Na última sexta-feira, o Conselho Directivo do Sporting fez algo semelhante a um resumo da sua atividade ao longo dos 6 meses da sua governação. Não foi bem aquilo que se chamou “Estado da Nação Leonina”, pois as informações foram escassas, dispersas e com uma inclinação especial por um relato de adversidades que muitas das vezes não foram acompanhadas por qualquer indicação de solução correspondente. Achei peculiarmente desmoralizador a falta de definição objetiva de um modelo que desse indicações aos sócios do caminho que será seguido nos próximos tempos.

Elencar a aposta na Academia e a predisposição para reforçar o plantel de futebol cirurgicamente é bastante insuficiente para que qualquer adepto consiga vislumbrar o grau das expectativas deste corpo directivo, tornando-se quase impossível concordar ou discordar, estabelecer alguma empatia com o que quer que seja o caminho que pretendem adoptar. Se a identificação do “all in” da anterior direcção foi um dos pontos mais fortes desta conferência de imprensa, acho que o verdadeiro “hold” feito por Varandas e seus pares, escondeu mais do que o “seu jogo”, escondeu o que pensam vir a ser o futuro próximo do Sporting Clube de Portugal.

Mas se é difícil distinguir qual é o Estado da Nação do Sporting aos olhos do CD, vou tornar mais fácil esse resumo e diagnóstico aos olhos de um adepto, neste caso, aos meus olhos.

Futebol Profissional
A equipa parece longe de ter ativos suficientes (em qualidade) para poder disputar o título de campeão nacional. Há poucas unidades de valor inquestionável, muitos jogadores em fim de ciclo e demasiadas não soluções sob contrato. Dependerá completamente de uma grande capacidade de investimento e de um scouting absolutamente certeiro a capacidade de mudar este quadro qualitativo.

A equipa técnica exibe bastantes dificuldades na leitura de jogo e na gestão de esforço dos atletas. A queda motivacional da equipa, na fase de maior desgaste da época não foi devidamente compensada, não tendo existido qualquer tipo de sucesso em projectar jogadores de 2ª linha capazes de disputar a titularidade com os previsíveis titulares. A valorização de atletas ficou muito aquém do desejável, o que exibe uma carência de trabalho individual, uma incapacidade para transpor as naturais desativações coletivas que advêm dos maus resultados.

A capacidade comunicativa do treinador principal é rudimentar o que só é parcialmente desculpável pelo uso do seu vocabulário diminuto em inglês.

Na vertente de futebol feminino, a tendência dos resultados obedece à natural perda de competitividade face ao crescimento do orçamento do principal (e por agora, único) adversário. Os reforços escolhidos não trouxeram nenhum crescimento. A inexistência de profundidade tática da equipa está cada vez mais evidente, o que responsabiliza cada vez mais o treinador.

No futsal, apesar de um início algo inconstante, Nuno Dias tem conseguido aproximar-se do padrão habitual desta equipa. Talvez ainda não seja este ano que o título europeu sorria ao nosso emblema, mas daremos luta. No campeonato, mostrámos bem no último derbie o que está ao nosso alcance fazer nos próximos meses.

Academia e Sub23
O cenário herdado tornaria muito difícil qualquer melhoria substancial. Parece evidente que este CD leva a sério o rol de infelicidades que se está a amontoar em Alcochete e talvez seja desta vez que todo o sistema desta estrutura seja profundamente atualizado. Mais até que colchões, pinturas, armários e relvados o que é vital introduzir na nossa formação é competência técnica e melhor acompanhamento da evolução transversal dos atletas.

A equipa de Sub23 tem bons ativos, alguns atletas que podem dar alegrias aos adeptos de forma devidamente programada, mas urge determinar qual o facto mais importante na valorização e trabalho com estes jovens: a identificação do seu talento, a influência do seu empresário ou a antevisão da proximidade na entrada para a equipa principal.

Modalidades
A estabilidade adoptada deixou muitas secções longe das atribulações do futebol e assim sendo, temos naturais aspirações a competir por títulos. Em algumas modalidades o reinvestimento de rivais trouxe-nos mais dificuldades, noutras a fórmula parece não estar a resultar tão bem como no ano anterior, de qualquer forma o quadro-geral parece completamente dentro dos padrões de exigência definidos pelo investimento.

Comunicação
A escolha de uma nova política de comunicação é um dos pontos mais negativos desta nova administração. A estratégia de reduzir ao mínimo as iniciativas ou repostas dos nossos dirigentes tem tido o condão de não conseguir anular nenhuma das adversidades previstas. Nem tem ajudado a pacificar o ambiente interno, nem tem conseguido estabilizar a imagem do clube. Se a definição de um novo quadro de relação com as claques é possível de elogiar (contando que não há recuos à posição do CD), a ideia de um novo relacionamento com as arbitragens tem sido desastrosa. Está completamente por provar que existe vantagem quer para o Sporting quer para a evolução do desporto em Portugal. Basicamente o Sporting está a pregar sozinho uma mudança que não exige aos restantes. A melhor definição de um mártir.

Relações Externas
É calculável que um clube que se remeta a silêncios demorados reduza a hostilidade directa e indirectamente face aos seus pares e face à FPF, Liga e demais estruturas. O problema é que também fica por entender o estamos a ganhar com esta identidade institucional.

Com a imprensa, que adora um Sporting secundarizado e a persistir como um alimentador de crises, o cenário é bastante mais saudável. Há vislumbre de algum good will por parte de meios de comunicação habitualmente hostis, mas acho que no momento em que esta Direcção adoptar alguma linha ou projecto mais vincado, que interfira com algum status quo do pântano de interesses do futebol português, de certo começará o tradicional carvão e minar da imagem dos nosso dirigentes.

Finanças
Com a pressão de dívidas a outros clubes e empresários a somar a uma tesouraria completamente sem margem o cenário financeiro do Sporting é tudo menos fácil. O Empréstimo Obrigacionista não melhorou grande coisa e a herança da Comissão de Gestão e anterior direcção está a condicionar tremendamente as opções de Varandas. Urge de facto realizar uma boa Reestruturação Financeira, tanto como urge mostrar que este quadro de responsáveis está à altura dos desafios que naturalmente estão a surgir.
Neste campo, é determinante para a sustentação deste CD exibir que conseguem empurrar o Sporting para a frente, conseguindo negociar com vantagens evidente para o clube. Novos resultados aquém do necessário (como foi o EO) podem trazer bastante desconfiança, quer dos mercados, quer dos parceiros, quer dos sócios.

Resumindo: o Estado do Adepto Leonino é…exausto e preocupado.

*às quartas, o Zero Seis passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca. Este post sai à terça porque estava a marinar desde a semana passada