Entendo a mudança de estratégia de comunicação por parte da nova direção. Faz sentido, especialmente tendo o clube saído de um Carnaval mediático que durou vários meses. Mas, como em tudo na vida, passar do excesso de exposição para um vazio comunicacional não é um ganho, é apenas um enorme contraste. Há matérias onde o Sporting não deve, nem pode, simplesmente silenciar-se. A que mais me preocupa é sem dúvida o contencioso que o nosso rival Benfica tem na Justiça.

Todos os dias são conhecidos novos dados sobre a enorme teia de interesses e ilegalidades praticadas ao longo de várias épocas pelos dirigentes do nosso vizinho da 2ª circular. Saem e-mails, dados da investigação, notícias, associações entre indícios e factos, provas em abundância em como, sistematicamente e propositadamente, o Sporting assim como todos os outros competidores internos, foram afectados indirectamente e directamente por estas práticas. Desde que a Comissão de Gestão tomou posse, o Sporting isentou-se de ter parte ativa no debate destes processos. Erro crasso.

Assistir silenciado a toda a exposição de como um dos nossos maiores rivais manietava a arbitragem, a Federação e a Liga, os cargos mais próximos do desporto no Governo e muitas outras instituições e cargos, é no mínimo uma péssima forma de mostrar a quem vai decidir as consequências destes processos toda a nossa indignação e sede de justiça. Vivemos em Portugal, a pátria do “quem não chora, não mama”, este é o país onde nada se consegue permanecendo calado e imóvel à espera que as instituições funcionem.

Daqui por largos meses, estará em cima de uma mesa a decisão de prosseguir ou desistir de todos estes processos e investigações. Essas pessoas terão inúmeras pressões exteriores para que se diminua o impacto das penas. Sabemos através dos e-mails e e-toupeiras até onde a governance do Benfica está disposta a ir, que meios e chantagens está disposta a fazer e caberá a alguns juízes avaliar o que será Portugal depois do fim destes processos. Teremos uma nação mais credível, justa e democrática? Ou afundaremos na suspeição de que os corruptos e os espertos definitivamente ganharam a guerra?

É nesta enorme batalha pelo desporto e mesmo pelo país, que o Sporting ignora passar obrigatoriamente por definições constantes e assertivas na opinião pública. Algo que o Porto não cessou de fazer desde o dia zero e muito bem. É aliás curioso que durante a campanha eleitoral, todos os candidatos se tenham manifestado perplexos com a diminuta preponderância que o Sporting tem nas decisões do futebol nacional. Terão eles a noção que é por estes tipo de silêncios e “não idas à luta” que estamos onde estamos? Terão eles a noção que a razão porque BdC não conseguiu mais apoio às posições do Sporting foi o enorme esforço do Benfica em manter as hostes bem nutridas de promessas e ajudazinhas?

Terá Varandas a noção que nada no futebol português é ganho pela seriedade, mas sim pela troca de favores? Compreenderá o nosso atual presidente o quanto perde o Sporting em não fazer ver ao Governo que o nosso clube “irá até às últimas consequências” (palavras ditas pelo próprio) para que a Justiça cumpra o seu papel? Entenderão os nossos dirigentes a estupidez de não usar a voz do clube e dos seus adeptos em prol do jogo de pressões mediáticas que está em curso? Não verão os nossos responsáveis que é neste campo que o Benfica mais concentra o seu esforço, dando a Gabinetes de Crise livre trânsito para silenciar todas as formas e espaços de opinião contrárias a um “deixem a justiça decidir e vamos falar só de bola”?

Eu espero que não. Espero, antes, que o Sporting de hoje seja mais do que um grupo de senhores que confunde paz, com desistência. Espero que tenham sangue vivo para manter o Sporting na luta e não almas dadas ao sossego de neutralidades cobardes. Espero sinceramente que não deixem a indignação dos adeptos leoninos e as nossas vozes críticas morrer na praia das sondagens políticas e nos sorrisos estupidos de um Primeiro Ministro que se “vende” nos Camarotes Presidênciais no Estádio da Luz.

Conto também que tenhamos a decência de não temer fantasmas de Cashballs, essas aparições fugazes tão convenientes que surgem sempre quando a temperatura sobe em Carnide e depois se desvanecem em “rumores” que vai acontecer isto e aquilo, sem que nada – de facto – aconteça. Aliás, devo recomendar aos nossos dirigentes que devem desejar e pressionar até onde for possível a profunda investigação desse caso, especialmente a sua origem, especialmente quem está por detrás de súbitos arrependimentos. É que, não me custa nada a acreditar que os mesmos que nos acusam o dedo, sejam os mesmos que plantaram memórias e muitos euros em almas mais dadas a “mea culpas” tardios.

Caro Varandas, ouvi atentamente as suas promessas de luta pela verdade desportiva e posições firmes contra os casos de corrupção. Não espero nem aconselho que se desgaste pessoalmente dando a cara e voz a esta batalha, tanto como espero que coloque os meios do Sporting e toda a expressão da nossa força a denunciar a gravidade de tudo isto. Não o fazer, não o permitir, desistir de quem o faz, será um primeiro e enorme erro de comunicação. Tão ou mais grave do que os que o seu antecessor terá cometido. Pense nisso.

*às quartas, o Zero Seis passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca