Foi, infelizmente, tão ou mais destacado que a vitória de sábado à noite, frente ao Feirense. Na conferência de imprensa, José Peseiro não resistiu e puxou novamente o tema Matheus Pereira, tentando fragilizar a imagem do jogador aos olhos dos adeptos e vendendo-o como um mau profissional para poder elogiar Jovane Cabral.

Como todos sabemos, a história não é nova. Na primeira jornada, não sabendo lidar com a frustração de expectativas ao ser relegado para a bancada, em Moreira de Cónegos, o extremo usou as redes sociais para questionar as opções do treinador. Esteve mal, obviamente, desrespeitando hierarquias e os próprios colegas que estavam em campo. Peseiro respondeu bem quando questionado, deixando um recado de que queria mais empenho nos treinos.

A verdade é que Matheus acabou emprestado ao Nuremberga (alguém conhece os contornos do empréstimo?) no último dia de mercado que, curiosamente, coincidiu com a conferência de imprensa de antevisão do jogo com o Feirense. E Peseiro começou a espalhar-se ao comprido, atirando um “Os jogadores que saíram da formação [Geraldes, Matheus e Palhinha] quiseram sair. O Miguel Luís, o Elves Baldé e o Thierry Correia quiseram ficar”.

Ora, depois de uma época em que a constante comparação entre os atletas das modalidades e os jogadores de futebol foi dividindo adeptos e o próprio clube, Peseiro pegava numa estratégia parecida e começava a promover o “jogador da formação bom vs jogador da formação mau”. Péssimo.

Mas ficaria pior. Matheus Pereira voltou a ser parvo e a utilizar as redes sociais para desabafar e Peseiro voltou a ter uma estranha forma de lidar com a situação, provavelmente impelido por uma vitória que festejou como se da conquista de uma prova se tratasse. “São estes jogadores que a formação tem de ter. É este caráter que queremos. Não é os que fogem quando não são titulares. Este não foge. Estes não se importam de não ser titulares, dão tudo quando entram. E não escrevem nada! Dão tudo e não escrevem nada! Dão tudo e não escrevem nada!“.

Ora, face a esta espécie de certidão de óbito a Matheus Pereira, apraz-me dizer a Peseiro que o que um jogador como este precisa é de um treinador que consiga educá-lo e potenciá-lo. De um treinador que saiba lidar com um enorme talento e com um feitio especial. De um treinador que, confrontado com esse talento e com esse feitio especial, não o descarte sendo, depois, cabrãozinho o suficiente para vir dar a entender que queria muito que ele ficasse e que saiu por opção própria. Mas achas que somos todos parvos, ó Peseiro?!? Aliás, basta esta press e aquele sorriso na possibilidade de rotular o atleta como mau profissional, para perceber que querias tanto ficar com ele como de levar dois pontapés na nuca.

Mas isto não é novidade. Foi feito o mesmo a Iuri Medeiros, por Jesus. Curiosamente, os treinadores que os recebem nos clubes por onde passam, emprestados, não os rotulam de maus profissionais. Relembro, aliás, as palavras de Luís Castro sobre Matheus Pereira, aquando da recente passagem por Chaves: “O Matheus teve aquilo que todos os jogadores têm, que é alguma dificuldade de adaptação quando aparece uma situação destas, que é mudar da capital para Chaves. E aí necessita do apoio de toda a estrutura. E foi aquilo que nós fizemos. A estrutura apoiou o Matheus, que teve alguma intermitência no início, em termos de produção, não foi muito constante, e daí até ter ficado alguns jogos de fora. Depois, quando se conseguiu adaptar de uma melhor forma, estar mais descansado e mais integrado, naturalmente o potencial dele saiu cá para fora e tem vindo a fazer uma época boa”.

Resumidamente, continuamos a desvalorizar os nossos maiores activos: os jogadores. Só faltou voltar a escutar o adjectivo “mimado”.