Novos resultados decepcionantes da equipa de Juniores e sub23 (derrota frente ao Benfica e Estoril respectivamente) levam-me esta semana a alterar ligeiramente o formato desta crónica.

Haverá algo mais à Sporting do que perder absolutamente o timing ideal para construir algo melhor? Penso que não. Há apenas duas temporadas Alcochete via os seus juvenis revalidarem o título de campeão nacional, os juniores praticarem um futebol incrível e a vencerem o campeonato sem rival, os iniciados a lutarem até à última jornada e os escalões que competem a nível regional limparem todas as competições de forma invejável. Era consensual: o Sporting tinha em mãos uma fornada de jovens cheios de potencial, cheios de talento e que, misturados com alguns dos mais velhos atletas que iniciavam o futebol profissional, resultava num futuro entusiasmante para o clube e para o futebol português.

Foram muitos os nomes que aqui fomos falando, muitos os golos partilhados e, a bem da verdade, muita é a esperança que continuamos a ter em imensos atletas que provam todas as semanas ser o futuro a curto prazo de um dos clubes com mais tradição formadora do mundo.

Mas lá está o maldito timing, que parece perseguir qualquer tentativa de construção de um clube melhor. Numa altura de afirmação das nossas pérolas, uma equipa B pejada de opções estranhas viria a descer de divisão. E no meio do caos que vivemos nos últimos meses, confirmamos agora que muito daquilo que nos foi prometido (melhores profissionais, melhores condições, mais aposta no que conseguimos produzir) não foram mais que armas de arremesso políticas, usadas por uma direcção no poder e pela sua oposição.

A formação do Sporting é hoje melhor do que há 6 anos? Muito possivelmente sim. Mas muitas dessas melhorias foram conseguidas graças a um punhado de profissionais com um sentido de devoção aquela Academia e ao talento dos muitos jogadores que fomos conseguindo encontrar. Não se sente um claro crescimento e uma profissionalização que acompanhe os tempos do futebol europeu actual.

E como se não bastasse a falta de pressão das várias (?) direcções dos últimos tempos aos seus treinadores, exigindo-lhes que antes explorassem as soluções da casa em vez de apostar logo no incerto e inflacionado mercado, as rescisões do passado Verão vieram trazer ainda mais desconfiança sobre os jogadores (e o que são capazes de sacrificar pelo clube que lhes deu tudo) e sobre os treinadores que optam por ignorar talento barato e identificado com a instituição.

É urgente que Frederico Varandas e a sua equipa esclareçam de uma vez por todas, sem lugares comuns e os habituais clichés de “vamos apostar na formação, sem dúvida”, qual é afinal o projecto. Queremos recuperar jogadores que dispensámos sem motivo? Queremos contratar melhores profissionais? Qual o plano para as centenas de academias espalhadas que trazem pouco ou nenhum talento para Lisboa? Quem são os treinadores, os ex-jogadores, os miúdos que vão renovar?

Até agora, um absoluto silêncio sobre o tema, que nem pode ser disfarçado pelo sucesso da equipa principal. Uma vantagem que os nossos rivais continuam a ter e que não nos cabe a nós.

Historicamente, Francisco Geraldes, Domingos Duarte, Palhinha ou Iuri Medeiros eram hoje esteios na equipa principal. Historicamente estaríamos agora e exagerar o valor de Daniel Bragança, Miguel Luís, Elves Baldé ou Thierry, comparando-os aos maiores craques que já vimos de verde e branco. Presentemente jogamos com um jogador da formação no onze inicial, o nosso meio campo é composto por sérvios de valor questionável e quem vem da Academia é convocado para ir para a bancada.

A pergunta que faço é: porquê?

*às terças, a Maria Ribeiro revela os seus apontamentos sobre as novas gerações que evoluem na melhor Academia do mundo (à excepção do Dubai)