O Sporting regressou às vitórias, regressou às goleadas e carimbou a presença na final 4 da Taça da Liga. Fê-lo com toda a justiça e num jogo com uma arbitragem à moda antiga

raphinha-golo-feirense

Tinha tudo para acabar bem, mas podia ser uma daquelas festas de passagem de ano que recordamos pelos piores motivos. Até por isso, Marcel Keizer não foi de modas e mandou vestir tudo e todos a rigor, exceptuando os que estão lesionados, casos de Nani, Wendel e Montero, e os que acabaram de chegar; Francisco Geraldes e Luiz Phellype, o que não é coisa pouca, porque estes cinco são gajos para fazer muito treinador feliz.

Do outro lado, a receita era simples: paulada com fartura e bola na frente que depois logo se vê. Ou, se preferirem, “ai querem comer as passas uma a uma, pedindo desejos?!? Aqui metem-se todas na boca e arrota-se a seguir!”. Estava dado o mote, com os homens a Feira a entrarem pressionantes nos primeiros três minutos. Depois, com calma, Bruno Fernandes abriu na esquerda e Raphinha fez-se à pista de dança com um movimento de corpo que deixou Vítor Bruno e Bruno Nascimento fora da jogada e um remate em arco que meteu a bola colada na rede, mesmo em frente à bancada onde milhares de Sportinguistas voltaram a dizer “presente” a este amor, esta paixão!

O extremo abria o activo e assumia o desejo de, no novo ano, ser aquilo que está talhado para ser: protagonista. Pelos melhores motivos, claro, e não com saídas disparatadas como aquela se Salin, logo a seguir, que Bas Dost emendou duplamente em cima da linha. O holandês não só safou o erro do colega, como evitou que o Sporting sofresse um golo em fora de jogo que o bandeirinha fez de conta que não viu.

Esse seria, aliás, um dos destaques negativos da primeira parte: a visão selectiva da equipa de arbitragem. Ali pelos 15 minutos, Brígido, o redes feirense, tenta aliviar a bola, esta bate em Bruno Fernandes, Raphinha ganha o ressalto e arranca para a baliza, sendo carregado pelas costas por Bruno Nascimento. Nem o árbitro Rui Costa nem o seu auxiliar, perfeitamente enquadrado, viram o penalti. Este auxiliar, inclusivamente, deu-se ao luxo de ignorar uma mão na bola a 30 cm de sua pessoa. E ambos deixaram que Philipe Sampaio, só na primeira parte, fizesse três faltas claríssimas para cartão amarelo.

Pelo meio, Acuña pregou uma cueca monumental quando estava apertado por dois adversários, Coates encarnou Beckenbauer e fez uma finta incrível lá atrás antes de sair a jogar e o mesmo Coates viu Bruno Fernandes a desmarcar-se nas costas da defesa e meteu-lhe a bola perfeitinha. O camisola 8 não quis ficar atrás e respondeu com uma chapelada ao redes que se chover na passagem de ano o Brígido está completamente protegido. Golaço! Go-la-ço, protagonizado pelos dois melhores jogadores do Sporting na noite de ontem, bem acompanhados por um Acuña vindo de uma aula de meditação.

Quando, aos 40 minutos, Diga vai, propositadamente, com os pitons à canela do argentino, todos pensámos que o próximo passo seria Acuña a virar o lateral adversário. Mas, não. Acuña esteve cerca de três minutos a ofender a família de todos quantos tentavam falar com ele e… resultou! Ah, é de realçar que a agressão foi brindada um um cartão amarelo, algo que não me merece outro comentário que não seja mostrar-vos esta imagem.

agressão acuña

Mas entre o golaço e a agressão, além das já referidas e consecutivas faltas do Philipe Sampaio, houve um penalti contra o Sporting, que se aceita e que Salin quase defendeu; e um cruzamento de Acuña para a cabeçada de Bruno Fernandes que proporcionou a defesa da noite ao tal Brígido (eu diria que Salin não deve que fazer uma única estirada, o que torna a eleição meio injusta). Depois, a fechar os primeiros 45 minutos, Bas Dost tentaria uma roleta de calcanhar que ninguém percebeu e Mathieu ensaiaria um livre directo para defesa do redes.

Sim, 1-2 era demasiado curto para o que se tinha passado, embora, no final, Nuno Manta viesse dizer que o resultado foi exagerado e choramingar porque «o jogo até começou bem para o Feirense, conseguimos ter bola nos primeiros cinco minutos e na primeira vez que o Sporting tem uma ligação de jogo, o Raphinha aparece no um contra um e faz golo no primeiro remate à baliza. E sofremos o segundo golo na segunda vez que o Sporting vai à baliza».

Ó homem, chama-se a isso eficácia e categoria. Além de vontade de marcar golos que continuou bem patente na segunda parte, até porque na Madeira o Estoril ganhava e quantos mais marcássemos mais descansados estávamos. E marcaríamos mais dois, mesmo com Diaby mascarado de Douala e a fazer disparates atrás de disparates quando tinha que fazer algo além de correr.

Para que vocês vejam, até Petrovic andou a distribuir fintas cheias de pinta no meio-campo e a piscar o olho ao maliano. Não havia o homem de estar desconcentrado quando teve oportunidade de marcar depois de uma bomba de Jovane ao poste da baliza feirense, naquele que seria mais um golão e o quinto da equipa.

Não vos falei dos outros dois, certo? Nem do corte incrível de Mathieu, de carrinho, no único momento de desatenção colectiva que permitiu ao adversário acercar-se da área em superioridade e que não deu o empate porque monsieur Jérémy mostrou toda a sua classe.

Depois, Bas Dost foi agarrado na área por aquele monte de merda que só sabe fazer faltas e cujo nome não voltarei a escrever. Penalti, karma pelo cu acima daquele monte de merda que só sabe fazer faltas e cujo nome não voltarei a escrever e 1-3. Tudo decidido, antes de Diaby falhar na cara do redes e do puto Miguel Luís (grande jogo, autêntica muleta de Bruno Fernandes), vir por ali fora em tabelinhas e provocar um autogolo.

Ainda haveria tempo para Tiago Silva ser expulso por palavras ao árbitro e para Bas Dost ficar a dever-nos um golo, depois de ter falhado com a baliza escancarada. O que vale é que estava tudo decidido e o holandês até sorriu com a sua própria aselhice, mesmo a fechar este reveillon saboroso que nos faz continuar a acreditar que 2019 pode trazer algo de bom, sempre com aquela postura Keizeriana de não mostrar grandes euforias: «Somos uma equipa sem pré-época. Temos de ajustar algumas coisas e ainda temos e podemos melhorar.»