Antes que comeces a espernear, não, não me esqueci do que aconteceu. E sim, aquela empatia com Bruno Fernandes perdeu-se e não voltou, por mais que saiba que está ali o melhor jogador a actuar em Portugal.

Quando os rapazes… de verde e branco… entram em campo, é p’ra ganhar
não têm medo, jogam à bola e a camisola… é p’ra suar

Acontece que esse sentimento não me impede de ver algo que salta à vista: Bruno Fernandes é, de semana para semana, o passar à prática a letra deste cântico. Não há quem corra mais do que ele, não há quem lute mais do que ele, não há quem jogue melhor do que ele (e, sim, também tem dias de merda). E duvido, sinceramente, que mesmo aquele que tem que ser colocado num colete de forças de cada vez que ouve o nome do camisola 8, não tenha já pensando, mais do que uma vez, “se tivéssemos mais dois ou três gajos a correr como este…”

Os dois últimos dérbis são o exemplo perfeito de tudo o que disse atrás. Bruno Fernandes atacou, defendeu, foi à direita, foi à esquerda, pressionou, foi ao choque, correu feito louco tentando estar em todo o lado, pediu a bola, assumiu o jogo, cerrou os dentes e foi para cima deles. Ah, e marcou. Dois golaços, por sinal, elevando para 18 o número de bolas lá dentro, o que faz com que iguale os registos de Canário e Fernando Peres em 1942 e 1971, respetivamente, ficando a apenas três remates certeiros dos médios com mais golos apontados numa só época ao serviço do Sporting: Osvaldo Silva (1963) e Balakov (1994).

Mas, volto a sublinhar, isto não é uma questão de estatística. Nem tão pouco de qualidade inequívoca. É uma questão de atitude. E, dentro de campo, Bruno Fernandes consegue ter uma muito próxima da que qualquer um de nós teria, caso pudesse envergar a mais bela camisola do mundo.