Sem bilho e com as canelas todas amassadas, mas com os três pontos no bolso. Esta é a crónica do regresso do Sporting às vitórias, num conjunto de jogadores sem fio de jogo e à espera de apanhar boleia do suspeito do costume

Um gajo olhava para as estatísticas, ao intervalo, e ficava com a prova provada do quão miserável havia sido a exibição do Sporting nos primeiros 45 minutos: um remate contra cinco do Feirense + esse remate enquadrado contra dois do Feirense + esse remate conseguido dentro da área contra quatro do adversário nas mesmas circunstâncias. Também tínhamos metade dos cantos, mas esmagávamos na posse de bola, com um 60%-40% que não servia propriamente para grande coisa.

E porquê? Porque Marcel Keizer continua a dizer que podemos jogar melhor, parece perceber tudo o que se passa quando é mais pormenorizado, mas… joga sempre o Gudelj. E também joga sempre o Wendel. E o Bruno Fernandes. Uma espécie de deixa ver até onde estica no caso dos dois últimos, uma paixão tão assolapada quanto inexplicável no caso do primeiro. E, mesmo sabendo-se que não estão inscritos na Liga Europa e que quinta-feira há jogo, Geraldes e Doumbiam começaram no banco (o que já não é nada mau).

E foi de lá que viram o sérvio-chinês voltar a ser aquele 6 que não sabe o que é uma transição defensiva, que chega sempre atrasado ao lances e que por isso só faz faltas e que, como não há duas sem três, não a mínima ideia do que é assegurar a primeira fase de construção. Sobra para os centrais, mais precisamente para Coates, ou para Bruno Fernandes, a ver-se obrigado a descer abaixo da linha de meio-campo para tentar ele dar algum critério ao futebol. E perde-se o elo lá mais à frente. E a bola anda de pé para pé sem lá chegar, porque os alas estão demasiado tempo a flectir para dentro, porque os laterais parecem estar proibidos de ir à linha, com a agravante de apenas a dupla Acuña e Borja funcionar minimamente, já que Ristovsky não faz puto de ideia de como se entender com Diaby. Ah, o Wendel ali ali no meio, feito louco, e o Bas Dost passa longos minutos sem saber onde anda a redonda.

E pronto, o tempo passa e nós não criamos perigo. É verdade que há um penalti claro sobre Bas Dost, agarrado durante não sei quantos segundos, tal como é verdade que o Feirense devia ter chegado ao intervalo reduzido a 9, tal a quantidade de porrada que vieram dispostos a dar. Mas também é verdade que aqueles número que vos dei lá em cima são reais e que o nosso remate acontece em cima do intervalo, por Dost, numa bola meio perdida, e que nos colocamos em vantagem, ali à beirinha do intervalo, com um autogolo no seguimento da única jogada com tronco e membros que fizemos. Pelo meio, o Renan deu um frango patético e safou-se porque o VAR viu um fora de jogo (nítido) e uma falta sobre o redes (forçada) ao mesmo tempo. E tudo isto não foi mais ridículo porque o mesmo Renan safou, por instinto, uma cabeçada de Sturgeon, no seguimento de um canto marcado exactamente da mesma forma que tinha sido marcado o tal que deu golo anulado.

Bela merda, certo? Certíssimo. E a segunda teria ido pelo mesmo caminho se, em dez minutinhos, o homem que veste a camisola 8 e que leva a equipa à boleia rumo a qualquer coisa não tivesse aberto o livro e marcado dois golos. O primeiro, numa cabeçada à João Vieira Pinto, aproveitando bom cruzamento de Diaby; o segundo de livre directo, na sequência do que já havia feito a meio da semana.

Keizer lá resolveu dar descanso a Wendel e a Bruno Fernandes, colocando Doumbia e Geraldes em campo, a equipa foi gerindo o que havia para gerir e ainda deu para Borja ensaiar um movimento de Pasillo Voliao, para Ilori se encolher e para um tal de Petkov sacar um remate acrobático e festejar como se estivesse num concerto da Ruth Marlene.

Como está visto, animação não faltou, nem que seja na cabeça deste que vos escreve e que tenta esconder a preocupação e a tristeza por ver uma equipa a definhar, incapaz de apresentar aquela alegria que apresentava quando Keizer chegou e que nos fez acreditar que íamos voltar a entusiasmar-nos depois de dois anos e um Peseiro. Vai dando para disfarçar à conta do sr. motorista, mas dá que pensar o que acontecerá quando ele não for capaz de colocar o pé no acelerador…

And the train conductor says
“Take a break, Driver 8, Driver 8, take a break
We’ve been on this shift too long”
And the train conductor says
“Take a break, Driver 8, Driver 8, take a break
We can reach our destination but we’re still a ways away”