Se as eleições servem para dizermos o que queremos, também servem para dizermos o que não queremos. E espero, muito sinceramente, que as eleições do Sporting que vão realizar-se hoje sirvam para os sócios dizerem um claro não a José Maria Ricciardi e a tudo o que ele representa.

Desde logo, um regresso ao passado. A um passado negro, onde o Sporting deixa de ser um clube para passar a ser uma empresa, onde as modalidades vão definhando, onde os sócios vão sendo cada vez menos, onde a mentira e os compadrios são uma constante, onde as pessoas se servem do Sporting em vez de servirem o Sporting!

Os nomes que Ricciardi escolheu para acompanhá-lo, tanto na lista como na comissão de honra, aos quais se juntam a maioria dos nomes que manifestaram apoio ao “tio”, são prova disso mesmo. E a forma como Ricciardi se movimentou ao longo da campanha tiram as dúvidas a qualquer um:

– o seu programa é uma mão cheia de nada e a forma de esconder esse vazio foi não deixar falar os outros, acusando-os de falta de experiência e de serem incapazes de tirar o Sporting do buraco financeiro;

– os números da dívida que foi atirando bateram certo, como que por milagre, com os que um tal de António Paulo Santos, membro da Comissão Fiscalizadora do Sporting veio revelar por livre e exclusiva vontade a três dias das eleições. Disse ele «o Sporting tem um défice de tesouraria no valor de 123 milhões, 60 milhões relativos ao Grupo Sporting, 32 milhões de euros referentes a pagamento de dívida a bancos, mais cerca de 30 milhões relativos ao empréstimo obrigacionista do clube. Isto representa um desafio enorme para conciliar a gestão financeira com os objetivos desportivos. Não se pode entrar em aventuras». Só faltou o tal do António terminar a intervenção com um “votem Ricciardi!”, nome do candidato que, curiosamente, levou a campanha a utilizar a expressão «A situação do Sporting é complicadíssima, não está para principiantes». Curioso…

– esta foi a tentativa de colocar a cereja no topo do bolo de um plano de comunicação assente em inverdades e em notícias que pudessem encher os ouvidos aos mais desatentos

– prova disso, além da imagem de um clube à beira do colapso financeiro, foi a forma mentirosa como que afirmou ter falado com Patrício, como a sua lista atirou para os jornais que Adrien voltaria se Ricci fosse o próximo presidente ou como teve o desplante de, num debate em directo, afirmar sem pestanejar que tinha falado com a NOS e estava a par de todo o contrato. Tudo desmentido pelos citados intervenientes, mas tudo passível de chegar aos jornais e televisões e de ficar na memória de quem não está habituado a confirmar o que escuta ou lê

– pelo meio, ainda acolheu de braços abertos dois elementos da Comissão de Transição, num subverter completo de todas as regras e da promessa de que nenhuma das pessoas pertencente a essa Comissão integraria uma das listas. Que informações privilegiadas terão transmitido?

Tudo pérolas do candidato que nunca foi ver um jogo ao João Rocha desde a sua inauguração (iap…) e que resolveu apostar no Tinder, uma tentativa desesperada de ter piada e de piscar o olhos a gerações que não aquelas que, maioritariamente, vão votar em si. Sim, Ricciardi preparou a campanha para conquistar os que representam mais votos nas urnas e que ensurdecem e cegam assim que ouvem dizer que o Sporting está mesmo mal, não tem dinheiro para despesas correntes e ainda corre o risco de ser ultrapassado pelo braga. A solução, diz o banqueiro, é votarem nele, o tal que, quando questionado sobre se for eleito o Sporting vai conseguir ter competitividade responde com outra mão cheia de nada: “Certezas absolutas ninguém pode dar, mas somos de longe a candidatura que oferece mais garantias aos sócios.”

Uma pérola, não é? Então atentem nesta: “Fui muito bem recebido na Luz, tenho uma profunda e total rivalidade com o Benfica, mas tem de ser jogada nas quatro linhas e não nos insultos. Esta é uma indústria em que temos de nos dar todos civilizadamente uns com os outros. Vou reatar relações com Benfica e ter relações com todos. Não quer dizer que as pessoas não defendam até à última gota os interesses do seu clube… tudo o que tem que ver com a justiça, seja de que clube for, doa a quem doer, tem de ser apurado, e se houver alguma coisa as consequências têm de vir. Mas não vou andar a explorar isso.”

Ele não vai explorar isso, claro. Mas vai explorar «um mercado que ninguém aproveita, que é o angolano, e que tem uma ligação emocional fantástica ao Sporting. Temos de explorar esse mercado… o Sporting Lobito, o Sporting Cabinda, Sporting de Luanda, Angola é um país fortíssimo em África e que amanhã nos pode vir a alargar o enormemente o número de adeptos e daqueles que seguem os nossos jogos.»

Ah, Angola, esse país de onde chega a voz de Álvaro Sobrinho dizendo José Maria Ricciardi reúne o que ele considera necessário para ser o presidente que o Sporting precisa neste momento. Caro Sobrinho, do que o Sporting precisa, neste momento, é de ter uma maioria de sócios capaz de dizer um rotundo e sonoro NÃO a tudo o que José Maria Ricciardi representa!

jose maria ricciardi