Pode estar esquecido da mente de algumas pessoas, mas o Sporting foi obrigado a fazer uma verdadeira revolução no seu plantel de futebol. E fê-lo quase sem capital, debaixo de um ambiente de enorme convulsão onde não era fácil encontrar argumentos para convencer jogadores e até treinadores. A probabilidade de errar comprovou-se evidente e o risco teve de ser assumido. O plantel é uma mescla de valor, equívocos, margem de crescimento e atletas em fim de prazo, quiça bem para lá do tempo desejável.

Com bastantes jogos já disputados, a equipa não parece encontrar muitos argumentos para vir a disputar algo mais que um terceiro lugar, sobretudo quando no seu comando encontramos alguém que em vez de procurar maior riqueza do que a soma das partes, encara as deficiências como o seu resguardo para a sincera pobreza tática e paupérrima nota exibicional. Três meses de trabalho volvido e o Sporting parece ainda às apalpadelas, profundamente envolto em experiências, sem qualquer aproveitamento, como a que (dita pelo próprio Peseiro) supostamente foi tentada na deslocação a Portimão.

Olho para este plantel e vejo mais do que suficiente para rivalizar com o Sp.Braga. Mas a verdade é que estamos já, na antecâmara para a 8ª jornada, a 4 pontos de distância do emblema minhoto e a uma distância inexplicável das dinâmicas, automatismos, motivação e até espírito combativo desse emblema. Pode parecer exagerado este retrato, sobretudo quando no confronto directo entre as duas equipas, não foi nítido qualquer tipo de superioridade bracarense. Não podemos porém virar a cara ao facto, verificável, que perdemos esse jogo. O que vai ao encontro da minha avaliação e ao encontro do que existem muitas coisas que não estamos a fazer bem. O Sporting teria de ser superior ao Braga, pois tem argumentos melhores que o mesmo.

Para vencer jogos no futebol, há que fazer pelo menos duas operações: marcar mais golos e sofrer menos que o adversário. Sinceramente, este Sporting parece ter 3 ambientes onde não vai ter facilidades em conseguir este duplo objectivo: 1/ Nos jogos fora; 2/ Frente a adversários de estatuto semelhante ou superior; 3/ Frente a equipas que exibam uma feroz determinação em vencer as disputas de bola. Isto não é nenhum estado raro ou condição específica ao Sporting. São handicaps até bastante normais e facilmente associados a…qualquer equipa desmotivada e desorganizada.

Ou seja, a nossa equipa, tem níveis deficitários de confiança, é incapaz de se superar. A capacidade que tem de surpreender o adversário é residual, bem menor que o inverso, a probabilidade de ser surpreendida. Se nada de fundamental mudar neste cenário, desastres como o de Portimão irão acontecer mais vezes e num grau de tragédia cada vez mais traumático. Dificilmente faremos bons resultados com os 4 primeiros classificados e com frequência iremos ter mais dificuldade em resolver tranquilamente os nossos encontros caseiros. A tal desmotivação e falta de confiança generalizada na equação treinador-equipa-adeptos tenderá a crescer e escapa-me gigantescamente a visão de outro futuro que não seja a rescisão com Peseiro.

peseirinho

Se não for amanhã, irá acontecer daqui por uma semana, um mês, dois e não mais do que isso. E se imaginam que isto é algo que desejo, não tenho palavras para vos descrever a absurda vontade que tinha de escrever completamente o oposto. Nada me move contra o treinador José Peseiro, acho até a sua figura bastante simpática, alguém que merecia um reencontro com a história e a devolução da oportunidade para reescrever o que devia ter acontecido em 2005. Mas a pena, não nos leva a lado nenhum, tal como esta equipa, Peseiro não parece estar apontado a direcção alguma, em Alverca já começou a ser assobiado, insultado e presumo que não demore muito mais a obrigar Varandas a repensar se quererá levar o seu “estado de graça” ao fundo, juntamente com um treinador que não contratou.

É interessante como prescindir deste treinador se tornou um tema pleno de concórdia. Num clube onde nada reune consenso, há unanimidade na avaliação do treinador. Apenas na SportingTV existem pessoas capazes de vislumbrar convictamente margem de continuidade para a atual equipa técnica, o que sabemos mudar do dia para a noite, à velocidade de uma mensagem interna e/ou institucional. Não tenho dúvidas que as certezas dos adeptos, correspondem a certezas da equipa directiva, pois o mundo não gira ao contrário tenho como garantida a mais que provável pesquisa por soluções alternativas e mais que óbvia necessidade de ter um plano B, em vias de poder ser adoptado.

A cada dia que passa, as consequências negativas de mudar o treinador vão parecer bem menores que as positivas. Num determinado dia, esse balanço será insuportável de defender e eu espero que esse momento não corresponda ao clássico ponto de ruptura em que nada mais resta à equipa do que lutar por esse estado decrépito chamado “recuperar a confiança dos adeptos” ou o tão familiar “dignificar a grandeza do clube”. Se esperamos (leia-se…se Varandas esperar) por esse “low point”, todas as semanas que passarão desde o dia 7 de Outubro, noite onde a minha ficha e a de muita gente caiu vertiginosamente, parecerão mais erro de avaliação da direcção do que culpa de Peseiro. E mais que procurar manter “estados de graça”, a estrutura directiva do Sporting deve procurar o sucesso desportivo e, lamento dizer, mas manter Peseiro vai na direção oposta a esse objectivo.

Entendo que os “geo-políticos” e os “mestres de spin” aconselhem Frederico Varandas a não agitar as águas, mas a verdade é que o mar está a ficar encrespado e promete tempestade a sério. Tirar o “barco” destas águas não é nem uma questão de dinheiro nem ausência de alternativas. Mal estaria o Sporting e fraca seria a capacidade da atual direcção se permanecesse estática por qualquer uma destas razões. A criatividade, a firmeza e a sagacidade ajudam a resolver e a criar boas soluções e qualquer que ela seja, será melhor que assistir impávido ao aumento da distância para com a nossa concorrência. Já não tenho palavras para a estupidez de encarar épocas como “anos zero”. Todos os anos têm de ser de crescimento, de introdução de medidas inovadoras, de aproveitamento do que está bem para tornar melhor. Todos os anos contam.

PS – Tirar os monos do plantel e substituí-los com muitos dos valores que temos espalhados aos 7 ventos só não será uma medida estupidamente rentável e eficaz, para quem não tem a capacidade de motivar mais do 11 bons atletas durante uma época. “Os jogadores queriam sair” é das desculpas mais idiotas que se podem dar para justificar que jogadores sem talento e sem mentalidade fiquem no lugar de miúdos ambiciosos cheios de potencial. Há uma coisa que se chama “gestão” e centenas de treinadores e team-managers que sabem o que significa. O Sporting tem de ser capaz de entender que estamos em 2018 e todos recursos valiosos devem ser “geridos” e estarem mais ou menos “satisfeitos” é uma condição secundária ao interesse do clube e, diga-se, até deles próprios.

*às quartas, o Zero Seis passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca