Depois de Jovane Cabral (extremo), Maximiano (guarda-redes), Miguel Luís (médio), Thierry (lateral direito) e Elves Baldé (extremo) ganharam um lugar no plantel leonino desta época. A qualidade dos atletas nascidos em 1999 impressiona o técnico leonino. Daniel Bragança pode ser o próximo a ser promovido

José Peseiro já chamou cinco jovens jogadores da mesma equipa da formação para integrar o plantel principal. Depois de Jovane Cabral, é a vez de entrar em ação a geração de 99, a mesma que foi campeã nos iniciados, nos juvenis e nos juniores e deu a conhecer Rafael Leão (rescindiu contrato e assinou pelo Lille) e Rúben Vinagre (saiu do clube ainda juvenil e agora joga no Wolves, na Premier League).

Luís Maximiano (guarda-redes), Miguel Luís (médio ofensivo), depois Thierry Correia (lateral direito) e ainda Elves Baldé (extremo) já treinam com Nani, Bas Dost e companhia. Todos eles nasceram em 1999, alguns estão juntos desde os infantis, outros desde os iniciados. Cresceram juntos na Academia e caminharam juntos até à equipa sub-23. Conhecem-se como ninguém. E mesmo antes de se estrearem na equipa secundária foram chamados à equipa principal, cumprindo assim o sonho que os acompanha desde os 10/11 anos, idade com que começaram a representar o clube leonino.

O próximo a ser chamado pode ser Daniel Bragança, um número 10 à antiga. Mas o que tem de especial a geração de 99, que encanta Peseiro e o Sporting?

Jovane Cabral é mais velho e foi o primeiro. Nasceu em Cabo Verde a 14 junho de 1998 e quando chegou a Portugal esteve um ano sem jogar, sendo depois integrado na chamada “geração de 99”. José Peseiro já o conhecia, mas pode-se dizer que foi uma espécie de amor à primeira vista. O extremo, que nas camadas jovens trabalhou quase sempre com Tiago Fernandes, agora adjunto na equipa técnica principal, aproveitou a oportunidade que teve na pré-temporada.

Mostrou-se, ficou no plantel principal e foi convocado para a estreia na Liga 2018-19, frente ao Moreirense (3-1). Além de mandar Matheus Pereira para a bancada arranjou um berbicacho tal a Peseiro que promete dar que falar também ao nível de seleções. Jovane começou o jogo como suplente e saltou do banco, numa altura em que os leões estavam empatados (1-1). Entrou aos 69 minutos, para o lugar de Acuña, e nem um minuto depois arrancou pela área do Moreirense fora e sofreu a falta que permitiria a Bas Dost, na marcação da respetiva grande penalidade, fazer o 2-1 e catapultar o Sporting para o triunfo final. Uma entrada em grande do luso-cabo-verdiano. Uma semana depois entrou e assistiu Nani para o golo do triunfo diante do Vitória de Setúbal.

O guarda-redes Luís Maximiano, o Super Max, como lhe chamam os colegas, foi suplente não utilizado no jogo com o Moreirense, dada a lesão de Viviano. Nasceu em Braga a 5 de janeiro de 1999 e começou a jogar no Celeirós. Teve passagens pelo FC Ferreirense e pelo Sp. Braga antes de chegar a Alvalade, em 2012.

Mas as promoções não ficaram por aqui. Seguiu-se Miguel Luís, filho de Nuno Luís (ex-jogador do Sporting e da Académica), nascido em Coimbra a 27 de fevereiro de 1999. O médio regressou lesionado do Europeu sub-19, mas nem isso impediu Peseiro de apostar nele. Os primeiros dias entre os maiores, leia-se equipa principal, foram passados na enfermaria a recuperar de uma lesão muscular na coxa esquerda. Nada que o impeça de lutar por um lugar no plantel e sonhar com a estreia. Peseiro aposta nele e ele quer retribuir.

Thierry é lateral direito, tem 19 anos (nasceu na Amadora a 9 de março de 1999) e também é da geração de 99 e campeão da Europa sub-19. Começou no Damaiense, de onde saltou para o Sporting, “o clube do coração”. O “defesa sonhador, mas pragmático” deve o nome a um cantor das Antilhas que a mãe, Vânia Andrade, adorava. Já foi campeão da Europa de seleções com os sub-17 e os sub-19.

Elves Baldé é colega de equipa de Miguel Luís e de Thierry Correia desde os 10 anos. Nasceu a 2 de outubro de 1999 na Guiné-Bissau, mas cedo emigrou para Portugal e com apenas 9 anos começou a jogar no Loures. O talento do extremo/avançado destacou-se a ponto de na época seguinte (2009-2010) ir para o Sporting. Com apenas 17 anos foi promovido ao Sporting B e fez quatro jogos. Com velocidade e capacidade para desequilibrar no um para um, Baldé fez dez golos em 22 jogos na equipa B, na época passada. Agora terá oportunidade de aparecer ao lado de Nani.

“Podem ser aposta, com certeza, tal como na primeira passagem apostei em jovens. Mais do que o mérito do treinador, tem que ver com a qualidade dos jogadores. O Miguel [Luís] está lesionado, está a trabalhar connosco, mas temos o Thierry [Correia], o Elves [Baldé], jogadores que a curto prazo terão de ser soluções para nós”, garantiu Peseiro, antes do jogo com o V. Setúbal, na semana passada.

Uma das melhores gerações de sempre
Pedro Gonçalves treinou-os a todos e fala da uma das melhores gerações que passaram pela Academia: “Acredito que em breve iremos ouvir falar de mais uns quantos, ainda que noutros clubes que não o Sporting. Possivelmente terá sido das gerações que produziram mais jogadores profissionais para o futebol português e internacional.”

O atual selecionador de sub-17 de Angola recorda que pegou na equipa após um ano de fracasso geral da formação leonina (2014-15) e viu-a festejar o título nacional no ano a seguir (2015-16). “A geração de 99 recorda-me tempos muito especiais, pois foi a minha última época ao serviço do Sporting, um percurso de 16 anos no clube dos quais guardo muitas e boas lembranças. Esta geração vinha de uma época nos sub-15 em que lutou, em vão, pelo título de campeão nacional até ao limite. Este facto acabou por ser um feito raro ao longo do percurso vencedor de formação desta geração [2015-2016]. Apanhei esta geração nos sub-16 ferida no seu orgulho. Havia na equipa o sentimento generalizado de injustiça, pois evidenciávamos uma supremacia, apesar de os nossos rivais terem tido também uma excelente geração. Concluímos a época evidenciando uma qualidade de jogo formidável, que se traduziu na conquista do campeonato sem uma única derrota”, recordou Pedro Gonçalves ao DN.

Nessa época, o jogo do título, e o último do campeonato, acabou por ser um dérbi: “Tínhamos de vencer o Benfica para nos sagrarmos campeões e, apesar de termos feito uma extraordinária primeira parte, mesmo a terminar ao intervalo contra a corrente do jogo o Benfica marcou golo, julgo que pelo João Filipe. Ao intervalo foi extraordinária a serenidade da equipa e a forma confiante com que em uníssono me disseram no balneário que iriam virar o jogo. Passados dez minutos da segunda parte já tínhamos virado o resultado. Vencemos por 3-1 e sagrámo-nos campeões. Fui campeão distrital onze épocas como treinador principal no Sporting, mas esta foi sem dúvida a prenda mais significativa que esta geração me deu para fechar com chave de ouro o meu percurso no clube.”

A importância dos promovidos no título
Como técnico da formação, nunca gostou de individualizar nomes, seja para elogiar ou para criticar, mas aceitou o desafio do DN para falar de alguns, começando pelos que estão a ser promovidos, e da importância que tiveram na conquista desse título de iniciados em 2015-16.

Luís Maximiano: “O Max foi mesmo o Super Max, tal a dedicação e a evolução que teve. Recordo a sua honestidade e a solidariedade com os companheiros, em especial com os da sua posição, tendo sempre uma excelente postura, inclusive quando preterido para jogar outro colega. A perseverança e a postura estão a fazer dele um guarda-redes de carácter sólido e imbatível.”

Thierry Correia: “Apesar da concorrência elevada do João Oliveira, sempre se souberam respeitar e trabalhar juntos. A dada altura da época, pelo facto de a direção ter proibido o Rúben Vinagre de jogar por não assinar pelo clube, solicitei-lhe que jogasse como lateral esquerdo. Viu nisso uma oportunidade e tem sido o que todos têm visto. De uma voluntariedade, combatividade e carácter que o tornam um verdadeiro leão em campo. Quando as coisas não lhe corriam como esperava, dada a sua imaturidade emocional, as lágrimas saltavam-lhe logo dos olhos, e essa energia era catapultada nos treinos seguintes para elevar a fasquia.”

Miguel Luís: “Já nesse tempo revelava uma grande maturidade desportiva. Introvertido, tinha uma personalidade algo fechada, mas aos poucos soube crescer e desenvolver-se. Já revelava um carácter competitivo assinalável e apenas nas dificuldades se via a sua verdadeira capacidade desportiva.”

Elves Baldé: “Um dos rostos da mística da equipa. Sempre foi ao longo das épocas de formação um dos principais elementos. Apesar da concorrência apertada, nunca se atemorizou e [a equipa] ajudou-o para aumentar exponencialmente o seu desempenho desportivo. Estava em todas as ocasiões coletivas e com todos os companheiros. De uma generosidade assinalável.”

Jovane Cabral: “Apesar de ser de 1998, já estava integrado ao tempo na academia sem poder competir, até que na fase final da época foi inscrito e acabou por ser um elemento fundamental na conquista do título de campeão naquele que foi o seu primeiro dérbi com o Benfica.”

Os dois que fugiram
Rafael Leão: “O talento puro em ação. Todo ele era arte e encenação em campo. Lembro-me de como iludia os adversários perdendo as primeiras bolas disputadas com alguma displicência, levando-os a facilitar nas abordagens das disputas seguintes, e depois, evocando uma absoluta e invulgar capacidade de explosão, aliada a genuína capacidade de controlo de bola, dinamitava as defesas adversárias.”

Rúben Vinagre. “Ainda na fase inicial da época reuni-me com ele transmitindo-lhe que pretendia pô-lo a jogar na posição de defesa esquerdo e que nessa posição, se ele tivesse a mesma atitude e empenho, acreditava que rapidamente atingia o nível de seleção nacional. Dito e feito, passados três meses estava na seleção e a deixar os scouts dos colossos europeus boquiabertos com aquilo que viam. Recordo a sua humildade e resiliência. Tem um carácter imbatível. Audaz, não se atemoriza com nada. Tem espírito de campeão. Acabou por assinar pelo Mónaco aos 15 anos, agora joga no Wolves.”

O talento que falta explorar
Daniel Bragança: “O cérebro da equipa. Nessa época foi promovido a capitão. Apesar da sua imaturidade física, foi ganhando confiança com a qualidade dos seus desempenhos desportivos. Todos os colegas de equipa o respeitavam, o que permitiu o seu crescimento emocional e relacional. Lamento que neste percurso de formação poucas vezes tenha sido chamado aos trabalhos da seleção nacional, mas a seu tempo irá justamente atingir esse patamar.”

Hassan: “Apesar de ter concorrência pesada na frente de ataque e de ter pouca experiência competitiva, pois vinha de uma primeira época na equipa B de iniciados, revelou uma entrega e uma disponibilidade física que pouco tempo depois levaram a Lazio a recrutá-lo.”

David Tavares: “O David foi talvez o jogador que mais cresceu a nível de carácter ao longo da época. Não foi fácil a sua adaptação a rotinas e compromissos e tivemos várias situações críticas, masele sempre as soube ultrapassar com humildade e reconhecimento do erro, o que lhe permitiu crescer imenso como pessoa e como jogador.”

Leandro Tipote: “Habituado a resolver tudo com base na potência muscular, nessa época abriu-se aos poucos para pensar o jogo e evidenciar a qualidade de execução técnica que também possui. Apesar do físico que já possuía, era um jogador introvertido fora do campo e foi preciso realizar um trabalho ao nível emocional e relacional para melhorar substancialmente a relação com os demais companheiros.”

Tomás Silva + Nuno Moreira: “Coloco-os juntos porque, apesar de características diferentes, revelavam um potencial desportivo enorme em corpos que quase não se via em campo, mas com uma ambição e uma qualidade técnico-tática que superavam os demais.”

artigo publicado no Diário de Notícias