É visível a olho nu que o plantel principal de futebol do Sporting tem bastantes lacunas. Mesmo considerando que não há equipas perfeitas, há um consenso generalizado que Janeiro deveria ser um mês de amplas correções. Há demasiadas soluções abaixo do nível de exigência de um candidato ao título e sem apontar dedos a nenhum jogador, é fácil entender que temos uma mão cheia de cromos para a troca.

A questão nem será se sabemos o que precisamos adquirir ou dispensar. Essa é a parte fácil e óbvia. O verdadeiro problema será como alienar os encargos com esses jogadores dispensáveis, abrindo espaço para que possa existir folga orçamental para os que precisamos que entrem. Também foi este um dos pontos na agenda da Comissão de Gestão, um dos pontos em que foi manifestamente incapaz de mostrar capacidade. As dificuldades de tesouraria levam a que não se possa esticar a manta, impedindo aventureirismos ou soluções drásticas.

A meu ver, o Sporting precisava quase de montar uma equipa de “colocadores no mercado”. Uma equipa que, caso a caso, fosse descobrindo a solução mais rentável ao Sporting e já agora, a solução mais rápida, para que não estejamos (mais uma vez) nos últimos dias do fecho de mercado a “despachar” à pressa e a cometer aberrações como o contrato de cedência de Demiral. Por muito que nos custe, investimos muito mal em muitos jogadores, em contratos dignos de constar numa feira de horrores de gestão desportiva. Contratos que nos amarram a atletas que nunca vão encontrar valorização semelhante no contexto europeu.

A rescisão por mútuo acordo será sempre o final mais indesejável, pelo menos para o Sporting, mas necessário caso se mantenham as portas fechadas e o impasse prometa adiar as saídas. Por muito que nos custe, não podemos permanecer com ativos completamente “mortos”, apenas a participar como item na folha de pagamentos. E temos de entender que a culpa é estritamente nossa, pois ninguém nos forçou a ver craques onde eles nunca existiram, ninguém nos obrigou a pagar a peso de ouro a vinda desses “fora-de-série”.

moneyball

Não há magias. Não há segredos. Não vamos conseguir “passar a perna” a nenhum empresário ou a nenhum clube. Não vai aparecer nenhum emblema, no dia 1 de Janeiro a levar-nos qualquer jogador pelo preço que precisaríamos que pagasse. Mas as soluções não sendo perfeitas, podem ser melhores ou piores e aqui entra em jogo a capacidade da SAD em gerir (neste caso alienar) ativos da mesma. Um dos grandes problemas do Sporting é, há anos, a dificuldade em colocar jogadores, através de venda, participação no passe ou empréstimo tem sido crónica.

Existem muitos factores que motivam esta deficiência. Algum isolamento político em Portugal, pouco trabalho em relações internacionais (não é só ir aos sorteios da UEFA e passear com o plantel), zero protocolos reais com clubes que ofereçam uma realidade competitiva para os nossos jogadores emprestados, podia enumerar mais 4 ou 5 dossiers que têm sido menosprezados que quando chega a esta altura da temporada criam mais problemas que soluções. Começamos sempre tudo de raiz, a depender demasiado da vontade dos empresários dos jogadores em colaborar, os processos encalham e o valor dos passes estagna.

Urge trabalhar. Trabalhar com método. Trabalhar com objectivos claros e missões concretas. O scouting previne erros de casting. Bons treinadores rentabilizam melhor o que existe ou chega. Boas relações intra-clubes (nacionais e internacionais) facilitam a colocação de quem não vinga no momento, mas pode vir a fazê-lo no futuro. Tudo isto ajudaria agora Varandas, mas acredito que tudo isto esteja por fazer. Por agora vai ser “em cima do joelho”, mas espero que no próximo Verão a realidade seja bem diferente, ou pelo menos, algo diferente. Definitivamente temos de fazer entrar o Sporting no séc.XXI do futebol.

Estamos num tempo em que para ter uma SAD de excelência, temos de ter gente que sabe o que faz e trabalha mesmo. Almoços e jantares, viaturas e telemóveis pagos, amigos nos camarotes e belas gravatas com a chancela do leão não é “trabalho”…são privilégios. Isto é “moneyball”. Euros perdem-se aos milhões por um telefonema atrasado. Euros ganham-se aos milhões numa escolha de segundos. O resto é, definitivamente, conversa.

*às quartas, o Zero Seis passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca