Ponto prévio: considero completamente despropositado associar o pedido de demissão de José Peseiro a um pedido de demissão da direcção. Feita esta ressalva não podemos, no entanto, aceitar que Frederico Varandas mantenha o silêncio em relação ao que se passa com a equipa de futebol profissional.

O actual presidente do Sporting Clube de Portugal assumiu, durante toda a campanha, que seria ele o responsável máximo pelo futebol leonino. E também prometeu que, nos maus momentos, seria ele a dar a cara e a falar pelo Sporting.

Ora, acontece que este é um mau momento. Não só de ontem, mas um mau momento que se vem agravando, com a qualidade futebolística da equipa a parecer cada vez pior, sem sinais que permitam acreditar que, mantendo o treinador, algo vai melhorar. E, até ao momento, existe um profundo e cada vez mais inexplicável silêncio por parte do responsável máximo pelo clube e pelo futebol.

Varandas jamais poderá ser responsabilizado pela contratação de José Peseiro, mas sê-lo-á pela forma como gerir o desempenho do treinador. E se dou de barato que existisse uma margem de manobra para quem agarrou numa equipa em fanicos, diria que essa margem se esgota a cada novo jogo e a cada nova demonstração de ausência de qualidade, de rasgo, de coragem.

Perante um cenário que nada de bom augura, eu tenho certeza do que considero fazer sentido: face à possibilidade de desperdiçar totalmente uma época com um treinador que nem hoje nem para o ano terá qualidade para dirigir o Sporting, é infinitamente preferível tentar inverter o rumo e, mesmo não o conseguindo, estar a dar passos na preparação do próximo ano. Isso leva-nos a uma questão fundamental: a escolha do próximo treinador.

Num mundo que considero lógico, até antes de ser eleito presidente Frederico Varandas devia ter criado, juntamente com as pessoas que escolheu para agarrar na pasta do futebol, uma lista de dois ou três nomes que seriam a sua aposta no caso de ter que substituir José Peseiro (o mais natural). No fundo, uma lista com os nomes dos treinadores que, caso tivesse sido ele a preparar a época, seriam a sua escolha para, num projecto sustentando e assente na formação (outra das promessas eleitorais), conduzir o Sporting ao sucesso. Nesse mesmo mundo que considero lógico, o momento de tentar contratar um desses nomes seria… ontem à noite!

Mas, claro, Frederico Varandas pode acreditar que não é este o momento. Ou nem sequer ter essa lista de nomes. O que não pode é remeter-se ao silêncio e nem por parte de um dos homens mais chegados ao plantel senior, Beto e Hugo Viana, existir uma palavra aos sócios e adeptos. É altura de assumir o que se quer a curto e médio prazo, tendo a coragem de apoiar o actual treinador ou de convidá-lo a sair.