Se há coisa que um Sportinguista deve contar é que o futuro nunca será o que ele imagina para o seu clube. Apesar desta ser quase uma regra nos tempos mais recentes, olhar o futuro e pensar sobre ele ainda é o que sustém mais viva a nossa esperança por dias felizes. E há muito por fazer. O Sporting é um clube não exclusivamente de futebol, mas essencialmente de futebol e quer queiramos quer não, os adeptos reflectem sempre esta circunstância.

Parto do princípio que no futuro próximo, melhor dizendo – a próxima época, será afectada pelas seguintes condições:
1/ Não teremos prémio por acesso à Liga dos Campões, afectando no mínimo menos 20 milhões ao nosso orçamento;
2/ Não faremos vendas surpreendentes de jogadores não essenciais. No máximo faremos à volta de 10 milhões neste parâmetro;
3/ As verbas de possíveis indemnizações dos jogadores que rescindiram no verão de 2018 não estarão disponíveis, nem possíveis de contabilizar;
4/ As receitas das vendas de Gamebox e patrocínios (com base em performance) tenderão a baixar;
5/ A necessidade de reduzir o plantel será real, quer em número, quer em massa salarial.

Todas estas alíneas são de cariz negativo e irão influir na capacidade do orçamento que guiará as despesas da equipa principal de futebol. Portanto, teremos previsivelmente menos dinheiro, mas queremos melhorar a equipa. Como? É possível? Será expectável?

A primeira pergunta é a mais difícil. De facto, parece que estaremos prestes a iniciar mais uma digressão plena por essa velha máxima (e tão equívoca) que é “fazer mais com menos”. Desde já, digo, que se é para cavalgar neste tipo de “areia para olhos” dos sócios e adeptos, não contem comigo. Animar as hostes, para manter o dinheiro a rodar não é uma solução…é um falhar (mais um) dos objetivos propostos, só à espera de acontecer.

Prefiro a verdade e sinto que, falando de clubes desportivos, essa será sempre a melhor solução. Ser directo, honesto e transparente no anunciar das expectativas não será nunca uma admissão de menoridade, mas sim de objectividade. E desde já recomendo a este CD que pense bem na ineficácia que tem sido a sua gestão comunicacional para dentro do clube e na aproximação dos adeptos ao emblema. Alinhar pela política do “venham aos jogos, que o resto nós resolvemos” nunca fez nenhum sócio ou adepto participar mais ou ter mais vontade de contribuir para o sucesso do clube. As várias direcções desde Roquette até BdC provam que essa é a via menos motivadora e menos engrandecedora do clube.

E ter uma boa Comunicação com os adeptos é só… fundamental quando os resultados ou a expectativa sobre boas épocas tendem a não ser as melhores. Motivar, agregar, reunir, trazer os sócios e adeptos para a defesa e participação nas lutas do seu emblema não é um empecilho, não é populista, não é… brunista. É apenas a forma mais salutar de um órgão decisor ser legitimado e congregar como suas, as conclusões de um debate permanente com o Sportinguismo. Este diálogo está completamente ausente do Sporting actual e, por incrível que pareça, é a peça mais essencial à definição da próxima temporada.

Prometer uma equipa a lutar por títulos faz parte do folclore habitual num “grande” em Portugal, mas era bom que Varandas e pares entendessem que os adeptos já não são massas acéfalas que digerem promessas vãs e vazias, esquecendo-se das mesmas em alguns meses. Não, essas promessas têm custo e pagam-se caro. Não sendo previsível que esta época venha a trazer sucessos suplementares, obter um 4º lugar e uma Taça da Liga (além de uma campanha razoável na Liga Europa) será sempre sinónimo de fracasso. Lembrar-se-ão muitos das promessas de competência imediata feitas por Varandas e o que dista delas para esta realidade. Lembrar-se-ão muitos se, mais uma vez, se lhes forem renovadas essas mesmas fasquias e lembrar-se-ão ainda muitos mais se o resultado for também semelhante no final de 2019/20.

poltava alvalade

É para mim impensável que se continue a prometer o que se sabe que não se conseguirá cumprir. Só alguém bastante ingénuo continuará a olhar para um orçamento cada vez mais distante dos nossos rivais e imaginar que com metade seja provável fazer mais que eles. Pior, essa décalage virá com a sucessão de 3 épocas de igual cenário, firmando um aumento e não uma redução dessa distância. Ouvi com muita atenção todas as propostas eleitorais e recordo vivamente a insistência de Varandas na “competência desportiva” e no que seria o seu propósito em dar saltos qualitativos no reforço da estrutura do futebol profissional.

Ainda que concorde absolutamente com a profissionalização e especialização de todo o departamento, não consigo imaginar que as alterações já produzidas ou as que forem implementadas até ao final da época corrente, produzam resultados fundamentais em 19/20 ou 20/21. Pelo contrário, a sobrevivência deste CD não está posta no que está a fazer para o futuro, mas pelo que está a fazer pelo presente. E é chegados aqui, que tenho a certeza que é importante gerir a expectativa dos sportinguistas, tentando que as mesmas nasçam de um diálogo participado e não de entrevistas ou editoriais unidirecionais na comunicação social.

Racionalmente a pergunta “Como melhorar, tendo menos para melhorar” permite apenas, a quem dedica racionalidade a responder, uma ideia vaga de esperança que tudo à nossa volta seja profundamente afetado por derrocadas inesperadas. De outra forma, será mais lógico assumir que, existindo melhoras, não serão visíveis no presente. O que será visível, possível e expectável será viver épocas muito parecidas com a que decorre no momento. E isso nada tem de trágico ou depressivo. É apenas a realidade e a forma como a queremos gerir. Queremos passar o tempo a apontar dedos e perseguir quem achamos ter contribuído para este cenário? Queremos olhar para a frente e dedicar todo o nosso esforço a construir algo de diferente, inovador e ambicioso? Queremos exatamente o quê?

Para mim, fará todo o sentido o Sporting investir o que tem e o que não tem em dois campos essenciais: Melhores jogadores e quem for capaz de os detectar. Ou seja, se não temos mais dinheiro que os rivais, que ao menos o gastemos melhor. Mas infelizmente os clubes vendedores não andam a dormir, só à espera que um clube com um scouting de excelência os leve por tuta e meia. Não, o mercado não funciona assim. Ter scouts competentes, na maioria das vezes apenas faz com que se detecte talento primeiro que os demais, numa segunda fase – a mais importante – é preciso vencer o leilão com outros emblemas.

Como o Sporting não terá nem o músculo financeiro, nem uma chamativa liga para dar visibilidade, o nível dos jogadores a que conseguimos chegar será, ou bastante jovem ou com algumas componentes técnico-táticas por trabalhar. E, mais uma vez nos surge o parâmetro tempo e espaço como limitação. Mesmo que este super-scouting detecte os Platas, vai ser preciso tempo, espaço para jogar e ordem para errar até que venham a ser valores seguros, certezas no onze titular. Este tempo, esta paciência, será possível com a urgência de ganhar? Alguém aprende com centenas de pessoas furiosas a bater nos vidros de uma sala de aula? Alguém evolui com a sucessiva entrada e saída de professores? Alguém melhora, quando é expulso da sala por uma resposta errada?

Termino com uma certeza. Um scouting de gente com olhos, facilmente recomendaria que desse mais atenção a De Wit, Mitrovski, João Queirós, Paz e Miguel Luis. O que temos também é para dar valor, acarinhar e colocar antes de todos os outros. Quem termina 8 ou mais anos de formação na Academia, passou por tudo o que se possa imaginar e de uma vez por todas temos de deixar de olhar para os nossos formados, como aqueles coitados que não ganham nada nos escalões de formação. Alguém sabe quantos títulos de camadas jovens alcançou CR7, Quaresma, Nani, Adrien, etc? Alguém achou ou achará isso importante para avaliar talento individual?

*às quartas, o Zero Seis passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca. Este post sai à terça porque estava a marinar desde a semana passada