Olá, Nani! O meu nome é Madalena, mais conhecida por MaDost, e pedi ao meu pai para me ajudar a enviar-te uma mensagem.

Não percebo porque foste embora outra vez. O meu pai só me vai dizendo que foi “porque há pessoas estúpidas, para quem o futebol é feito de números e que não percebem que jogadores como tu são muito importantes” e eu, sem entender lá muito bem o que ele quer dizer, concordo com ele. Tu és muito importante e foi por isso que coloquei o teu nome, em vez do meu, nas costas da última camisola que comprei.

Sabes, lembro-me quando tu regressaste a primeira vez, tinha eu cinco anos, e te juntaste ao Rui, ao Adrien, ao William, ao João Mário e ao Slimani. Nessa época, o Sporting lançou uma caderneta de cromos só com os seus jogadores e foi a minha primeira caderneta. Tinha muito orgulho em ir às bombas de gasolina e às papelarias comprar cromos do Sporting. Uma vez uma senhora até me ofereceu três saquetas depois de eu comprar cinco, porque ela também era do Sporting, claro. Colei-te nas páginas. E colei-te nas portas do roupeiro do meu quarto, enquanto o meu pai sorria e me contava que tu tinhas vindo das escolinhas do Sporting e eras um dos nossos melhores jogadores de sempre.

Quanto te via a jogar, percebia que o meu pai estava a falar a verdade. Jogas bué, Luís Carlos! (eu gosto de chamar-te Luís Carlos de vez em quando) E festejas os golos como uma pessoa que gosta muito do Sporting e como se estivesses a dizer aos adversários “chupa!”. Nesse ano eu sabia que tu só estavas emprestado, porque ainda tinhas muitas equipas estrangeiras que te queriam e só querias voltar a casa para mostrar que aquelas coisas incríveis que fizeste no United ainda te estavam nas botas. Mas, para mim, o mais incrível foi, mesmo, dares-me a minha primeira Taça de Portugal (diz a história que já tinhas ganho outra e este ano deste-nos a Taça da Liga), dois meses antes de eu fazer seis anos! Apanhei frio, comi um cachorro que estava uma porcaria, ao jantar, deitei-me tarde e fui com sono para a escola, mas quis estar em Alvalade a receber-vos e a beber um bocadinho mais de Sportinguismo.

Quanto voltaste, este ano, o meu pai disse-me que tu tinhas voltado a casa e que vinhas para ficar até deixares de jogar. Ele estava feliz e eu estava feliz. Falámos das cuecas que ias fazer e dos cabritos e dos golos e eu já mal me lembrava de que tinham acontecido coisas más aos nossos jogadores e que os meus preferidos tinham ido embora por causa de coisas estúpidas que só os adultos estúpidos fazem. Como assobiarem-te quando tu demoras um bocadinho mais com a bola nos pés por não perceberem que tu sabes estar melhor com a bola nos pés do que os outros e tens coragem para ter a bola nos pés quando os outros não querem ter.

Este ano, logo a seguir ao Natal, fui a Alvalade para ver um treino onde podíamos levar prendas para as crianças que precisam de ajuda. Levei o meu casaco novo e levei na cabeça a ideia que o meu pai tentava apagar: ir ao relvado estar contigo e com o Dost e com o Acuña. Percebi que ele é que tinha razão (outra vez) e que nenhuma criança ia poder ir ao relvado (outra coisa de adultos estúpidos), mas, depois, tu vieste até junto da bancada onde eu estava. “Nani, Nani, Nani!”, tantas miúdas crescidas aos gritos e eu já a meio do caminho a perguntar ao meu pai com os olhos se podia descer, a esgueirar-me por onde podia até ter o que queria e deixar o meu pai sem saber se havia de sorrir se havia de ralhar, quando viu o casaco acabado de estrear e que não vou poder lavar, assinado por ti. O meu primeiro autógrafo. O Nani.

*#ZeroÍdolosoCaray é uma rubrica bem temperada que manda precisamente para o caray todos aqueles que acham que o desporto se faz de camisolas sem alma