O peso que arrasto tem juros de mora… O peso que arrasto tem juros de mora… O peso que arrasto tem juros de mora… O peso que arrasto tem…

A voz vai baixando de tom. As guitarras calaram a fúria. E a mensagem é dita em slow motion fingido. Mas estão lá todos. Os anos, esses anos de uma das mais intensas paixões de que a tua história há-de falar. Os anos, esses anos de uma relação que sentes roubar-te anos de vida, mas que tão capaz é de voltar a fazer-te sentir como se tivesses sete ou dez anos. Perdeste a conta aos sorrisos. Perdeste a conta às lágrimas.

Não me queiras só porque sim, É tão pouco para ficar…

Isto é algo que se te apega ao peito e que te muda. Para o bem. Para o mal. Agarras neste amor dorido e vais com ele, peito feito, mostrando a toda a gente que ele és tu e que tu és ele. Dá-lo a provar a quem gostas. Amigos, filhos, família, companheiros de uma noite ou de uma vida, todos eles sabendo, nem que seja de raspão, que a tua canção tem riffs a verde e branco.

Chama-te louco e não é pouco, ao que tu encolhes os ombros e sorris, qual puto que recebe uma medalha porque se eles não estavam para aturar isso, tu estás. E isso às vezes pesa tanto. Relação estafada onde sentes ser sempre tu quem mais dá. Onde tudo te parece traição. Onde cada momento de mão dada te faz esquecer tudo o resto e continuar a acreditar que vale a pena.

De tanto querer dava um braço,
Já foi chão que se pisa descalço
Maneta só me embaraço,
Digo que faço e desfaço

Quantas vezes pensaste desistir? Nem sabes. Quantas vezes cantaste para ti mesmo Que isto de ser dois, longe do plural, é tão singular, com as guitarras a a contorce-se ao fundo e tu, vazio, mas tão cheio deste amor, desta paixão, aqueces o que sobrou de outro jantar? Perdeste a conta. Perdemos a conta.

Dizem-te que foste escolhido, porque és diferente, para seres diferente. Mas o que és e o que serás és tu que escolhes. E escolheste não abrir mão, por muito que quando a abras se te abra a carne de tanto segurar as lâminas afiadas sobre as quais caminhamos. Lambes as feridas, uma, outra, mais uma vez, sentindo-te fraquejar no sangue perdido que tem que sangrar para isto continuar.

Ninguém me diz o que há depois de nós
E se depois de nós os dois me agiganto

Por isso agigantas-te sempre. Para que o nós não seja depois. Mão entrapada de batalha travada, sorriso de dor que te embala o amor. Porque tu não és de alguém, tu és esse alguém. E nessa coisa dos cinquenta cinquenta agarras para ti a metade que for maior e cravas as garras no chão, qual Leão que nunca se vergará aos outros, muito menos a um sentimento que, no que depender de ti, será para a vida inteira.

E o peso que arrasto tem juros que eu nem vou cobrar…