Uma ideia de jogo não é assente apenas na disposição com que os jogadores são colocados em campo, mas nas funções atribuídas a cada jogador na forma como são colocados em campo. Qualquer medíocre jogador de FM saberá este básico conceito daquilo que é o trabalho diário de uma táctica, de uma ideia ou de um sistema.

José Peseiro, um treinador cheio de fantasmas que decidiu abraçar o projecto de um clube cheio de bombas, escolheu pela primeira vez em muitos anos jogar com um duplo pivot defensivo no meio campo, algo que os sportinguistas não viam desde que Jesualdo Ferreira tomou as rédeas de uma cambada de putos e ainda tentou lutar pela Europa. Mesmo sem (em princípio) gostar da ideia de um Sporting medroso, que privilegia a ilusão da segurança defensiva em vez de um futebol virado para o ataque, explosivo e positivo, entendo que a falta de tempo, de plantel, de opções e de estabilidade precipitaram as convicções de José Peseiro de que esta seria a melhor forma de ir vencendo, de fechar os caminhos para a baliza e de tentar crescer em torno de vitórias.

O problema é que nunca descobriu bem com quem ia aplicar este plano. E neste momento, partindo para a sexta jornada, não me admiraria que o meio-campo sofresse novas alterações e que até final da temporada por ali andem mais três ou quatro protagonistas. Porque não me parece que seja apenas uma questão de atletas em fora de forma, mas sim de atletas que não conseguiram ainda interpretar, perceber e valorizar-se num modelo que não é compatível com as suas características nem com o clube onde estão.

O duplo pivot não tem de ser sinónimo de futebol sem ideias, bolas longas e zonas de pressão pouco definidas (que assustador foi ver correr os nossos para o vazio no Municipal de Braga). Um duplo pivot não deve nunca ser sinónimo de absoluto buraco entre a zona defensiva e ofensiva, deixando à sorte e abandono os jogadores responsáveis pela criação. Como pode Bruno Fernandes estar mais perto de fazer o que faz melhor (criar, participar, pensar) se Battaglia e Gudelj não entram por uma única vez numa jogada colectiva? Se o meio-campo não acompanha o movimento ofensivo? Impossível.

Falta risco neste Sporting, falta um treinador que imponha a sua ideia sem esquecer que os pergaminhos do clube não são compatíveis com uma postura medrosa, de quem prefere não sofrer a marcar. Falta integrar neste modelo (ainda que a espaços) alguns jogadores que podem trazer mais criatividade e critério de passe ao meio campo defensivo, como Wendell, Miguel Luís ou Daniel Bragança. Falta Sturaro, que em forma será sempre um upgrade em relação ao totalista e cansado Battaglia. E falta que os jogadores se soltem, que assumam o estatuto que o clube que os contratou lhes conferiu, por sorte e talento, sem medos.

E se mais provas precisámos de que a táctica disposta em campo não deve influenciar o espectáculo, aqui está o golo do Chaves (outro clube que aposta num duplo pivot) a segundos de terminar uma partida frente a um dos grandes do futebol português.

PS: Presi Varandas, Hugo Viana, Beto… Stephen Eustáquio, tratem lá disso.

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa