a sua filha nas redes sociais. Valeu-lhe uma grande arrancada de Ristovski pela direita, cruzando atrasado para Bruno Fernandes, com o 8 a resolver individualmente e a tapar as orelhas enquanto festejava, como quem diz que consegue ser aquele macaquinho que nada escuta e fica indiferente às críticas. Goste-se ou não, a verdade é que o médio disse que queria reconquistar os adeptos com trabalho dentro de campo e, ontem, até por volta dos 70 minutos, foi ele e mais 10. E se contabilizarmos os 90, foi certamente aquele par de pernas que mais correu para conquistar os três pontos.

Mas já vais no minuto 70, ó Cherba? É verdade, pá. Ok, pelo meio há um cruzamento esquisito do Jefferson que mete a bola no Dost e que ninguém sabe como não entrou (incrível, mesmo, a sorte do Moreirense, entre o bate no poste e nas pernas do redes, sempre com a redonda a fazer equilibrismo sobre a linha de golo), mas a verdade é que ao intervalo o Moreirense tinha mais posse de bola do que nós e aquele buraco no meio-campo chegava a meter dó não só na construção como na recuperação, com o tal gajo que roubou o 25 ao Duscher uma, outra e outra vez colado aos centrais.

Aos 5 da segunda etapa, Bruno Fernandes tentou inventar mais um golo e 15 minutos depois Salin fez a defesa da tarde a remate de Bilel, jogador que tentou dar um ar de sua graça no Sporting B.

Um gajo desesperava e pedia substituições, Peseiro lá acabou por mexer e fazer aquilo que devia ter feito de início: dar velocidade aos corredores sem estar à espera que tivessem que ser os laterais a galgar metros. Jovane Cabral e Raphinha entraram para os lugares de Nani e Acuña, o duplo pivot de aço transponível ficou, mas ainda assim foi suficiente para abanar o jogo e matar o Moreirense.

O puto Jovane arriscou a finta na área e foi derrubado por Heriberto, o gajo que tinha marcado o golo do Moreirense e que até mereceu aplausos nas redes de um tal Rafael Leão. Penalti e classe total de Dost na marcação, numa cambalhota no marcador que viria a ser confirmada já nos descontos pelos suspeitos do costume: Bruno Fernandes tem um passe de mágica a isolar o holandês, o 28 mostra que calçar o 45 não é só para a NBA e aplica um belíssimo chapéu a Jhonatan.

Peseiro respirava de alívio e aqueles milhares que encheram Moreira de Cónegos num incansável apoio ao Sporting tinham a merecida recompensa. Eles e todos os outros, que espalhados por Portugal e pelo mundo viram um jogo a léguas de ser bonito, mas que encaixou perfeitamente na antevisão de Peseiro: “Mais importante que jogar bem, que rematar 30 ou 40 vezes ou que ter muitos cantos, é essencial ganhar os três pontos. É preciso mostrar as garras do leão, sabendo que podemos não estar preparados para fazer um jogo ofensivo como ainda vamos ter. Mas mais importante é a serenidade, a estabilidade e confiança”.

Assim sendo, haja esperança!