Num jogo que chegou a ser chato e com Alvalade a meio gás, foram lampejos artísticos a quebrar a monotonia e a conduzir o Sporting a uma vitória no primeiro jogo da Liga Europa

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E se o grande destaque de 45 minutos de futebol fossem as opções tácticas com que um treinador inicia o jogo? Talvez seja exagerado, porque até houve dois ou três momentos capazes de nos fazerem mexer na cadeira, mas essa acabou, mesmo, por ser a nota de maior destaque da primeira parte do Sporting vs Qarabag, partida que assinalava a entrada dos Leões na Liga Europa.

Peseiro deu a titularidade a Gudelj ao lado de Battaglia e colocou Acuña do lado esquerdo da defesa, algo que até soa a natural tendo em conta a evolução do Sporting neste início de época. Mas se, na teoria, esse encaixar de peças seria meio caminho andado para um bom jogo, a verdade é que a primeira parte foi um longo bocejo, apenas sacudido por um dos regressados, Mathieu. O central tentou de livre directo, depois tentou marcar na sequência de um canto e como a bola teimava em não entrar, recordou os tempos em que era lateral esquerdo, fez uma maldade a um adversário, foi à linha e meteu redondinha para Montero tentar marcar de calcanhar. Seria um daqueles golos que ficaria para a história, mas acabou por ser o ponto final numa primeira parte que nos deixou mais empedernidos do que o Bruno César a assistir a um jogo de andebol.

E foi preciso esperar 15 minutos do segundo tempo para a turba se agitar. O Sporting tinha entrado a pressionar mais alto, Gudelj utilizava as últimas barritas de energia para ajudar a empurrar os azeris, mas seria dos pés do capitão, Nani, que nasceria o desbloqueio: arrancada pela direita e pura classe a cruzar rasteiro, daqueles cruzamentos onde o guarda redes não chega e onde a bola rola perfeita para alguém encostar. Esse alguém foi Raphinha, cada vez melhor, cada vez mais solto, sempre com aquele sorriso que qualquer um de nós teria se estivesse lá em baixo com aquela camisola.

Estava feito o mais complicado, mas a esperança de que surgissem mais golos foi-se desvanecendo na pouca velocidade, na pouca verticalidade, na ausência de quem jogasse entre linhas e na constante fuga de Montero da zona de ponta de lança, com o colombiano uma, duas, três vezes, a vir jogar e fazer jogar e a acabar por ser ele a centrar para… onde ele devia estar. A ausência de Dost, única referência de área neste plantel, foi problema não resolvido e que, agora, terá que ser contornado.

Isso não significa que Montero jogue mal, bem pelo contrário. Montero é craque dos pés à cabeça, mas não é ponta de lança. E, ontem, depois de ter sido o melhor contra o Marítimo, para a Taça da Liga, resolveu desafiar os adeptos da intensidade, pressionar um defesa, roubar-lhe a bola, espetar-lhe uma cueca de calcanhar e oferecer a Raphinha a possibilidade de assistir o recém entrado Jovane Cabral para o golo que matou o jogo.

Um jogo quase sempre chato, para alguns pragmático, com aquela sensação de que vai correr bem mas que a qualquer momento uma bola às três pancadas poderá fazer correr mal, que acabou resolvido por lampejos de classe de artistas a quem vai sendo dada liberdade táctica para ensaiarem o que de melhor sabem fazer. E, com esses momentos de brilho momentâneos, o Sporting entrou a ganhar na Liga Europa e segue vencedor nas diversas provas em que está envolvido. Não é motivo para festejos, mas, pelo menos, é coisa para deixar qualquer Sportinguista com um leve sorriso.