De um funeral anunciado a um empate que acaba por ser positivo, ou a história de um jogo onde Peseiro surpreendeu tudo e todos, o benfic@ não soube o que fazer a tanta posse de bola e só acumulou oportunidades quando ela estava parada e a turma de Alvalade mostrou que, com as peças nos seus devidos lugares e com entrega à camisola, o futuro pode ser mais verde do que se vaticina

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Não sei o que José Peseiro terá pensado quando, ali por volta das duas da tarde, o Mathieu escorregou a caminho da sesta e ficou esparramado no chão, agarrado à perna. Tiveram que chamar o Coates para ajudá-lo a levantar-se e, conta-se, o uruguaio terá dito “mister, meta quem quiser ao meu lado que eu trato do resto!”.

O Peseiro sorriu, com aquele sorriso em que não percebes muito bem se está a querer imitar o Nicolas Cage quando termina os filmes a fingir que o futuro é um bonito pôr do sol ou se está a tentar disfarçar uma cólica. E trancou-se no quarto. “Música, preciso de música para relaxar!“, pensou o José, enquanto ligava a televisão para uma sessão de VH-1 e levava com o outro José, presidente transitório, a contar ao munde que Matéo tinha rasgade o múscle. Com a mão a tremer, Peseiro lá chegou ao canal que procurava e, sentado na cama, deixou-se cair para trás.

Logo agora que ele havia decidido pôr um ponto final naqueles duplos pivotic, o destino atraiçoava-o?!? At first I was afraid, I was petrified, Kept thinking I could never live without you by my side, But then I spent so many nights thinking how you did me wrong, And I grew strong, And I learned how to get along… o som saía diferente do que cantava a Gloria Gaynour, numa versão dos Cake que é tão boa que há quem ache que a música é deles, mas, sabe a Tasca de fonte segura, foi esse ritmo que convenceu José Peseiro a decidir que não ia recuar na sua decisão de surpreender tudo e todos.

E que sorriso esboçaram os adeptos quando viram que o Raphinha estava lá e que os pivotic não. Só faltava perceber onde ia jogar Acuña, mas rapidamente se percebeu: era o novo parceiro de Battaglia e um apoio vital para Jefferson, até porque Raphinha aparecia mais sobre a direita e Nani sobre a esquerda, numa repetição da vontade de laçar extremos de pé trocado. Depois, solto e pau para toda a obra, Bruno Fernandes, apoio directo de um Montero que haveria de calar quem o apelida de molenga.

Montero faria, aliás, um belo jogo, entregando-se à luta, fazendo o que não gosta – estar no meio dos centrais a levar porrada e a ir a todas – e estando directamente ligado a três dos melhores lances da partida: o primeiro remate com perigo, ali por volta dos sete minutos, depois de bela jogada de Nani; o delicioso toque de calcanhar que partiu o defesa, quando foi lançado em profundidade por Raphinha mesmo a fechar a primeira parte, pecando, depois, no cruzamento, quando tinha três homens nossos para dois do benfic@; e a tesourada que levou daquele rapaz cujo empresário inventou que ia embora por 40 milhões só para conseguir que renovasse contrato e ficasse a ganhar dez vezes mais.

Lá na tribuna, Sousa Cintra gritou “é penalte, porra!” e todos viram o mesmo (exceptuando o tal rapaz que vale milhões e que berrava que tinha tocado na bola). E assim nasceu o nosso golo, num penalti exemplarmente cobrado por Nani. Estavam decorridos 63 minutos e o Sporting desatava uma partida em que entregou a posse de bola ao adversário (acabámos com uns míseros 33%) e apostou tudo nas transições rápidas e no bom posicionamento defensivo. E a verdade é que a estratégia funcionou na plenitude, exceptuando nos lances de bola parada que acabaram por tornar Salin numa das figuras da partida. Logo aos cinco minutos, o francês sacou uma defesa que me fez começar a gritar “Ru….”, antes de engolir em seco, bater palmas e pensar para os meus botões que se aqueles cabrões não se tivessem pirado estariam mais quatro portugueses da nossa formação em campo…

Mas falávamos do Salin, não era? Bem, passaram 15 minutos e lá foi o francês novamente posto à prova, agora defendendo sobre a linha novo cabeceamento na sequência de um canto. E a forma como abordávamos as bolas paradas estava tão miserável que, logo a seguir, na sequência de um lançamento de linha lateral, o Cervi utilizou o pé que só serve para mandar bufas para, lá está, mandar uma delas. Acontece que foi tão enroladas que, às cambalhotas, se transformou num remate traiçoeiro, sempre a fugir, e obrigou o nosso redes a uma grande estirada. Diga-se, entretanto, que antes destes dois últimos lances, Acuña arrancou decidido pelo meio e disparou de fora da área, com a bola a passar perto do poste.

Ora, portanto, tínhamos os encarnados sem saber o que fazer à posse de bola e a criar perigo apenas em lances de bola parada e os verde e brancos a saber exactamente o que fazer-lhe quando a recuperavam e partiam para contra-ataque. Mas essa toada viva e cheia de oportunidades foi-se esfumando e os últimos 20 minutos do primeiro tempo foram um acumular de passes errados e jogadores a darem tudo e mais alguma coisa.

Veio o tal golo do Sporting, veio mais uma grande defesa de Salin, agora indo ao chão buscar uma bola traiçoeira vinda de um remate que tabelou nas pernas de Nani e veio o jogo de substituições. Depois de nada ter arriscado ao tirar Cervi e meter Zivkovic, Rui Vitória percebeu que ou se fazia à vida ou morria e trocou Ferreyra por Seferovic e Pizzi pelo jovem João Félix. Minutos antes, mais precisamente aos 69, Peseiro tinha trocado um apagadíssimo Bruno Fernandes por Petrovic, reforçando o miolo. Não correu bem (…) e, quando Raphinha e Montero deram o estouro fisicamente, o técnico leonino não percebeu a necessidade de injectar velocidade e profundidade na equipa. O resultado foi um golo sofrido aos 86′, capaz de trazer tanto de justiça como de amargura ao marcador, pois faltou muito pouco para conquistar uma vitória que, no cenário actual, seria um verdadeiro bálsamo.

Ainda assim, não deixa de ser encorajador ver a atitude de todos os jogadores com a verde e branca vestida (além do já citado Salin, permitam-me destacar o monstro que foi Ristovsky, o patrão que foi Coates, o papa quilómetros que foi Battaglia e o capitão que foi Nani, até na presença de espírito, fosse a contemporizar pressionado dentro na nossa área para sair a jogar (boss!), fosse a impedir companheiros de demasiada conversa junto ao árbitro) e ver que Peseiro foi capaz de mudar o chip e contagiar quem lidera num jogo tão importante. Mantenha-se esse espírito, quebrem-se cada vez mais as amarras defensivas e continue-se a cantar, cada vez mais alto,
Do you think I’d crumble
Did you think I’d lay down and die?
Oh no, not I, I will survive
Oh, as long as I know how to love, I know I’ll stay alive
I’ve got all my life to live
And I’ve got all my love to give and I’ll survive
I will survive, hey, hey