No último texto de 2018, quero aproveitar para sublinhar que vejo 2019 como mais uma oportunidade para definir um Sporting verdadeiramente organizado e competitivo. Falando de futebol, talvez a última que teremos direito até que as mudanças inevitáveis nas competições europeias ocorram. O modelo da Champions Vs Liga Europa colocam Ligas como a Portuguesa a duas velocidades. Quem disputa a CL terá sempre orçamentos muito dispares de quem disputa a LE e essa divergência tende a acentuar-se com o tempo.

É possível contrariar o peso dos orçamentos com uma excelente gestão desportiva, mas com o passar das épocas e em especial com o passar de janelas de transferências mais abonadas pela “montra” de luxo do futebol mundial, a tendência de o Sporting competir com metade da capacidade financeira dos seus rivais trará sérias incapacidades que já são visíveis nos dias de hoje. Com o Porto na ressaca de uma hecatombe financeira e ainda a precisar de imensas correções ao seu volume de gastos, com o Benfica a atravessar uma crise de identidade técnica e tática além de uma enorme exposição por más práticas na sua cúpula decisória, é o tempo ideal para o Sporting se reestruturar e construir um futuro mais assente na competência dos seus quadros e visão estratégica global.

O desafio não é fácil, sistematicamente confundimos o cu com as calças. Desprezamos mérito em função de imediatismo, privilegiamos efeitos rápidos a solidez sistematizada, damos crédito a soluções assentes em achismos e não prestamos atenção aos factos constatáveis e medíveis. A racionalidade é útil à gestão desportiva e nunca num clube como o Sporting deveria ser sempre encarada como first e não como last resort. A sofreguidão de ganhar, a ansiedade de ver passar os anos sem vitórias, leva-nos repetidamente a cometer erros graves de planeamento e decisão. Mudamos de treinadores, presidentes, directores, jogadores e o resultado tende a ser semelhante. É hora de entendermos todos que estamos a criar demasiados vícios e pior, associados a uma cultura que oscila entre a insegurança corrosiva e a cagança eufórica.

O caminho sinceramente não é este e eu rezo para que exista o entendimento entre o novo Conselho Directivo e comando da SAD de que o Sporting não pode continuar a ser o clube das experiências de gestão e copy&paste de organogramas descontextualizados. Urge materializar um modelo, um comportamento e uma linha de objectivos. Uma identidade. Falo nisto há quase 10 anos e durante todo este tempo oscilámos entre 3 ou 4 modelos sem coerência, que colavam à força bocados de outros clubes, esses sim emblemas com uma filosofia, posicionamento e actuação perfeitamente homogéneos, enraizados e funcionais.

Confesso que o modelo idealizado por Bruno de Carvalho era possível de ser bem sucedido, mas dependia demasiado da capacidade de fazer “muito mais com menos” e sobretudo de uma agressiva recusa em ceder qualquer migalha ao que não fosse um total aproveitamento de recursos. Teve uma janela de oportunidade para ter sucesso, mas falhou e implodiu revelando fissuras graves. O modelo que dependia da total e cabal mobilização em torno da visão de uma liderança carismática, expôs discordâncias e atritos onde nunca poderiam existido – na própria cúpula que suportava o mandato da direcção, na própria liderança do plantel de futebol.

Não sei muito bem classificar o que será o modelo que está a ser construído agora. Há poucos dados disponíveis e demasiadas impossibilidades orçamentais. As escolhas parecem ter sido governadas num critério de capacidade e experiência, mas falta observar qual é a Big Picture por detrás. Diz-se que vai ser dado algum protagonismo à vertente da formação e a secções de apoio à gestão do futebol, mas desconheço o que em termos práticos isso quererá dizer ou se estamos apenas numa fase de “tapar buracos”. Seja como for, não sendo possível desenhar quer críticas, quer elogios, resta-me apenas a esperança que 2019 seja o ano em que inicie uma maturidade empresarial, comandada por uma ambição desportiva. Alicerces firmes de uma edificação duradoura que resista aos sismos provocados e auto-provocados.

Por fim, desejo um grande 2019 para todos os sportinguistas, com especial menção a todos os tasqueiros e ao anfitrião.

*às quartas, o Zero Seis passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca