Terminada a Ronda de Elite da UFCL, tempo de mudar o chip e entrar na rotina das competições internas com este segundo jogo depois das emoções europeias. E nada como enfrentar a equipa revelação do campeonato, equipa liderada por Quitó Ferreira, que tem o grande mérito de colocar as suas equipas a jogar da forma como vê o jogo, com intensidade, agressividade e sem olhar para o nome do adversário. O Eléctrico tem excelentes futsalistas como Wendel, Renan ou Chico e o maior elogio que lhes posso fazer é que dominaram-nos uma parte inteira no nosso próprio jogo: em pressão alta e a recuperar bolas o mais longe possível da sua área.

O Sporting começa o jogo com um 5 ligeiramente diferente, com Erick a assumir a posição de fixo, com Cary e Merlim nas alas e com Dieguinho a pivot. E começa mal, ou melhor, o Eléctrico entra fortíssimo a pressionar junto da nossa área. Rapidamente construíram três situações de finalização em poucos segundos, onde valeu Guitta, e é sem surpresa que chegam ao primeiro golo marcado por Wendel após um canto. O resultado era mais que justo e o Sporting não sabia o que fazer nesta altura, a prova é um erro infantil de Erick que perde a bola em 1×1 sendo o último jogador salvo por Guitta. E é com tristeza que o brasileiro sai lesionado após um movimento entre tantos que teve de fazer para guardar as nossas redes. A nossa exibição, o resultado e a lesão de Guitta…não havia motivos para sorrir.

O primeiro motivo para sorrir chegou com nota artística. Erick Mendonça, que é fortissimo na protecção de bola mas igualmente forte no seu controlo, passa por três adversários e cria a jogada do empate com seguimento de Dieguinho e Cavinato a finalizar. Bela jogada de futsal inventada por Erick. É de elementar justiça referir que este golo vem totalmente contra a corrente do jogo pois em nenhum momento conseguimos equilibrar o jogo (apesar de ele ficar equilibrado no final da primeira parte, mas já lá vamos) por nossa própria iniciativa. O que acontecia era precisamente o contrário com o Eléctrico a construir várias jogadas de finalização em zonas perigosas de forma fácil demais para aquilo que estamos habituados.

E eis que chegam os três momentos que “equilibram o jogo”. Primeiro, a sexta falta do Eléctrico a permitir uma finalização irrepreensível de Merlim, depois a sexta falta do Sporting com uma finalização que nada deve ao golo do mago e, por fim a expulsão ridícula por simulação de Chico que permitiu jogar com mais um jogador de campo praticamente até ao final da primeira parte. O resultado não sofreu alterações mas o “equilíbrio” estava alcançado. Os jogadores do Eléctrico estavam mais receosos por fazer nova falta e o Sporting conseguiu fazer aquilo que ainda não tinha conseguido: encostar o adversário às cordas. Parece estranho estar a falar de desequilíbrio num jogo de futsal em que o dominador não é o Sporting mas foi precisamente isso que aconteceu na primeira parte com um pequeno interregno criado pelas faltas de parte a parte (ou melhor, pela fraca qualidade do árbitro) e pela expulsão injusta do jogador do Eléctrico.

A segunda parte começa como começou a primeira, com o Eléctrico a não desarmar e fazer um golo de canto. E o Sporting responde no minuto a seguir com um grande golo de Cary, que está numa forma fenomenal, a finalizar na direita sem deixar a bola cair. O jogo entra então numa fase louca, de parada e resposta mas com o Eléctrico a criar as melhores situações. Este período durou cerca de dez minutos que foi o tempo de resistência do adversário e os últimos dez foram de domínio total do Sporting. Primeiro de forma tímida mas depois a impor o seu futsal (finalmente!) e a criar as situações em catadupa. Destaque para um tiraço de Erick do meio da rua a embater na trave e, claro, o 4-3 com Alex a conduzir e a aproveitar o bloqueio para servir a bola no tempo e espaço certos para permitir uma finalização fácil de Dieguinho.

Nesta altura já não havia grande oposição do Eléctrico. Continuaram agressivos e intensos mas as pernas já não obedeciam à cabeça. E é sem surpresa que surge o 5-3 num canto em que o GR do Eléctrico facilitou e, por fim, o 6-3 final com Déo a aproveitar um desequilíbrio em 2×1.

Destaques:
Num jogo em que fomos dominados/controlados mais tempo do que o fizémos, torna-se difícil encontrar destaques. Pedro Cary foi o mais consistente e está numa grande forma, Erick fez um excelente jogo mas cometeu um erro de palmatória que podia ter tornado a tarefa mais complicada, Dieguinho também fez um bom jogo e Alex sobe de forma a olhos vistos. Prefiro destacar a equipa do Eléctrico, o seu treinador Quitó Ferreira e a sua forma de jogar. Merecem tudo o que lhes está a acontecer e a jogar assim têm as portas do playoff escancaradas.

Noutras circunstâncias este jogo seria preocupante. Na minha opinião era uma questão de tempo até acontecer. Depois da UFCL a tensão baixa, os jogadores finalmente “respiram” e isso leva, inevitavelmente, a um período de readaptação ao contexto presente que é apenas campeonato e equipas todas inferiores à do Sporting. Esta mudança de chip nunca acontece sem perdas, seja de pontos, rotinas, intensidade ou agressividade. Imaginem o que é alguém preparar-se para a coisa mais importante da sua vida em termos profissionais, passar uma semana com os nervos e os alertas todos no máximo, cumprir o objectivo, festejar e depois voltar à rotina. Esta exibição estava à espreita, podia ter sido no jogo anterior mas aí pareceu-me que ainda estávamos com a adrenalina da UFCL. Perfeitamente normal. Nuno Dias terá que tirar ilações, como sempre o faz mas duvido que ele próprio não esperasse isto, fosse no jogo anterior, contra o Eléctrico ou até no próximo. Foi neste também e sobretudo devido à qualidade do adversário.

futsal 2018

Com o alerta alaranjado recebido no jogo com o Eléctrico, nova oportunidade em Viseu para dar definitivamente focar no campeonato e aumentar a consistência do nosso jogo que tem vindo a cair. O palco? Perfeito. Pavilhão cheio em Viseu com os adeptos de ambas as equipas a manifestarem-se. Uma festa de futsal.

Voltando ao jogo, se houve alerta, não pareceu. Entrámos com um 5 renovado com Gonçalo, Leo, Pany, Cavinato e Rocha numa clara demonstração de insatisfação de Nuno Dias em relação ao jogo anterior “castigando” e “premiando” como deve ser, ou seja, na rotação. Jogadores como Rocha e Pany vinham perdendo minutos e após a quebra exibicional e de agressividade no último jogo, voltam à titularidade. Uma mensagem, ou não, aos craques e nova oportunidade para os companheiros. A entrada não foi boa. Naturalmente que os nossos princípios (pressão alta e rápida circulação) vão-se sempre impor porque somos individualmente e colectivamente melhores. A forma como eu analiso as nossas performances nestes jogos centram-se mais naquilo que permitimos o adversário fazer e na nossa eficácia ofensiva. E nesse aspecto entrámos pessimamente, a permitir tudo ao Viseu, inclusivamente o golo em contra-ataque após erro de Leo.

A resposta foi imediata através de Cary que não empatou por pouco mas o jogo voltou a equilibrar. Nesta altura tivemos muita dificuldade em impor o nosso jogo, mérito do adversário que acaba por fazer o 2-0 num grande momento de Mussas que “inventa” uma assistência em zona interior da nossa área.

A coisa não estava fácil e os fantasmas do jogo com o Eléctrico pairavam na quadra mas eis que surge o capitão João Matos que literalmente voltou a colocar-nos dentro do jogo, primeiro ao reduzir após recarga e de seguida a empatar a partida após um fantástico passe de Alex….”à Mussas” a isolar o capitão que após trabalho à pivot tirar o GR do caminho empata a partida. Grande Capitão!

A partir daqui, sim, arregaçámos as mangas, cerrámos os dentes e fomos para cima do Viseu, primeiro com um grande trabalho de Rocha e depois com o golo de Pany através de bola parada a rematar rasteiro e com o GR a facilitar. Estávamos perto do intervalo e ainda houve tempo para um grande passe de João Matos (que exibição!) para Cavinato rematar ao poste e, claro, o 2-4 após canto já mesmo a terminar.

No intervalo, Nuno Dias demonstrou a sua insatisfação com a exibição e dava o mote para a segunda parte, que viria a ser bem mais tranquila do que a primeira. Mas não sem antes um início louco com uma transição para cada lado de rajada e depois Alex a rematar para uma grande defesa após grande trabalho individual. O 5-2 chega de canto com Cavinato a finalizar de forma irrepreensível.

O jogo começa a assentar mas Rocha comete 3 erros quase de seguida que podiam ter mudado a história. Primeiro perde a bola de forma infantil e permite um contra ataque perigoso e depois faz a quarta e quinta falta em poucos minutos. Tapada com faltas, a equipa altera a sua estratégia, baixa as linhas e começa a praticar um jogo de transições o que viria a revelar-se uma boa decisão pois criámos várias oportunidades. O Vizeu também tentava a sua sorte mas um Gonçalo em bom nível respondia sempre bem. O 6-2 chega com nota artística de calcanhar por Cavinato. O jogo estava mais que decidido mas Alex fez questão de mostrar mais uma vez que é reforço e numa jogada de 1×1 finaliza da melhor forma para o 7-2.

Com o jogo decidido, Nuno Dias faz entrar os miúdos Célio e Bernardo Passo e o guarda redes entral mal ao agarrar uma bola atrasada pelo companheiro originando um livre indirecto. Destaque para a sociedade em construção de Célio e Cardinal quem duas jogadas assistem um para o outro com uma delas a dar o 8-2 do pivot. O jogo terminou de forma profética com Mussas, o melhor jogador do Viseu e dono de, não só uma barriga respeitável mas também uma habilidade inata para a modalidade. Nada mais justo ser ele a fechar o jogo.

Destaques

João Matos
MVP. Colocou-nos de volta ao jogo no nosso pior momento na partida e os seus três golos foram decisivos para esta vitória. Mesmo tecnicamente, movimentos muito interessantes como a visão de jogo, passe e compostura na finalização. Foi um flashback de um rapazinho de cabelo curto que há muitos anos atrás começou a sua carreira. Depois da lesão, ninguém merecia esta exibição mais do que ele.

Alex
Para mim já não há dúvidas. É, definitivamente reforço. E já agora, confesso, o meu jogador favorito deste plantel. A forma como conduz a bola, a sua calma e compostura, visão de jogo..e a forma como defende e joga sempre com o colectivo é entusiasmante.

Rocha
Claramente um caso de adaptação mais atrasada. Parece-me que está a lidar mal com o facto de ser um de 3 pivots de classe mundial e não O pivot como era no Magnus. Nem se trata da sua eficácia mas antes do seu envolvimento nas manobras defensivas.

Para terminar, penso que os custos da UFCL estão a ser altos em termos exibicionais e está a demorar a readaptação a outro contexto. Mas já é tempo de focar. Dois jogos com esta falta de consistência na primeira parte são o preâmbulo para uma eventual perda de pontos a breve trecho e Nuno Dias tem um vasto plantel para rodar e tem-no feito bem. As equipas do nosso campeonato também estão muito melhores e capazes de discutir os jogos e aproveitar estes maus momentos das equipas mais fortes. Foram 6 golos sofridos em 2 jogos, o que não sendo preocupante pois estamos a falar de futsal, para o padrão que exibimos na UFCL e que é o nosso, não é positivo e tenho a certeza que será analisado. A ideia tem de ser chegar aos playoffs e final four nesse padrão.

joao-matos

PS: Por último, apenas desculpar-me por não ter feito a crónica do jogo com o Benfica mas estava de férias e o local onde estava impediu-me de ver o jogo que ainda hoje não consegui ver. Prometo compensar-vos na FinalFour.

*às quintas, o Sá mostra que manda mais do que o Albuquerque e põe as novidades do Futsal todas na ordem