E quando dás por ti, estás de pé. Tu e todos os outros. Mesmo aqueles que sofrem em silêncio, roendo unhas, cruzando pernas, contraindo os músculos, como se aquele ritual fosse uma prova de fé que deve ser ultrapassada interiormente e não com gritos a roçar o boçal, capazes de provocar os sorrisos mais aprovadores ou condenadores de que terás memória.

Esses, os que olham qualquer um que não vista as nossas cores como filho de mãe incerta e ficam à beira de uma apoplexia assim que soa o apito inicial, esqueceram o papel de William Foster e transformaram o seu momento Um Dia de Raiva numa catarse colectiva à qual é impossível fugir.

E os rostos, sem idade, naquele misto de ansiedade e de certeza de que se não resolvem eles na quadra, resolvemos nós na bancada. Há quem diga que já não tem idade para isto e tema que os comprimidos para a tensão se revelem insuficientes. Há quem se agarre à possibilidade mágica de ter escapado ao “tu ainda não tens idade para ir…” e ali, ao lado de quem lhe deu entrada nesta história que há-de ser interminável, se sinta às cavalitas do Smerg.

Ah, o amor, essa coisa que nasce da paixão e se alimenta dela, lapidando-a como pedra preciosa que se te incrusta na pele e te pinta o coração em tons de jade. Essa coisa que não se explica, mas que transforma duas horas do teu dia num carrossel de emoções que te leva das lágrimas ao riso a tal velocidade que quando a volta termina só pedes mais uma. E mais outra. As que for possível, para encher uma caixa de memórias que te farão voltar a vibrar quando o tempo passar.

Há quem tenha crescido assim, numa sala mais modesta a quem chamavam Nave. E que tenha passado anos a olhar para o céu à espera que ela voltasse enquanto, de pés no chão, caminhava em direcção às casas emprestadas onde deixavam parar estes resistentes. Hoje aqui, amanhã ali, recusando-se a desistir de um sonho, de uma paixão, de um amor maior. Há quem não faça a mínima ideia de que esses tempos existiram, jovens mutantes e jovens jedis para quem o passado é agora e a quem custa acreditar que amarelados recortes de jornal sejam prova de algo quando basta sacar do faz tudo e gravar um vídeo que chega tão depressa à net como uma bola rematada rumo à felicidade.

É neste cruzar de mundos que o nosso gira. E quando dás por ti, estás de pé. Fora do teu lugar. A ocupar o lugar de outro que ocupou o teu. A cerrar o punho para conter as emoções. A olhar embevecido quem queres que escreva esta história contigo. Tu e todos os outros. Entre os que sonharam e os que agora crescem nesse sonho, pinta-se o amor a pinceladas grossas, verdes e brancas, atiradas ao sabor de algo que não sabes controlar quando sentes que os que vestem a tua camisola dependem do teu apoio para chegar às conquistas.

E tu apoias, perdes o controlo, entras numa nova dimensão em que só saberás que estiveste quando, de coração cheio a transbordar e alma renovada, olhares a pequenada a dar mais cinco aos seus ídolos série B e perceberes que estás afónico, exausto e te sentires como se tivesses levado uma carga de porrada quando, que raio, foste só ali ao João Rocha.