Hoje é daqueles dias em que o frigorífico está cheio de restos e antes que apodreça a importância de os usar, vou à procura do maior alguidar na dispensa. Vai tudo lá para dentro, mexe-se e depois lá me ocorrerá um nome francês para chamar a isto.

Restos de Cashball
Cada vez parece mais que o Boaventura não se esmerou muito a cozer as pontas desta “cavala”. Muito haveria por dizer sobre “empresários” que se arrependem passado mais de um ano de terem participado em supostas corrupções de árbitros. Para já e com os dados disponíveis, não há nem prova (nem sequer indícios) de que haja corrupção, uma vez que nada liga os árbitros aos “arrependidos” e nada liga estes últimos ao Sporting. Há printscreens de supostas mensagens (coisa para demorar 2 minutos a aldrabar no photoshop) e um “empresário” (daqueles bem lá do refugo, diz-se que cheio de dívidas) que de repente se lembrou que ouviu dizer o nome Geraldes enquanto participava num esquema para corromper árbitros. Não só o MP teve épicas dificuldades em associar as personagens, como provavelmente vai acabar por descobrir um charuto perdido e o masterplan desta “cavala” venezuelana.

Restos de Terrorismo
O caso do ataque à Academia de Alcochete tarda em ser visto como aquilo que é. Um enorme, logo e doloroso estupro ao Sporting. Todos têm culpa. Presidente, Team Manager, Juve Leo, Jorge Jesus, Jorge Mendes, jogadores. Todos têm culpa. Porventura, nós adeptos também. Sempre que um de nós defende que existem formas alternativas de “enfiar brio” e “amor à camisola”, como se fossem injecções de motivação involuntárias, um anjo perde as asas no céu enquanto faz um facepalm em câmara lenta.

Vamos lá entender-nos numa coisa. Se a equipa joga mal, não é o medo de “levar porrada” que a vai colocar a jogar melhor. Não vou ser hipócrita, é verdade que existem por vezes casos (mais acasos) em que correr um pouco mais ou estar mais alerta, acaba por dar a ilusão que os jogadores tiraram benefícios do “aperto” dos adeptos. Mas, valha a verdade, estamos a optar por soluções da Idade Média, para resolver problemas do séc.XXI. Raramente têm sucesso, apenas dão essa sensação. Na maioria dos casos, seria até mais eficiente dar um enxerto de porrada na equipa técnica, pois é ela que faz aumentar ou acelerar as hipotéticas mudanças de exigência ou atitude das equipas.

As culpas de Jorge Jesus também estão por evidenciar. E tem-nas. Geriu pessimamente o balneário, permitindo que direção e jogadores andassem figurativamente (quase literalmente) à pedrada durante meia época. Foram meses a “vê-las passar” e a fazer de “comadre que é amiga das suas vizinhas e não se compromete”. Pedro Martins devia dar um workshop ao Jota, sob o título “como ser um homem e defender o clube em vez de fazer de cona mole, aziado com a direcção”. Para alguém que se disse Sportinguista, Jorge Jesus cagou bem no Sporting e permitiu que o balneário entrasse em modo “sindical” o que somando à intempestividade de Bruno de Carvalho e à testosterona (e manual medieval de motivação) da Juve Leo, passou imediatamente para modo “evacuação lucrativa”. À espreita, sempre com a vingança por servir, estaria Jorge Mendes e o resto a vossa imaginação conseguirá decerto completar.

Espero que no aftermath deste caso, o Sporting defina novas regras para este jogo, potencialmente destrutivo. Um novo relacionamento com as claques que passe por cada uma das partes saber o lugar que ocupa e as responsabilidades que tem. A direcção manda…no clube. A Juve Leo manda…no apoio à equipa nas bancadas. Se quiserem ainda assim não tentar resistir ao ímpeto de aliviar as frustrações com os punhos, sugiro uma vasta lista de alvos, a começar com violadores, assassinos, pedófilos, banqueiros corruptos e políticos de algibeira. Comecem por aí. Tudo menos quererem ser parte ativa da solução para melhorar resultados. A mania que uma claque é um organismo paramilitar, com ideologia e sentimento de posse e poder paralelo “dentro” do clube é algo que terá de imediatamente acabar. Isso não é ser “ultra” ou membro de “claque”, mas sim um gang operado num sentido gregário e marginal de máfia.

Já agora, a todos os doutos hipócritas de avença que nas tv’s e editoriais de avianço de agenda, recomendo que se querem defender “a integridade e paz do futebol português”, leiam alguns emails que andam por aí, só para descobrirem que a violência do ataque à Academia do Sporting não é um oásis de terrorismo num deserto angelical, mas sim apenas mais uma mostra do que acontece quando o poder político e os clubes de futebol andam permanentemente brincar às escondidas, desprezando brutalmente as responsabilidades de cada um na proteção dos adeptos, dos atletas e do próprio futebol.

Restos de Peseiro
Passado o desfile mediático de pranto de crocodilos, o Sporting tem novo treinador. Enterrou-se o espantalho e provavelmente o filão da restauração da grande Lisboa com “Refeições de Homenagem” a Sousa Cintra. O que sobrou foi um grande ananás desportivo. Quase metade do plantel não estará à altura de cimentar as bases para uma equipa que lute por títulos, quase metade deste lote duvidoso não terá qualquer valor facial no mercado de transferências. Idealmente, em Janeiro saiam todos, dando lugar a quem venha acrescentar mais do que pena ou desejos mágicos que uma beldade qualquer vire sapos em príncipes. Keizer não me parece ser exactamente “Cinderella material”, logo recomendo a Varandas que comece desde já a preparar um “Empréstimo Ilusionista” de vários jogadores a clubes que, como nós, tenham ainda um scouting baseado em coçar testículos e fazer círculos à volta de nomes em listas de empresários.

Não espero melhoria repentinas na performance da equipa. Mas espero uma mudança de atitude, menos cabeças baixas, mais convicção, mais alegria e sobretudo certeza que há um processo de trabalho em que todos podem confiar. Ou seja, tudo o que Peseiro nunca foi capaz de oferecer e que se notava a quilómetros estar ausente da preparação da equipa. Três semanas são meia pré-época, mas com meio plantel nas várias selecções, talvez meias mudanças sejam difíceis de vislumbrar. Recomendo a mim próprio alguma paciência e mudança de chip. Teremos todos de passar do modo “varrer o treinador” para a opção “confiar no treinador”. Imagino que não seja fácil, mas teremos eventualmente de parar de pedir cabeças, arrumar as foices e as forquilhas e voltar à nossa vida normal, sendo que já nem me lembro que é a “vida normal” para um adepto do Sporting.

Restos de um EO
O que é um “EO”? Mais vulgarmente conhecido como “Empréstimo Obrigacionista”, é uma espécie de “empresta aí que eu já devolvo” na alta roda da finança. Basicamente o Sporting pede uma verba e compromete-se a devolvê-la num prazo fixado, com os juros. O problema deste EO actual é que estamos literalmente a pedir a um amigo para pagar a outro amigo. Antes que comecem a torcerem-se no lugar, devo acrescentar que é um processo amplamente usado por todos os clubes e que não costuma provocar comichões ao Camilo Lourenço.

O que tem então este EO para gerar tanta polémica? Nada. Ou melhor, tem. É do Sporting e como tudo o que leva o nosso símbolo, tem de provocar polémica. Não há nenhum razão para que se duvide, coloque em causa ou se levante qualquer sentido de risco na adesão a este produto. Mas como até pisar o chão pode ser um problema em Alvalade, não é surpresa a retração dos normais aderentes a estas soluções financeiras. Intoxicados, os investidores não dão ordens de compra, o que não é aceitável para o Sporting como SAD. Ninguém pode avançar para uma operação desta natureza sem cuidar de atenuar os prejuízos casados pelo “momento” e pelo “ambiente à volta do clube”. É incompreensível que os bancos estejam a desprezar o nosso EO e ainda mais incompreensível que a SAD do Sporting esteja surpreendida com esse comportamento.

*às quartas, o Zero Seis passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca