Há coisas do caraças e uma delas é o facto de, a duas semanas das eleições, o chavão de “banqueiro do ano” ou “banqueiro de referência” ser fortemente abalado. Tudo porque a Deloitte decidiu reabrir as contas de 2015 do Haitong (aprovadas pela KPMG) para “corrigir erros” contabilísticos.

No relatório, explica-se que foram agora reconhecidas imparidades que a anterior administração — liderada por José Maria Ricciardi — não tinha inscrito, o que fez quase triplicar os prejuízos registados pelo banco nesse ano. O candidato à presidência leonina salienta que esta mudança se deve à alteração do modelo de negócio da nova gestão. Por sua vez, o conselho fiscal já elogiou a “regularização”.

De acordo com as contas de 2015 divulgadas durante a administração de Ricciardi, o banco tinha visto os seus prejuízos baixarem de 138,5 para 35,4 milhões de euros. Nos resultados corrigidos, os prejuízos registados sobem, contudo, para 98,3 milhões de euros, ou seja, quase o triplo do valor anterior. A diferença está nas imparidades reconhecidas: passaram de 38,9 para 104,3 milhões de euros.

A alteração mais relevante diz respeito a uma imparidade de 54 milhões de euros que “decorre do facto de aquando da aquisição do Haitong Bank pela Haitong Securities ter originado uma alteração do modelo de negócio, que estava subjacente ao apuramento do goodwill inicial”, indica o relatório. O goodwill designa a diferença positiva entre o preço de aquisição de uma participada e os seus capitais próprios.

Além desta alteração nos resultados líquidos, as novas contas fazem mudar também os capitais próprios, recuando 70 milhões para 360,8 milhões de euros.

“Uma vez que os pressupostos de negócio se alteraram com os chineses a quererem fechar Londres, a Deloitte entendeu que não havia mais goodwill pelo que deveria registar imparidade a 100%, e a forma que encontraram foi de dizer que era um erro para levar a resultados transitados e não afectar as contas de 2017 que já seriam de Hiroki Miyazato e Christian Minzolini”, explica ao jornal José Maria Ricciardi. Já a KPMG preferiu não comentar a auditoria em causa.