Bruno Jacinto, o funcionário do Sporting que tinha o cargo de oficial de ligação aos adeptos, e mais concretamente às claques, foi detido no âmbito da investigação ao ataque à Academia Sporting, ocorrido a 15 de Maio.

De acordo com o jornal Expresso, Jacinto telefonou ao director de operações da Academia de Alcochete às 16h55 de 15 de maio, ou seja, 14 minutos da invasão do centro de estágios do clube leonino feita por meia centena de adeptos da Juve Leo. Nessa chamada, Bruno Jacinto revelou a Ricardo Gonçalves, responsável pela segurança da Academia, que elementos da Juventude Leonina iam a caminho “para falar com a equipa”.

Pouco tempo depois, Ricardo Gonçalves contactou o comandante do posto da GNR de Alcochete para o avisar da invasão. De acordo com os dados oficiais da GNR, os militares foram alertados às 17h06, chegando à Academia às 17h20. De acordo com os autos a que o Expresso teve acesso, os jogadores e o staff do Sporting foram surpreendidos com a entrada na Academia do grupo de encapuzados.

De acordo com o seu depoimento, este alto funcionário da Academia reconheceu alguns dos membros da claque (nomeadamente Alan, Valter, ‘Bocas’ e o ‘Ucraniano’), que entraram 14 minutos após o telefonema de Bruno Jacinto: mais concretamente às 17h09. “Disseram para a testemunha sair da frente e a testemunha seguiu o grupo a tentar demovê-los da sua intenção.”

O portão da entrada principal encontrava-se aberto às 17h09 e o porteiro não terá sido avisado por Ricardo Gonçalves. No relato dado à GNR, o porteiro garante ter sido alertado por funcionários de recolha do lixo que se encontravam no local que tinham visto “um grupo elevado de indivíduos de roupas escuras e alusivas ao Sporting” a deslocarem-se para a Academia. Naquele local encontravam-se ainda jornalistas, que fugiram dos invasores. O porteiro garantiu que nada podia fazer para controlar a situação, uma vez que o grupo encontrava-se em “grande superioridade numérica” e deslocava-se em passo de corrida “com aspeto ameaçador e intimidatório”, ordenando-lhe que ficasse sossegado. O porteiro refugiou-se na cabina, sem nada poder fazer. Contactou ainda Ricardo Gonçalves a informá-lo da invasão mas este encontrava-se noutro local da Academia, juntamente com a equipa.

Recorde-se que Bruno Jacinto é fundador do Directivo XXI e membro da Juve Leo, tendo assumido o cargo de novo Oficial de Ligação aos Adeptos (OLA) do Sporting em Março de 2017, tendo preenchido um cargo que estava em aberto devido ao acumular de várias funções do Diretor do Gabinete de Apoio, André Geraldes.
Bruno Jacinto será ouvido hoje, no Tribunal do Barreiro, arriscando prisão preventiva e podendo ser acusado de ter tido conhecimento prévio do crime, da sua preparação e execução, sem nada fazer para o evitar, ajudando, ainda, à fuga dos agressores para que não fossem detidos.

Responde, tal como os outros 37 presos, a maioria da Juventude Leonina, por crimes de terrorismo, sequestro, ofensa à integridade física qualificada, ameaça agravada e dano com violência. Bruno Jacinto, que não estava em Alcochete na altura do crime, a 15 de maio, chegou logo depois. E terá evitado que o grupo onde estava Fernando Mendes fosse preso, permitindo que Nuno Torres saísse e levando-o no seu carro até ao BMW que aquele tinha estacionado a poucos quilómetros. A seguir ter-lhe-á dado entrada na Academia com o BMW para que retirasse os chefes da Juve Leo, entre os quais Fernando Mendes.

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Entretanto, e de acordo com o CM, o juiz de instrução do Barreiro terá rejeitado o pedido da constituição de assistente por parte de Bruno de Carvalho no processo de invasão da Academia. O jornal aproveitou para tentar colar a essa decisão um possível envolvimento do ex-presidente leonino no ataque, mas o rumor foi perdendo força ao longo do dia, terminando “esmagado” por uma notícia do Observador segundo a qual «a contestação que o Sporting enviou entre julho e agosto para o Tribunal Arbitral de Desporto (TAD) no processo de rescisão unilateral de Daniel Podence, que entretanto assinou contrato com o Olympiacos, “iliba” o clube, a SAD e o antigo presidente Bruno de Carvalho de qualquer ação ou ligação, direta ou indireta, ao ataque de 15 de maio na Academia, em Alcochete. No documento, a que o Observador teve acesso, que foi feito ainda na vigência da Comissão de Gestão que cessou funções após as eleições, são ainda dados exemplos de outras invasões a centros de treino de clubes nacionais.»

É inusitado que se sugira que as declarações públicas do então presidente da Sporting SAD possam ter sido, em si mesmas, causa dos incidentes em Alcochete. Cumpre, aliás, sublinhar que o Sporting, enquanto clube desportivo, deve justificar os seus resultados aos sócios e adeptos, pelo que natural se torna que não só as vitórias futebolísticas sejam vividas publicamente, mas que também os resultados menos positivos sejam reconhecidos e assumidos publicamente, atento o escrutínio público que, é, no desporto – e, sobretudo, nesta modalidade –, incontornável”, destaca a defesa verde e branca. “O que não retrata, aliás, como já se referiu, nada de novo no mundo do futebol profissional, nem algo de estranho ou que os jogadores do Sporting (e de outros clubes) não estejam (ou não devessem estar) preparados para enfrentar”, prossegue, antes de falar de invasões a centros de treino de V. Guimarães, Benfica, Sp. Braga, Académica e inclusive dos árbitros, na Maia. (podes ler a notícia completa e grande parte da defesa, aqui)