Incrível demonstração de falta de qualidade, numa partida em que era obrigatório ganhar. O Sporting deitou por terra a possibilidade de continuar a lutar pelo acesso à Champions e até já está a sete pontos do terceiro lugar…

Enquanto dezenas de pessoas se levantavam do seu lugar e abandonavam Alvalade, para enorme espanto da minha filha («estas pessoas vão embora porquê, pai? Ir embora não é ser do Sporting»), o meu cérebro, completamente amarrotado pelo 1-4 que assinalava o placard electrónico, tentava encaixar as peças num puzzle tirado de um filme de terror e que teve o seu momento mais doloroso na rábula do Petrovic despir e vestir o fato de treino, mostrando total desorientação de quem comanda a equipa e viu, ontem, os famosos lenços brancos de Alvalade.

E tudo isto é mais doloroso quando puxo o filme atrás e, numa vitória sem possível contestação, chego à conclusão que o benfic@ não teve que fazer um super jogo para marcar quatro golos em Alvalade. Bastou-lhe aproveitar tudo o que de mau o Sporting tem mostrado e que, ontem, voltou a repetir-se e agravou as contas dos embates entre os eternos rivais disputados em nossa casa: nos últimos 10 dérbis em Alvalade, para a Liga, o Sporting venceu apenas um: foi em 2012 com o golo da vitória de 🇳🇱van Wolfswinkel de grande penalidade (e somando todos os encontros no campeonato, as águias só perderam um dos últimos 14 dérbis [6V, 7E, 1D]).

Há 15 meses que o Sporting não estava 4 jogos consecutivos sem vencer e mesmo que dois dos três empates que soma nas últimas quatro partidas tenham valido uma Taça da Liga, os sinais de que a equipa se vai afundando são inegáveis (ontem salvou-se o golaço inventado por Nani e Bruno Fernandes). Pior, quem está a dirigi-la está no olho do furacão e parece não querer ou não saber o que fazer para de lá sair. E enquanto tentava juntar as peças do puzzle, conforme já vos disse, foi impossível não ter Marcel Keizer como referência para a minha análise.

Marcel Keizer não tem culpa que se tenha formado um plantel às três pancadas.
Marcel Keizer não tem culpa de se terem contratado jogadores sem qualidade para jogar com a camisola do Sporting, tanto a nível técnico como a nível mental.
Marcel Keizer não tem culpa de se terem dispensado jogadores que teriam lugar neste plantel de olhos fechados.
Marcel Keizer não tem culpa de não ter sido preparado para o que o esperava enquanto treinador de um clube com as dimensões do Sporting, sedento de vitórias que fogem há demasiado tempo.
Marcel Keizer não tem culpa de ser primeira arma de arremesso, numa guerrilha entre adeptos que está para durar.
Marcel Keizer não tem culpa que tanto a comissão de gestão como a nova direcção tenham assumido a luta pelo título sem terem a mínima noção do que estavam a dizer.

Mas Marcel Keizer tem culpa de continuar a insistir em jogadores como Gudelj, quando, de jogo para jogo, fica a nu a total ausência de qualidade do sérvio.
Mas Marcel Keizer tem culpa da equipa continuar a entrar de forma patética, tanto nas primeiras como nas segundas partes e, ontem, ter voltado a sofrer um golo assim que o árbitro apitou para o recomeço.
Mas Marcel Keizer tem culpa de ter deixado de apostar em jogadores como Miguel Luís ou Jovane, retirando ao meio campo um jogador que acrescenta e que permite dar descanso aos colegas e retirando ao ataque o jogador mais decisivo vindo do banco.
Mas Marcel Keizer tem culpa de ignorar jogadores que estão na equipa de sub-23 e que deveriam estar a ser lançados, pois nada devem aos contratados em qualidade.
Mas Marcel Keizer tem culpa de ter recuado nas suas ideias, deixando-se intimidar à primeira derrota (Guimarães).
Mas Marcel Keizer tem culpa de insistir num único modelo de jogo, não arriscando uma mudança que permita, por exemplo, ter dois homens na frente.
Mas Marcel Keizer tem culpa de dar constantes sinais de acobardamento quando a equipa precisa que alguém lhe diga, precisamente, que é para cair sobre o adversário.

Down in a hole, feelin’ so small
Down in a hole, losin’ my soul
Down in a hole, feelin’ so small
Down in a hole, outta control

No final da partida, Bruno Fernandes, o jogador do Sporting que mais correu, lutou e tentou ter critério no que fazia, diria que era altura de cada um fazer uma introspecção. E entre esses “cada um” terá que estar, obrigatoriamente, Marcel Keizer.

Não basta dizer que foi demasiado mau, porque isso qualquer adepto faria. É preciso tirar as mãos dos bolsos (alguém diga ao homem que somos latinos, porra!) e decidir o que fazer com elas. Estamos enfiados num buraco cada vez mais fundo (o Sporting não sofria tantos golos (24) nem somava 5 derrotas nas primeiras 20 jornadas desde a tal maldita época, 2012/13, em que terminámos em 7.º) e Keizer é voz activa sobre o que devemos fazer: ou continuamos a cavar a nossa própria sepultura, ou encontramos forma de começar a escalar. Forma de nos agarrarmos à vida e às Taças que, para lá da honra e do orgulho, são o que nos resta.