Mais uma vitória tão justa quanto suada, imagem de marca deste Sporting 18-19 ainda a viver de rasgos individuais e sem encontrar quem cole o futebol. E voltou a ser a acção de dois miúdos a resolver o que os crescidos não conseguiam e a deixar-nos a todos com um sorriso à Nani

nani-jovane

Pedia-se uma entrada forte e ela aconteceu. Exorcismo feito, com um Mundo Sabe Que que limpa qualquer espírito maléfico cá de dentro, bastou um minuto e meio para nos levantarmos da cadeira prontos a festejar. Bruno Fernandes entrou pela direita, cruzou atrasado para Nani e o remate deste foi prensado na perna de um defesa; na recarga, Acuña punha pela primeira vez à prova os reflexos de Secco, redes fogaceiro que seria uma das principais figuras da partida.

Foram 10 bons primeiros minutos do Sporting, com Acuña e Battaglia a engolirem todas as investidas feirense, Bruno Fernandes a aparecer bem nos espaços e Montero, Nani e Raphinha a fugirem às marcações daquela que era a defesa menos batida do campeonato. O colombiano teve oportunidade de isolar-se, mas deixou a bola ficar para trás; depois foi Nani, de cabeça, a não aproveitar o único erro do redes adversário e a cabecear ao lado quando a baliza estava mesmo a pedi-las.

Depois veio um livre daquele Edinho que nenhum de nós pode ver à frente e que fez a bola pentear a trave e foi como se a energia inicial se perdesse. O Feirense acertou as marcações, começou a fazer mais faltas e o Sporting foi perdendo espaço e ideias. Foram longos 25 minutos de um jogo cada vez mais dormente, até Montero ter um daqueles lampejos de classe: recebe de Nani, roda para a baliza, tira um adversário com uma simulação de corpo e dispara para o que seria um golaço. Mas voltou a aparecer Caio Secco a defender, repetindo a dose na tentativa de recarga acrobática de Raphinha. Três minutos depois, a única oportunidade de golo do Feirense, num contra-ataque de área à área que deixou Edinho na cara de Salin, com o avançado a atirar por cima.

Era preciso mexer (o Sporting chegou empatado ao intervalo nos 4 jogos desta temporada e diz a estatística que se juntarmos a época passada, o Sporting não consegue ter vantagem no marcador nos primeiros 45 minutos há 8 jogos), mas Peseiro confiava nas escolhas iniciais e foi com elas que regressou. Acontece que Bruno Fernandes está claramente em baixo de forma e sobra-lhe transpiração em vez de inspiração. Acuña também nada acrescentava em termos de criatividade e a equipa, órfã de quem ligasse o jogo e com Nani demasiado amordaçado à ala, perdia-se cada vez mais em lançamentos longos para Raphinha, esperando que ele tirasse um coelho da cartola (onde é que nós já vimos isto?).

Felizmente que Peseiro percebeu o mesmo que milhares e milhares iam percebendo e, no limite dos limites para a substituição (faltavam 25 minutos para o final), tirou Jefferson, recuou Acuña para a lateral, puxou Bruno Fernandes para o lado de Battaglia, libertou Nani e meteu Jovane Cabral lá para dentro. Estavam criadas as condições para haver largura, critério na transição, velocidade e trocas posicionais suficientes para abanar a defesa contrária. E assim foi.

Os últimos 20 minutos foram um total sufoco para o Feirense e um crescente desespero para os adeptos leoninos, que viam as oportunidades amontoar-se sem que uma bola entrasse. Nota muito positiva para os 39 mil que estiveram em Alvalade e que, apesar dos assobios idiotas de quem acha que o Nani não pode ter a bola nos pés mais de dois segundos, se uniram para ajudar a carregar a equipa rumo ao golo. Jovane e Battaglia aqueceram as luvas de Secco; Nani estoirou de longe para dizer que acabara a brincadeira e do canto veio o quase golo de André Pinto (muito bem, novamente, ao lado de Coates) para mais uma defesa do sacana do marreco; mais um canto e Battaglia desvia, mas passa ao lado; o argentino volta à carga, agora com o pé, mas a resposta é mais uma defesa e depois mais outra à recarga de Coates!!!

Até que… até que o puto Raphinha pegou na bola pela direita, ensaiou a ida à linha, voltou para trás e quando viu Ristovsky a subir fez um passe fantástico por baixo das pernas de um adversário; o camisola 13 foi à linha e fez um cruzamento como mandam as regras, a pedir a entrada do ponta de lança que já era Castaignos; o holandês não chega, mas outro puto, Jovane Cabral, vê a bola ali perdida, em plena pequena área, e dá-lhe uma sapatada lá para dentro!

Explosão de alegria em Alvalade que nem o regresso final ao ferrolho foi capaz de apagar. Afinal, por esse altura, já só importava o que tinham feito aqueles dois miúdos e o sorriso do capitão, a eles abraçado, como se fosse a primeira vez que festejava de verde e branca vestida.

Called up the tealeaves and the tarots
Asked the gypsy what she sees in the palm of our hands
She saw a mountain and a wild deer running
A crazy kid becoming a better man