… eu tinha 12 anos e vivia os primeiros dias de um novo ano lectivo, de uma nova escola, de um novo mundo longe da preparatória ao lado de casa. Nesse arranque de 7º ano, aproveitando para encontrar nos intervalos amigos que haviam sido espalhados por outras turmas, jogava o Sporting. Em Nápoles. Contra a equipa do Maradona, do Careca, do Alemão. E depois de empatarmos 0-0 no velhinho Alvalade, na primeira mão.

Mas era o Sporting, porra! Era o Douglas, o Luisinho, o Oceano, o Ivkovic, o Cascavel… também havia o Leal, mas naquele tempo qualquer um que vestisse a verde e branca era o melhor do mundo. Mesmo que fosse o Miguel, mesmo que fosse um Ali Hassan, mesmo que fosse um Sérgio e o seu bigode a defender as redes, mesmo que fosse o Valtinho que mais ninguém no mundo rematava como o Valtinho (pelo menos para mim e para todos os putos Sportinguistas).

E era altura de escapar às aulas de apresentação e trocar as moedas que acabavam trocadas por calendários da Samantha ou da Sabrina por uma Spur Cola ou duas para ganhar lugar no café.

Tal como em Lisboa, o jogo ficou a zeros. Nos 90 e nos 120. Penaltis. Nem mais uma moeda para a molhar a garganta seca, ali perdido entre companheiros de guerra e outros a torcer pelos outros. Estávamos a um bocadinho de eliminar uma das melhores equipas de todas as melhores equipas e quando o Tomislav defendeu o penalti do Cripa, logo a abrir, o coração acreditou ainda mais. Depois o Luisinho falhou. E o Careca marcou. Veio o Douglas e eu sabia que o Douglas, que até tinha feito uma cueca ao Maradona e que usava o cabelo e as meias como eu usava o cabelo e as meias, jamais falharia. E não falhou. Eles fazem o 2-1 e o Marlon, camisola 10, marca tão bem que mete o redes num lado e a bola no poste. “Foda-se!”.

3-1 para os gajos. 3-2 pelo Cascavel. Penalti decisivo, nos pés do Maradona. “Vai falhar!”, gritava eu e gritavam os outros jovens Rampantes, num café tão cheio como pode estar cheio um café que é o único com televisão num raio de não sei quantos kms e ao lado de uma escola secundária. E naquele “peão improvisado”, olhando todos lá para o alto como se fosse a relva lá em baixo, vimos o Tomislav defender e o Diego Armando colocar as mãos na cara! Loucura, tanta que quase a sinto de volta ao som das cadeiras a arrastar.

Segue-se o Carlos Manuel, a empatar, e entramos na roleta russa. Eles marcam primeiro e o Gomes atira uma buja à barra (se era para ser buja, tivessem mandado o Valtinho, porra!). Estamos fora, caindo de pé.

Naquela tarde de 27 de Setembro de 1989, o Sporting perdia, mas eu ganhava referências de quem eram os Sportinguistas que andavam naquela escola. E ganhava aquela defesa do Ivkovic que, nos meses seguintes, me fizeram romper as joelheiras e “escavacar” joelhos e cotovelos vezes sem conta.