Quem tem influência na comunicação social, escreve a sua história como quer. Faça o que fizer, tem o condão de poder ultrapassar factos e fazer passar a narrativa que mais lhe convém. No desporto em Portugal, ninguém faz tudo isto melhor que Jorge Mendes. O seu poder e influência é discreto, mas esmagador e na imprensa (sobretudo desportiva) é uma realidade quase pornográfica. Aconteça o que acontecer, uma coisa é certa, Jorge Mendes nunca se equivoca, nunca causa dano, nunca perde. Mesmo que a realidade seja outra, os jornalistas acabam sempre por descobrir formas criativas de a contornar e exibir um contexto super favorável ao enaltecimento das capacidades deste super empresário.

Na minha opinião e sei que não andarei muito longe da realidade, foi Jorge Mendes o maior promotor da iniciativa dos jogadores do Sporting tentarem a rescisão por justa causa. E mesmo que não tenha sido o instigador (que o pode ter sido) foi pelo menos o “avalista”, ou quiserem, quem tornou toda a operação possível. Só ele tinha o poder financeiro para dar garantias aos 9 jogadores, só ele tinha a capacidade de arrolar a imprensa numa verdadeira campanha de destruição da imagem do clube, que ainda vemos em curso, agora sobre as costas ainda frias de Frederico Varandas. Fê-lo magistralmente, mas não consigo deixar de dizer, fê-lo com enorme facilidade. Para quem tem os ases todos na mão, a derrota é mesmo impossível.

Venceu. Derrotou o único contra-poder que tinha em Portugal – o Sporting.

Imprensa, poder político, FPF, Benfica e substancial imunidade no Porto, não falta nada no bolso do Sr.Comendador. O último canto do tabuleiro, fê-lo cair, aproveitando um momento de enorme fragilidade do Sporting, juntou o útil ao rentável, eliminando Bruno de Carvalho (ou ajudando muito a que isso acontecesse) e obtendo muitos passes de forma gratuita que tão cedo quanto pôde, colocou nos clubes que mais lhe convinha. Não teve sucesso em toda a linha, pois Bruno Fernandes, Bas Dost, Acuna e Battaglia hesitaram na hora de entrar pela “gruta” dos esquemas de Mendes a dentro. A distância dos seus empresários para Mendes ou talvez a distância para o que os jogadores estavam dispostos a fazer ao próprio Sporting fê-los escapar do masterplan do empresário.

Mas o ganho já estava feito, o principal pelo menos. Durante as eleições e até no curto mandato (e trágico) da Comissão de Gestão sucederam-se as manifestações de um cessar-fogo do Sporting para com a Gestifute. Abanaram-se as bandeiras brancas que se puderam encontrar e eis que surge, em armadura brilhante e imaculada, o cavaleiro resplandecente de virtudes, São Jorge em pessoa e espírito, pronto para aterrar em Alvalade e matar os problemas que fossem precisos matar. Segundo a imprensa, Mendes estava “disponível” para ajudar o Sporting. E para primeira grande ajuda, nada mais, nada menos, que oferecer José Peseiro, embrulhado em fitas de várias cores e pronto a construir uma equipa “preparada para disputar o título”.

De forma absolutamente cómica, não só a Comissão de Gestão aceitou o embrulho, como se deliciou com o estado de graça supremo que foi atingido nos mídia. O presente, como a maioria dos Sportinguistas desconfiaram, era envenenado e a classificação, forma e confiança da equipa prova o quanto estavam certos em desconfiar. Mas para o que interessa, a imprensa era absolutamente unânime, Peseiro era o “homem para o lugar”. Obrigado Jorge Mendes, obrigado Sousa Cintra, Torres Pereira e Co. Vamos pagar caro esse presente. Culpa de Peseiro ou culpa de muitos mais, a verdade é que o mercado de transferências do Sporting deixou bastante a desejar. Ficámos com o entulho, emprestámos jogadores que dariam muita profundidade ao plantel, vendemos pouco a cima do valor de saldo e sobretudo não precavemos posições que a equipa dava sinais luminosos vermelhos incandescentes de precisar de soluções efectivas.

Varandas assume a Presidência e metade do tal estado de graça já foi substituído pela corrosão e intoxicação do costume. Muitos jornais, rádios e tv’s estão a voltar ao processo normal de tratar o Sporting e a plasmar em Frederico Varandas os mesmos ataques que fizeram à direcção anterior. Não demorará muito até que Jorge Mendes tenha o quer, na total extensão do seu plano e tudo regressará ao estatuto original, ao jogo do costume, ao Sporting o mais fora possível das contas do nosso futebol. Pelo meio, este “amigo do Sporting” não só foi um dos pilares em que assentaram todas as rescisões, como foi o que mais lucrou com as mesmas e ainda há o descaramento de tentar convencer os adeptos e sócios do Sporting que é a ele que devemos agradecer as esmolas que vamos receber por Rui Patrício e outros.

Não tenho palavras para descrever a estupidez e a cabronice que isto envolve. Tanto quanto não consigo descrever o nojo que tenho pelo que o Sr. Jorge Mendes significa no futebol e na nossa sociedade. A submissão ao poder do dinheiro é um problema enorme e faz-se sentir especialmente em países em que muitas pessoas passam dificuldades, em que há uma recessão traumática na qualidade e estabilidade dos empregos. Quem tem dinheiro, ou muito dinheiro, abre todas as portas. Abre portas que não deveria abrir e o que Jorge Mendes fez, está a fazer e continuará, chama-se bullying. Não sei se o diverte, se o diverte e lucra com isso, se o faz por estratégia de agrado a Benfica e Porto ou apenas porque interiorizou que apenas os Sportinguistas são capazes de o criticar abertamente e expor aquilo que é. O que sei é que nunca poderemos contar com Jorge Mendes como “amigo” ou sequer parceiro, seja no que for. É e sempre será inimigo e persona non grata nos Sportinguistas com memória e não intoxicados pelos cronistas do regime da avença.

TEXTO ESCRITO POR LEÃO ZERO SEIS* “outros rugidos” é a forma da Tasca destacar o que de bom ou de polémico se vai escrevendo na blogosfera verde e branca