Uma semana depois das notícias que anunciavam que o Sporting Clube de Portugal ia antecipar 200 milhões do contrato que tem com a NOS, chega a notícia oficial: o actual fundo de maneio é insuficiente para cobrir as despesas nos próximos 12 meses, com o clube a precisar de 65 milhões, dos quais 41 milhões até 30 de junho. Para solucionar a insuficiência vai… antecipar receitas da NOS.

Soube-se, também, que o Sporting lançou na CMVM um prospeto de admissão à negociação em mercado regulamentado de 28 milhões de euros em ações, com o valor nominal de 1 euro cada, representativas de 41,79% do capital da SAD, algo que deveria ter sido feito pela direcção anterior, aquando da fusão por incorporação na Sporting SAD da SPM, e que, agora, foi definitivamente exigido pela CMVM.

Ora, não fazendo disto aquilo que não deve ser, um drama (ao que parece, não há alteração na estrutura accionista), tenho pena que não se tenha aproveitado a conferência de imprensa para anunciar isto. Ou, vá lá, não querendo misturar águas (impossível), creio que isto merecia uma explicação de viva voz, sem rodeios e sem deixar criar as mil e uma teorias que, entre ontem e hoje, já foram postas a circular.

Chama-se a isto estratégia de comunicação, mas, não havendo, vamos ao que se sabe.

No prospeto de colocação da admissão à negociação na Bolsa de Lisboa 28 milhões de ações, correspondentes a 41,79% do capital da sociedade desportiva “leonina” e que são detidas pelo clube e pela Holdimo, o Sporting avisa que “à data do Prospeto, o fundo de maneio da Emitente e os saldos de caixa e equivalentes de caixa não são suficientes para cobrir as suas necessidades de fundo de maneio nos próximos 12 meses (saldo entre os recebimentos e pagamentos de ativos e passivos correntes), necessidades estas que se estimam em cerca de 65 milhões de euros, dos quais 41 milhões de euros até 30 de junho de 2019”.

“Estimamos que a insuficiência de recursos se manifeste no final de abril de 2019”, diz o clube liderado por Frederico Varandas.

Para fazer face a estas necessidades, a SAD pretende concluir, em março de 2019, uma operação de titularização de créditos detidos pela Sporting SAD relativos ao contrato de cedência de direitos de transmissão televisiva dos jogos disputados pela equipa principal de futebol estabelecido entre a Sporting SAD e a NOS Lusomundo Audiovisuais. “A SAD tem a expectativa que esta operação será bem sucedida, caso em que a Sociedade poderia, só com esta operação, suprir as necessidades de fundo de maneio dos próximos 12 meses”.

Esta informação consta do prospeto de admissão à negociação das ações refere que a operação abrange oito milhões de títulos detidos pelo clube e 20 milhões pela Holdimo, de Álvaro Sobrinho. Estas ações resultaram de dois aumentos de capital realizados em 2014, ambos por entradas em especie.

“A sazonalidade da atividade do Emitente resulta ainda que o último trimestre de cada época desportiva (neste caso, no período de 3 meses que terminará em 30 de junho de 2019) é o mais penalizador em termos de fundo de maneio em virtude do fim da época desportiva, com a consequente inexistência de receitas de bilhética e de pagamentos relativos ao contrato de cedência de direitos de transmissão televisiva dos jogos disputados pela equipa principal de futebol estabelecido entre a Sporting SAD e a NOS Lusomundo Audiovisuais”, explica o clube leonino.

A SAD poderá ainda, nos próximos 12 meses, realizar novas operações de financiamento, nomeadamente financiamento bancário ou emissões obrigacionistas, e obter novos patrocínios relacionados com a equipa principal de futebol, o Estádio José Alvalade ou a Academia Sporting.

A expectativa da SAD é que também estas ações sejam bem sucedidas, “embora não possa dar garantias de que as mesmas se concretizarão, em particular a obtenção de novas linhas de financiamento”.

Caso a operação de titularização não seja concluída no calendário previsto ou, no limite, não seja bem sucedida a par das demais ações previstas para se financiar a Sociedade poderá enfrentar dificuldades de tesouraria para cumprir com as suas responsabilidades.

“Contudo, a Sociedade está confiante que tal situação não se verificará pois poderá sempre, em última instância, recorrer à venda de ativos, designadamente dos direitos económicos dos jogadores de futebol de modo a satisfazer eventuais necessidades de liquidez”, diz a SAD que gere o clube.

A alienação dos direitos económicos dos jogadores de futebol como ferramenta de geração de fundo de maneio é, aliás, comum neste sector de atividade sendo recorrente na generalidade das Sociedades Anónimas Desportivas em Portugal. “Se, porém, também esta ação não for bem sucedida e não for possível alienar ativos pelos valores necessários para suprir dificuldades de tesouraria, a SAD poderá não conseguir fazer face às suas obrigações com as respetivas consequências legais que daí possam advir”

A Sporting SAD pretende que sejam admitidas a negociação na bolsa de Lisboa 28 milhões de ações, correspondentes a 41,79% do capital da sociedade desportiva. Esta operação não implica qualquer encaixe financeiro para a SAD, ou alteração na estrutura acionista. As 28.000.000 ações escriturais e nominativas, vão para a bolsa com o valor nominal de 1 euro.

Ainda em relação ao contrato do Sporting com a NOS, o mesmo ascendeu a 515 milhões de euros. “À data de 30 de setembro de 2018”, porém, o montante de receitas “até ao final” do mesmo era de “353,7 milhões, dos quais já foram descontados 44,1 milhões”, como pode ler-se no prospeto remetido à CMVM.

“Deste montante já descontado, 24,5 M€ corresponde à época desportiva 2018/19 e 19,6 M€ à época 2019/20”, acrescentam os leões, que falam de um “desequilíbrio financeiro e económico”, traduzido por um passivo corrente superior ao ativo corrente em cerca de 137 milhões de euros “no final do primeiro trimestre deste exercício”.

Ainda assim, de junho de 2013 para setembro de 2018, a dívida financeira passou de “157,9 milhões para 112,2 M€” e o capital próprio evoluiu de “119,4 milhões” negativos para “0,5 M€” positivos.