É tão fácil gostar de Coates como não gostar de Coates. Mas eu tenho cá para mim, nesta coisa de ter 40 anos e ainda tentar olhar para o futebol com olhos de quem tem 10, que quem não gosta do Coates é parvo. Ou, vá, um bocadinho parvo.

Seba Coates, Sebastião para os amigos, encaixa na galeria dos Frankis Carol desta vida (e um dia também hei-de escrever-vos sobre “o cubano voador”): tão depressa faz as melhores coisas do mundo, como tem um bloqueio cerebral e deita tudo a perder. Mas ambos têm algo que os distingue: dizem presente quando a equipa precisa e assumem. Se der merda, deu merda, mas merdoso a sério será alguém apontar-lhes o dedo quando tiveram a coragem de chegar-se à frente.

E Coates chega-se sempre à frente. Falha, claro que falha. Muitas das vezes por ter que fazer a posição dele e tentar tapar os buracos que dois ou três colegas deixam, outras por causa dos tais bloqueios cerebrais que parecem transformá-lo num central banal e levam os adeptos da perfeição a ter a ousadia de afirmar que o uruguaio é perfeitamente dispensável. Bem, no fundo no fundo, qualquer jogador é dispensável. A equipa pode abanar, mas haverá de voltar a equilibrar-se. E alguém ocupará esse lugar deixado em vazio.

Mas não será fácil ocupar o lugar do Sebastião.
Porque ninguém salta mais alto do que ele, mesmo que nos irrite a quantidade de vezes que ele salta mais alto do que toda a gente e a bola não vai para a baliza.
Porque ninguém tem aquele ar desconjuntado, com as mãos tão grandes como os pés. Porque não será fácil encontrar um novo muro, daqueles que não cai nem que seja o Zlatan a fazer-lhe cara de mau.
Porque ao fim de uma mão cheia de anos e de uma centena de jogos com o Rampante ao peito, ele já sente o Sporting.
Porque ele já disse que queria ficar, quando o quiseram levar e quando alguns decidiram “desertar”.
Porque, mesmo sem braçadeira, ele deixa à vista de todos que é um capitão.
Porque tem tudo para ser uma referência para os mais novos, permitindo a integração dos muito talentos que temos para o centro da defesa.
Porque quando o relógio roda para o final da partida e estamos com eles apertados, é numa “Coatada” que pensamos para nos fazer festejar que nem loucos!
Porque ele próprio festeja como um louco, transformando aquele sobrolho franzido que caberia no elenco de Narcos num sorriso enrugado de puto reguila.
Porque nem por catálogo se arranja facilmente um central com quase dois metros de altura que sonha, um dia, arrancar com a bola controlada e ir de costa a costa, qual Maradona, à espera que um qualquer Víctor Hugo Morales o eternize com um “¿De qué planeta viniste para dejar en el camino a tanto drampião?”

*#ZeroÍdolosoCaray é uma rubrica bem temperada que manda precisamente para o caray todos aqueles que acham que o desporto se faz de camisolas sem alma

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