A jogar contra um adversário paupérrimo, o Sporting conseguiu ser um deserto de ideias ao longo de 89 minutos. Depois, Peseiro aproveitou a ida à invernosa Ucrânia para contrariar todos aqueles que lhe chamam pé frio, virando a partida por obra e graça dos três gajos que saltaram do banco

montero-poltava

Peseiro não foi de modas e, de visita a Poltava, iniciou a gestão do plantel face a um momento da época com jogos consecutivos. Bruno Gaspar saltou para a direita da defesa, Jefferson não saltou mas apareceu na esquerda, Acuña voltou ao meio campo, Nani regressou do cantinho da pausa enquanto Mané e Diaby tiveram a sua primeira titularidade da época.

E se no papel a ideia era boa e fazia sentido face ao adversário, na prática correu tudo mal. Os laterais foram confrangedores; o meio campo foi uma confusão pegada, com Bruno Fernandes, num momento de forma terrível, a não perceber se devia ser 8 ou se por lá aparecia o Acuña e o Mané descaía à esquerda; o ataque feito de gente com velocidade foi de uma assustadora lentidão de processos. E se isto é tudo mau, mas mau a valer, imagine-se como fica ainda pior quando antes dos dez minutos a tua defesa alivia mal a bola, ela vai parar aos pés do gajo que já se sabia ser o que remata bem de fora da área e a redonda acaba a beijar a rede depois de uma estirada meio patética de Salin que lhe toca mas não a defende.

Os ucranianos, que já de si não se importam nada em encolher-se no terreno e defender em 6-3-1, estavam nas sete quintas. E por lá ficaram, tranquilamente, vendo o Sporting rodar a bola de um lado para o outro e do outro para o lado, sem uma ideia, sem fio de jogo, sem algo que desse alento a quem olhava aquela pobreza. Já nos descontos, Jefferson sacou um cruzamento, a bola é desviada e acaba nos pés de Nani que, com tudo para empatar, permite a defesa do redes.

O segundo tempo abre com Acuña a tentar o golo da semana, mas o arco feito a vários metros de distância acaba a fazer cócegas ao ângulo da baliza. E depois… o depois. Mais uma mão cheia de nada. Mais um crescente desespero, vendo-nos sem capacidade para ultrapassar uma equipa em que vários dos jogadores não conseguem fazer dois passes seguidos a meia dúzia de metros. O pior é que nós estávamos iguais ou piores, perdendo bolas e bolas e bolas (dizem as estatísticas que só Jefferson perdeu quase 30 vezes o esférico!!!).

Montero, Jovane e Raphinha já lá estavam dentro, nos lugares de Mané, Petrovic e Diaby. Coates já era ponta de lança. A equipa estava partida, numa anarquia desesperada procurando uma porta naquela molhada de ucranianos estacionados à entrada da área, dentro da qual Montero tentou de bicicleta o que ninguém conseguia com os pés no chão.

Pull me out of the aircrash… Pull me out of the lake… ‘Cause I’m your superhero… We are standing on the edge

Até que o mesmo Montero resolveu dar a um jogo de trolhas um momento filigrana: mata no peito, desequilibra o marcador, finta o segundo e saca do pé esquerdo para uma colherada perfeita e tranquila a entrar ao poste mais distante. Golaço do colombiano e resposta tresloucada dos da casa, atacado em massa como se o mundo fosse acabar e deixando completamente desprotegida a sua defesa. De um lançamento de linha lateral favorável ao Poltava, surge uma recuperação que coloca a bola nos pés de Raphinha. 3 para 2. Vai, cara… I’m on a roll, I’m on a roll this time, I feel my luck could change… a bola já está no Bruno Fernandes e o Bruno Fernandes nem consegue dominá-la, mas o manekineko Jovane fica com a sobra e só tem que encostar para a baliza deserta.

O que faltava em futebol sobrava em crença e, assim, na noite em que Peseiro aproveitou a ida à invernosa Ucrânia para contrariar todos aqueles que lhe chamam pé frio, o Sporting virava a partida por obra e graça dos três gajos que saltaram do banco e garantiram uma vitória que era uma obrigação.