Não sei quando irás ler este texto. Provavelmente quando deixares de achar que os textos que o pai escreve são gigantes e que os teus nove anos acabados de fazer não têm pausas suficientes para tanta letra. Afinal, a Tasca é fixe para marcar futeboladas e almoços onde podes conhecer pessoas novas, como tanto gostas.

Mas sei que um dia vais ler e quando esse dia chegar quero que percebas que estas palavras são válidas hoje e sempre. Mesmo quando já não pudermos ir os dois aos estádios e aos pavilhões onde o Sporting joga. Mesmo quando os nossos abraços já não o forem.

E essa é a primeira memória que deves guardar eternamente: quando vires uma camisola listada a competir, é para a apoiar. Não importa se não gostas da modalidade, não importa se não gostas do atleta ou do profissional, não importa se não gostas do treinador, menos ainda importa se não gostas das pessoas que usam gravata e que gerem os destinos do teu clube. É a tua voz, sempre a tua voz, que ajudará a empurrar os nossos para a vitória. São as tuas palmas, no final, que lhes aplaudirão o esforço mesmo quando esse esforço não tiver sido suficiente para ficar em primeiro. E jamais te coíbas de ser a pessoa que mais alto deixa claro o seu apoio. Vais ver como, vezes sem conta, a falta de voz no dia seguinte vai ser um motivo extra para sorrires após uma dura batalha.

A propósito de voz, não a desperdices. Vais ver que, uma, outra e outra vez, terás quem te queira provocar. Na escola, no trabalho, nos cafés. Entre amigos, conhecidos e desconhecidos. Respira fundo. Guarda as tuas forças. E desfere o teu golpe de forma certeira, quebrando-lhes argumentos ou obrigado-os a um contraditório que vai além dos lugares comuns e das notícias de enfermentadas que vão ao forno para fazer crescer cliques e vendas numa comunicação social cada vez mais moribunda (e sabes o que custa ao pai escrever isto…). Esta postura fará com que não sejas mais uma que fala só por falar. Distinguir-te-á dos restantes. Dar-te-á personalidade. Fará com quem gostem de ouvir-te e te respeitem.

Respeito. Palavra chave, miúda minha. O respeito por ti começa no respeito que tens pelos outros. Sejam ou não sejam do teu clube. Mas guarda um bocadinho mais para os nossos. Entra, sempre, numa discussão. Diz o que pensas. Defende o teu ponto de vista. Mas, guarda a dica, não acredites utilizes o insulto fácil como arma. É um disparo de pólvora seca que, no máximo, te tornará numa pessoa menor. Isso e, por achares que estás sem argumentos ou por sentires ciúmes de alguém, promoveres a calúnia e a suspeita sobre outra pessoa. Sim, tu que cresceste com esses dedinhos pequenos a dar vida a ecrãs touch, depressa vais perceber o quão fácil é promoveres o assassinato de carácter de uma pessoa. Vão tentar fazer-to a ti, certamente, motivo extra para pensares duas vezes antes de fazeres parte da corrente que te levará. Se acusares, se levantares suspeições, certifica-te que tens argumentos para justificares o que dizes e que esses argumentos não são, apenas, um novo amontoado de “ses”.

E se te sentires cansada de ser do Sporting? Oh, vai acontecer tanta vez… isto é a maratona de uma vida. É uma escolha que fazes, mas é algo que se te apega à pele mais e mais e mais (então se chegares a ser jogadora do Sporting, como agora queres…). Por outras palavras, é uma montanha russa. Tão depressa vais estar lá em cima, como vais sentir-te a vir por ali abaixo com o carrinho prestes a saltar do carril. Agarra-te bem. Se for preciso, fecha os olhos. Mas não peças para sair. É na altura em que o vento for tão forte que mal vês o caminho que vais ter que mostrar essa paixão que, para o bem e para o mal, faço questão de continuar a passar-te. Procura os que pensam como tu. Partilha com eles a força que, combinada, será a necessária para nos reerguermos. Uma, outra, outra vez.

Não contes é com ajudas para o fazer. Vai ser lixado, quando cresceres e perceberes que há quem vista a mesma camisola que tu e queira tanto mal ao Sporting como os que estão de fora a trabalhar para um país desportivo apenas pintado de azul e vermelho. Só não querem tanto mal porque algo tem que correr bem para eles atingirem os seus objectivos. Interesses. É assim que se chama a essa forma de estar. Abomina-a, filha! Tu serves o Sporting, não te serves do Sporting! Luta, sempre, contra quem ousar dizer-te o contrário! E nunca deixes que te digam qual a forma correcta de lutar. Se tiveres que trilhar um caminho a partir do zero, fá-lo! Se acreditares no que fazes e o fizeres com o coração, vais ver que rapidamente terás outros Leões e Leoas a caminhar a teu lado!

E caminha, sempre, de cabeça erguida! Nunca percas essa vontade de vestir a camisola listada, mesmo que seja para ires toda chique a um casamento. Nunca deixes de mostrar, sem rodeios e estejas onde estiveres, qual é o teu clube e que vincá-lo é um orgulho. Festeja qualquer golo, ponto ou meta de forma descontrolada, como se tivesses nove anos. Não tentes controlar-te quando sentires que o raio das lágrimas te saltam pelos olhos. Guarda cada data, cada memória, cada festejo ou desilusão e escreve a tua história a verde, branco e preto.

Se o fizeres, meu amor, vai ser com os olhos a brilhar de orgulho e com um rugido bem alto que vais poder dizer, sempre, “o Sporting? O Sporting sou eu!”

madalena-tasca