Nasci no final da década de 60 do século passado. Nasci Sportinguista. Acho que já o era antes de nascer… o meu Pai não deixou nada ao acaso, tal como fiz mais recentemente, já neste século, com o meu filho.

Desde cedo me habituei ao ritual de sofrer com o Sporting, de ignorar os adversários (na altura já o inevitável bullying lampiónico) e de celebrar as vitórias com entusiasmo.

A de 81/82 foi a primeira que realmente mexeu comigo… aquela equipa, aquele ataque de sonho, aquele treinador cheio de carisma, encheram-me de orgulho e de alegria pelo meu Sporting na inocência dos meus 12 aninhos. O ritual de ouvir os relatos na rádio, com todos os jogos em simultâneo, a tentar adivinhar onde era o “Gooooooooooooolo” entre o “tempo que ia sempre passando em Alvalade” fazia parte das tardes de Domingo, com o raro prémio de, casualmente, lá ver um jogo do Sporting na televisão… eram outros tempos.

No meio do “grande jejum” do futebol, as alegrias das modalidades, do atletismo, do enorme eclectismo do Sporting. Mas sempre lá, na bancada nova do velho Alvalade… desde os jogos para a Taça em que até se ouvia os jogadores (uma vez vi um gajo atirar um sapato ao Maside depois de discutir com ele da bancada para a linha… sempre me interroguei como se explica em casa chegar sem um sapato?), aos derbies com o estádio “à pinha” e, especialmente às noites europeias, que na altura eram o prato principal do futebol… muitas, desde o 3-0 ao Bilbau com um golo de sonho do Sousa que só viu quem lá estava (o jogo não foi filmado, já não me lembro porquê), os 7-0 ao Timisoara, até às desesperantes “derrotas” com o Real e com o Barcelona, por causa do golo sofrido em casa… além das outras muito mais frustrantes, com equipas mais pequenas, nacionais e internacionais, imagino que, contrariamente à minha convicção, renovada todos os anos, devido a não termos afinal os melhores jogadores do mundo, apesar das sonantes contratações efectuadas, Eskilsons, Roger Wildes e afins.

Muitos anos a virar frangos… O melhor momento, 14 de Dezembro de 1986, 7-1 numa tarde de neblina, mágica! O pior, 14 de Maio de 94, quando o menino de oiro resolveu marcar 3x e cometer mais uma injustiça cósmica contra nós, ensopados e arrasados. Pouco mais de um ano depois, no Jamor, o “Mochilas” lá me recompensou pela lealdade e, à falta do campeonato, deu-nos a merecida alegria da Taça.

Muitos anos, muitas lágrimas de raiva… tive que esperar até ao virar do milénio para chorar realmente de alegria, na noite de Vidal Pinheiro em que o País parou e se lembrou da dimensão do gigante adormecido há 18 anos… às 4 da manhã lá estava, com mais 60 mil leões, à espera daqueles heróis que fizeram o que parecia impossível e trouxeram o caneco contra tudo e contra todos… título esse tão ansiado, que me custou um anel de ouro, porque as promessas são para cumprir. Nesta noite, como em todas as de alegria, celebrações sempre únicas e partilhadas por todos os Sportinguistas… quantas vezes abracei pessoas que nunca tinha visto e nunca voltei a ver na imensidão do velhinho Alvalade? Quantas vezes todos nós o fizemos?

Dois anos depois, o Super-Mário e o Menino (agora sim) de Oiro até nos fizeram crer que depois de tão grande travessia do deserto tínhamos finalmente chegado à terra prometida do “Reino do Leão”… ilusão amargamente destruída pouco depois, novamente a 14 de Maio (maldita data), agora de 2005, com mais uma impossibilidade cósmica que contra nós insistem em aparecer, fulminantes e arrasadoras, neste caso na cabeça-ombro, ambos faltosos, de uma “girafa”.

Entretanto já o futebol tinha mudado e se tinha tornado o negócio dos empresários, fundos e milhões, a caminho do actual estado lampiónico da (sem) vergonha, que até o amador apito dourado do “café com leite” faz parecer uma coisa amadora. Foi uma fase de desencanto e descrença, que me fizeram viver com menos entusiasmo o meu Sporting… o amor e a paixão, esses não passam, hão-de morrer comigo, espero que continuem nos meus filhos. Nem é necessário relembrar tudo que nos levou a 2013 e àquele desastroso ano do 7º lugar.

Ainda me lembro (bem) da crença que depois renasceu, com a chegada de Bruno de Carvalho e, pouco depois, com a contratação de JJ, que me trouxeram de novo para Alvalade semanalmente… para voltar a sofrer a tragédia grega de 2016, desta vez a 5 de Março, com contornos trágico-cómicos de cariz costa-riquenho provocados pelo tufo de relva do Alvalade XXI que decidiu afastar a bola da maldita baliza lampiónica.

Tenho quase 50 anos de Sportinguismo, com algumas alegrias, muitas tristezas, muita crença, sempre! Nesses quase 50 anos, muitos craques, treinadores e dirigentes passaram por Alvalade, sempre apoiados pelos Sportinguistas, por isso mesmo muitas vezes considerados adeptos diferentes, indefetíveis, (d)os melhores do mundo! Os últimos meses foram os piores desses quase 50 anos, de forma quase impensável, imerecida e inacreditável.

Nunca pensei ter que ir votar para destituir um Presidente que, depois de fazer renascer a crença, chegou ao ponto de fazer o clube refém, sem conseguir avaliar os danos causados ao Sporting, parece que decidido a fazê-lo cair consigo, como que sua propriedade… e que insiste em não deixá-lo reerguer-se e continuar, como se dele fosse inseparável.

Este choque com a realidade é terrível, esmagador e indigna o meu Sportinguismo, que provavelmente continua a ser demasiado ingénuo, como em 1982. Essa ingenuidade não esquece o que de bom foi feito por Bruno de Carvalho pelo Sporting durante 3 anos e tal… mas não consegue aceitar, e muito menos perdoar, o que lhe está a fazer desde há 4-5 meses, numa espiral de loucura inaceitável, por mais que o tente justificar por amor ao clube.

Amor ao clube?! Amor ao clube tenho eu e quem o defende, sempre, contra tudo e contra todos… os Sportinguistas. Sim, SPORTINGUISTA! Nunca sportingado, sportinguense, croquete ou outra merda qualquer com que, no seu discurso já de ódio e loucura (só pode) Bruno de Carvalho decidiu fragmentar os adeptos do Sporting, naquilo que escolheu deixar como o pior do seu legado, agravado um pouco todos os dias, com o apoio dos (cada vez menos) brunistas, que entretanto querem acreditar ser uma espécie de Sportinguistas Arianos, mais puros que os “pior que lampiões” todos com que têm que partilhar o Sporting.

Mas que merda é esta?! Não cabe na cabeça de ninguém que os piores inimigos… sejam os “outros” Sportinguistas!!! O Sporting está cá há 112 anos, e estará cá por muitos mais! Muito depois de o último brunista celebrar o último dos muitos títulos que ainda irá conquistar. Se a fortuna quiser (algum dia tem de querer!), o Sporting ainda irá realizar o potencial que os muitos milhões de adeptos alimentam todos os dias e dar-lhes as inúmeras alegrias que merecem celebrar, com muitas vitórias, também no futebol.

Mas, enquanto não conseguirmos aceitar que os adversários estão fora do Sporting, alguns se calhar mesmo como verdadeiros inimigos, porque só querem o nosso mal e não olham a meios para vencer… enquanto escolhermos alimentar a guerra civil que continua a ser ateada todos os dias, esse potencial fica todo por realizar e só resulta em frustração.

Não é essa a minha escolha… não consigo deixar de escolher, sempre, o Sporting Clube de Portugal, a única instituição a que realmente pertenço por escolha puramente afectiva… e podemos mudar de tudo nesta vida, mas de clube nunca mudamos! Sporting, Sempre!

ESTE POST É DA AUTORIA DE… Lanterna Verde
*às quartas, a cozinha da Tasca abre-se a todos os que a frequentam. Para te candidatares a servir estes Leões, basta estares preparado para as palmas ou para as cuspidelas. E enviares um e-mail com o teu texto para [email protected]