O dia 15 de Dezembro aproxima-se e a AG que decidirá a a manutenção das suspensões aos ex-CD’s também. Cada sócio pensará pela sua cabeça e avaliará, espero eu, com tranquilidade e bom senso a justiça que se deve a estes ex-dirigentes. Pela minha parte, sempre o disse, até que existam provas concludentes que praticaram actos de gestão intencionalmente prejudiciais ao Sporting, estarão a salvo de qualquer punição disciplinar.

Entendo os argumentos de quem vê a criação e participação em órgãos transitórios criados à margem dos estatutos como decisões que podem ser interpretadas como abusos de poder, mas não tomo como certo que esse recurso tivesse em vista a constituição de um poder autocrático definitivo. Olho para a medida como um desesperado gesto de quem tentava manter o mínimo de governabilidade à margem de uma MAG completamente hostil que visava objetivamente cessar o mandato do Conselho Directivo.

No jogo de poder e no jogo da Justiça dos Tribunais, prevaleceu a tese da MAG e Comissão de Gestão. Perdeu o ex-CD. Para já, porque mantêm-se ações legais em curso. A meu ver, não existem certezas absolutas que os dirigentes em causa terão abusado dos seus poderes e como tal não podem existir punições absolutas com base em desconfianças ou teses por comprovar. Muito menos devemos influenciar-nos por casos mediáticos como o ataque a Alcochete, Cashball ou estas últimas “broncas” que o CM tem vindo a desenterrar dos “ficheiros secretos” da ex-Comissão de Gestão.

Sinceramente confesso-me farto de guerrilhas internas. Cansado de dividir sportinguistas entre o que votaram e o que defenderam nestas incessantes AG’s de gritos e insultos, nesta longa e fratricida narrativa de conflitos onde fica difícil saber quem defende melhor o Sporting ou quem é que o está a tratar pior. Sinceramente olho para esta AG como uma gigantesca oportunidade para todos os sócios colocarem o clube em primeiro lugar e deixarem de promover, voluntariamente, o ódio e a incompreensão.

Podem achar os mais motivados por defender ou atacar o anterior status quo, que tudo o que poderem esgrimir contra aquilo que consideram o “inimigo” é bem usado e as vezes que forem precisas. Ninguém para um segundo para pensar. Ninguém vê além de um conceito de “guerra” muito particular, um conceito para além dos factos, para além do razoável, para além do bem-comum. Podem não conseguir vê-lo agora, mas incorporam muitos dos comportamentos e irracionalidades próprios de facções extremistas, de ideologias não negociantes, de “purismos” perigosamente fundados em notícias de jornais e boatos de vão de escada.

Se para uns o “Sporting morreu”. Para outros urge “matar o Brunismo”. Andamos nisto. Entre um luto que jura vingança, custe o que custar. Entre uma senda persecutória que tem receio até da sombra de BdC, que tenta apagar a história. Nenhum vencerá o que quer que seja. Nem BdC terá alguma restituição de poder, pelo menos nos tempos imediatos. Nem serão capazes de cessar o poder desta nova direcção. Não erradicarão o “Brunismo” como forma de viver o clube e as suas ambições. Não apagarão da história, nem sequer da agenda mediática, a figura de BdC.

Tenho muita pena que muito poucos dos sócios que estão nestes dois lados da barricada não consigam entender o esforço inglório que empregam em combater o futuro e o passado do Sporting, como se fossem troféus de caça, como se reescrever o destino do clube fosse uma ferramenta de uso contra algo ou alguém. Como se atrevem? Que arrogância. Ninguém é dono da verdade, nem dono do Sporting e apenas concepções de democracia (ou desconfiança dela) muito falhas, permitem que se opte por não respeitar a mesma, espezinhando-a com vista a eleger “bíblias de propaganda” como guias de conduta ou fé.

Sou e serei sempre Brunista, no sentido que quero um Sporting ativo, combativo, ambicioso, que se respeite como grande emblema, nunca recusando uma batalha por mais perigosa que seja. Seja contra quem for, coloco o Sporting em primeiro. Não acho que devo um vintém a qualquer outro sócio, não tenho dever de obediência a qualquer “figura paternal”, não aprecio líderes que se sentem legitimados para mais que o seu mandato obriga. Mas da mesma forma, abomino uma visão de clube sectária, de castas e estatutos, de nobrezas e notabilidades. O sócio que se fez “num minuto” é tão válido como o sexagenário das Avenidas Novas com quatros apelidos francófonos.

Daqui por poucos dias decidiremos mais um pouco do nosso futuro e como digerimos ou não o nosso passado. Infelizmente sei que todas estas palavras não encontraram eco na consciência de quem deviam. Quem for para a AG com a missão de a destabilizar, continuará a fazê-lo. Quem for à AG com o garrote da intolerância, não o deixará porventura em casa no dia decisivo. Ninguém está disposto a deixar o Passado passar. Poucos quererão dar Futuro ao Sporting. Pelo menos um futuro mais estável, onde estas “justiças” deixem de dar guarida a tantas frustrações próprias, a tantas messiânicas utilidades, a tanta “tralha psicológica” que nada tem a ver com o Sporting.

O Leão continuará dividido. A culpa é toda nossa.

*às quartas, o Zero Seis passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca